quarta-feira, 4 de junho de 2008

ODF & Brasil: exemplo de interoperabilidade e liberdade de escolha

Fico feliz em poder contribuir na divulgação de mais uma conquista brasileira suada, fruto de muitos embates políticos, jogos de interesse, resistência social e mobilização das bases. Após anos de discussão, desde o último dia 12/05/008, o padrão de documentos abertos "ODF" foi finalmente internalizado no Brasil, com sua norma publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, com a seguinte referência: NBR ISO/IEC 26300 - Tecnologia da informação - Formato aberto de documento para aplicações de escritório (OpenDocument) v1.0.

A norma na íntegra está diponibilizada no site da ABNT/NET, precisament no seguinte endereço: https://www.abntnet.com.br/fidetail.aspx?FonteID=40911.

Mas, afinal, o que isso tem de tão especial e no que nós, "pobres" mortais, somos beneficiados?

A começo de conversa, podemos ser beneficiados exigindo que órgãos da administração pública (direta e indireta) passem a utilizar documentos com padrão regulamentado pela ABNT, ou seja, o padrão aberto ODF. Com isso, estaremos garantindo a interoperabilidade e a comunicabilidade, independente do software de edição ou o do sistema operacional que as pessoas utilizarem. Isso corresponde a dizer que passamos a ter mais uma possibilidade de escolha, se queremos utilizar software livre, ou software proprietário, pago, ou gratuíto, sem ter o constrangimento de não conseguir se comunicar com o padrão comercial optado pelo governo.

Antes, ocorria que eramos constrangidos a utilizar, indiretamente, um determinado tipo de software comercial específico para podermos ter acesso a determinados tipos de documentos e conseguirmos trabalhar com eles. Agora, não! O ODF é um padrão aberto, que permite essa interoperabilidade e a comunicação. O software comercial que quiser ser lido pela totalidade de seus usuários terá que se adaptar a esta norma, e não o contrário, como acontecia no passado. Infelizmente, isso é uma realidade ainda localizada... e o Brasil é um dos pioneiros, juntamente com a Africa do Sul e com a Índia empreendem uma luta contra titãns. Brevemente, todo o restante do globo terá de optar por uma medida como esta.

E como posso fazer valer meus direitos de cidadão livre para a escolha?

Exigindo, por exemplo, que os documentos disponibilizados pelo governo brasileiro estejam no formato ODF, pois este é agora o padrão definido pela ABNT, a agência regulatória nacional para estas questões.

Por exemplo, nós que somos estudantes de qualquer grau, professores e investigadores, podemos começar a exigir que órgãos públicos como escolas, universidades e os órgãos de fomento e promoção de ciência e tecnologia no país (como a CAPES e o CNPq, p.e.), utilizem e trabalhem com documentos que utilizem o padrão ODF. Isso permitirá que sempre será possível ter acesso aos documentos, aos artigos nas bases de dados, aos relatórios de estudos, as cartas e circulares, as leis, etc... tudo que pode ser digitalizado e disponibilizados virtualmente. Quem de nós nunca teve de transformar um documento do formato do nosso editor de texto para o formato comercial PDF? Façamos agora para o formato ODF!!! E essa não é a única vantagem. Os documentos do Open Office, do Br.Office e de outros softwares abertos que não se comunicavam com os hegemónicos, por não serem lidos por estes, agora terão de ser lidos. Vai terminar essa coisa de não poder enviar um documento para o governo feito no OpenOffice por não poder ser lido pelo receptor público. O padrão aberto agora é a norma, não o comercial. Assim, ficará assegurada a interoperabilidade e a comunicabilidade, independente do software que as pessoas e as entidades utilizarem.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O que é o Virtu@l (???)

Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são.
Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga, uma salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
-Tio, dá um trocado?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, compro um para você.
Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e a boas lembranças de tempos idos.
- Tio, pede para colocar margarina e queijo também?
Percebo que o menino tinha ficado ali. - OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá?
Chega a minha refeição e junto com ela o meu constrangimento. Faço o pedido do menino, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir. Meus resquícios de consciência me impedem de dizer. Digo que está tudo bem.
- Deixe-o ficar. Traga o pão e mais uma refeição decente para ele.
Então o menino se sentou à minha frente e perguntou:
- Tio, o que está fazendo?
- Estou lendo uns e-mails.
- O que são e-mails?
- São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet.
Sabia que ele não iria entender nada, mas a título de livrar-me de maiores questionários disse:
- É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- Tio, você tem Internet?
- Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.
- O que é Internet, tio?
- É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual.
- E o que é virtual, tio?
Resolvo dar uma explicação simplificada, novamente na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha refeição, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transforma- mos o mundo em quase como queríamos que fosse.
- Legal isso. Gostei!
- Mocinho, você entendeu o que é virtual?
- Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual.
- Você tem computador?
- Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia.
- Isto não é virtual, tio?
Esperei que o menino terminasse de literalmente 'devorar' o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na vida, e com um 'Brigado tio, você é legal!'. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!

domingo, 1 de junho de 2008

Mania da Dúvida

[Eu, no túmulo de Fernando Pessoa, Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa.
Foto: Nilton Oliveira, 31.05.2008]

Neste domingo voltei a visitar o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Sempre que volto a este sítio, faço reverência ao rabugento Fernando Pessoa em seu túmulo. Uma simples lápide de pedra lisa, sem ornamentos, que contrasta com o suntuoso monumento da história dos descobrimentos portuguêses. Transcrevo, abaixo, um trecho de um de seus poemas pouco conhecidos, em inglês (com tradução na sequência). É um poema de uma metafísica magnífica. Palavras simples, porém complexas... e que traduz-me em parte. Presenteio-os:


Mania of Doubt

(Fernando Pessoa - Ms., 19-6-1907)


All things unto me are queries

That from normalness depart,

And teir ceaseless asking weares

My heart.

Things are and seem, and nothing bears

The secret of the life it wears

(...)


............................................................


Mania da Dúvida
(Fernando Pessoa - Ms., 19-6-1907)


Todas as coisas são enigmas para mim

Que nascem súbito das próprias evidências,

E suas incessantes perguntas consomem

Meu coração

As coisas são e parecem, e nada nos revela

O segredo da vida que a aparência oculta.

(...)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Briga de Titã com Anão: A Microsoft perdendo espaço para o Gnu/Linux



Alguns anos atrás ninguém diria que a titã Microsoft iria se preocupar com o anão Linux. Hoje, a realidade é bastante diferente. Em pouquíssimos anos o movimento pelo software livre, a Free Software Foundation e o Projecto Gnu/Linux inovaram tanto que começam cada vez mais a ser uma ameaça forte de concorrência. No mês passado, a Microsoft anunciou que não vai mais descontinuar a produção e comercialização do Windows XP Home a partir de Julho, como havia intencionado na época do lançamento do Windows Vista. O motivo: não quer perder a concorrência para o seu principal rival, o Gnu/Linux num determinado sector específico, o dos cada vez mais populares portáteis (Laptops/Notebooks) de baixo custo.

O avanço tecnológico tem propiciado uma corrida frenética no sentido de inovar compulsivamente, aumentando as potencialidades das máquinas disponíveis no mercado, e, consequentemente, dos softwares e aplicativos. O mercado de software é o que mais se desenvolveu, principalmente pela sua característica de desenvolvimento muito mais simplicada do que a de tecnologia de hardwares. Por este motivo, até bem pouco tempo era natural desenvolver um sistema operativo ou aplicativo pensando no hardware que estava por vir. Mesmo que o software não rodasse bem nas máquinas existentes, certamente funcionaria nas novas que seriam produzidas num futuro muito próximo.


Com a necessidade cada vez mais alargada do uso de comunicações mediadas por computadores (e-mail, sites da Internet, etc.), um computador passou a ser um item fundamental para a grande maioria das pessoas modernas, desde um estudante das séries iniciais, até um alto executivo, por outro lado, cada vez mais os usuários básicos, profissionais liberais, estudantes, políticos, etc., estão a se dar conta que para suas necessidades não é preciso o investimento em uma máquina com tanta infra-estrutura de periféricos ou capacidade de memória, e por consequência, de custo elevado. Isso pode ser verificado com o grande sucesso do EeePC, da Asus, um computador ultra portátil que possui apenas as funcionalidades mais comuns de escritório e de comunicação. Ou, também as iniciativas de vários governos, incluindo o brasileiro, de entregar a cada aluno matriculado no ensino fundamental um computador. Logicamente, quanto menor for o custo desse aparelho, mais tende a tornar-se uma realidade presente para todos.


O EeePC e os protótipos de laptops que estão sendo estudados pelo governo brasileiro começaram a ser pensados para rodar Gnu/Linux, pois seria impossível pensar naqueles parâmetros uma tecnologia capaz de rodar o Windows Vista. O Eee PC começou rodando Linux, mas agora tem também o Windows XP como opção.

Para manter sua presença nesses computadores de baixa memória, a Microsoft tinha basicamente três opções. Poderia lançar alguma variante do Windows Mobile para eles. A empresa já tentou isso no passado com o Windows CE, mas não deu muito certo. Os usuários queriam os aplicativos que rodam no Windows XP (que não rodam no CE). Outra opção era enxugar o Vista para ele rodar nesses dispositivos. Já há gente trabalhando nisso na Microsoft, mas esse é um projecto demorado e de resultados incertos. A terceira opção era prolongar a vida do Windows XP. Considerando a boa aceitação do XP no mercado, essa alternativa faz sentido.


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Isso não indica que a Microsoft vai vencer a concorrência e vai suplantar o Gnu/Linux, mas anuncia que o cerco está ficando cada vez mais fechado, e que a pequena sombra que não amedrontava o gigante já começa a determinar alterações nos planeamentos da mega-empresa e pode mesmo pré-anunciar a sua perda de hegemonia absoluta dentre poucos anos.

terça-feira, 13 de maio de 2008

13 de maio: 120 anos de uma abolição inconclusa no Brasil

Dia 13 de Maio de 2008 comemora-se 120 anos de uma abolição da escravatura incompleta no Brasil. Uma data que iniciou um novo processo de lutas por afirmação e sobrevivência de centenas de milhares de pessoas desterradas de seus países, culturas, tradições, famílias, crenças e “riquezas”. Transformados em objectos, esses homens, mulheres, velhos e crianças, foram utilizados como força motriz de uma economia colonial exploratória durante anos, levados ao limite das suas forças, até perecerem de doença ou de esgotamento físico até a morte. Os que sobreviveram a este holocausto, foram largados numa situação ainda pior, como estrangeiros em terra hostil, sem direitos nenhum, sem posses, sem casa, sem comida, sem rumo. Foram despejados nas periferias do interior, do mais profundo interior do Brasil. Sorte, na época, ainda existir um Brasil cheio de riquezas naturais, donde se podia colher de alguma forma algum tipo de sustento, e sorte este povo ser herdeiro de uma boa relação com a natureza e saber dela tirar um bom proveito, material, espiritual e afectivo, pois do contrário morreriam de míngua, de frio e doenças. Não foi-lhes facultado um teto para abrigar as cabeças, nem a preocupação do que comer no primeiro dia da “liberdade”, não eram cidadãos e por isso não podiam utilizar os hospitais das cidades. E que cidades? Estavam perdidos (literalmente, pois não sabiam onde estavam) nos sertões deste Brasil, onde nem a estrada de terra pública onde foram despejados tinham direito de pisar sem pedir permissão aos dois fazendeiros que faziam extremas de seus latifúndios imensos.
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Somos um povo mestiço, todo ele permeado de alguma parte de negritude, seja pelo cruzamento directo das raças e pelo sangue negro a correr nas veias, seja pelo sangue branco, purinho e incólume, que só corre ainda tão “puro” graças ao sangue negro derramado para retirar da terra o sustento que lhe proporcionou a permanência da vida. Mas que fazemos nós? Continuamos a negar-lhes a existência, a presença, a importância… e o holocausto. Escondemo-nos atrás de um falso mito de uma controversa “democracia racial” que, de facto, nunca tivemos.
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Neste presente momento, as iniciativas de inclusão racial e social no Brasil no campo do ensino superior contam com uma história rica e complexa, embora inconclusa, que certamente pode juntar-se ao repertório de outras notáveis conquistas ao redor do mundo. Segundo levantamentos recentes, só nos poucos anos de implantação de cotas para ingressos de alunos afrodescendentes, as universidades brasileiras que aderiram a alguma forma de cotas, assinalaram um crescimento de negros matriculados no ensino superior maior do que o que foi obtido durante todo o decurso do século XIX e XX, juntos. É um tempo em que o movimento Negro no país contabiliza algumas vitórias importantes, sublimadas, de alguma forma como acções afirmativas na expressão de cotas. Entretanto, mesmo diante de todo esse repertório de lutas e de dados, um contra-movimento, rançoso, colonialista, perverso e egoísta, se levanta tentando novamente fazer soar os grilhões tentando pressionar o Supremo Tribunal Federal no sentido de abolir os sistemas de cotas e invalidar uma conquista popular tão penosamente urdida no processo de uma democratização efectiva no Brasil.
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Neste sentido, junto-me particularmente e decididamente ao Movimento Negro num manifesto em defesa das cotas, e convido a todos os colegas de boa vontade e de boa consciência a fazê-lo, igualmente. Segue abaixo o link para o texto do manifesto e a forma como aderi-lo on-line.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

The it crowd! Aren't you?


Quem já não foi ao cinema, ou pegou um DVD no videoclube e não teve de assistir o vídeozinho de introdução, contra a pirataria?

Estes vídeos acabam por nos fazer acreditar que ao fazer uma cópia ou baixar uma música ou um filme na Internet somos os maiores criminosos. Sequer entram no mérito da questão do roubo milionário que efectuam os produtores hollywoodianos e a indústria fonográfica.

Gostei da sátira muito bem urdida que está a circular na Internet, uma contra-campanha bem humorada e crítica.

Assista "The IT Crowd" e dê boas risadas.

Vulnerabilidade na Internet: cuidado com os "cross-site scripting"


A disputa pelo poder sempre foi o elemento que mais incentivou a criatividade e o desenvolvimento. Infelizmente, grande parte das inovações é utilizada para a burla, para a concorrência desleal, para a fraude, para o roubo. O uso de tecnologias de comunicações mediadas por computador é um campo fértil para tais práticas, uma vez que oferece suporte tecnológico e possibilidades de manipulação em série. Os “crackers” (não os hackers!) dispõem da mão-de-obra que passa a ser utilizada na corrida concorrencial, de exploração e de dominação.


O pesquisador de segurança Harry Sintonen mostrou uma sequência de ataques utilizando cross-site scripting. Depois de ataques que ocorreram no site do candidato à presidência dos EUA, Obama, agora foi a vez de Hillary Clinton provar de uma vulnerabilidade que levou sua URL a abrir o site do seu adversário.


Injetaram no site de Clinton (votehillary.org.) o conteúdo de Barack Obama como mostra a imagem acima. Embora as falhas tenham sido exploradas de modo a inverter e a cruzar conteúdos e endereços, Sintonen alerta que os cross-site scripting podem ser utilizados de modo mais perigoso. Pode inclusive afectar o sistema de contribuições financeiras pela Internet.


terça-feira, 29 de abril de 2008

Ubuntu: Tecnologia para Seres Humanos


Muita gente reclama que gostaria de experimentar a usar Software Livre, ter um computador livre, mas não sabe por onde começar. Assustam-se com o medo antecipado de deparar-se com uma plataforma que não esteja totalmente gráfica. Isso é coisa do passado. A última versão do Ubuntu está tão boa e gráfica, quanto muitos softwares proprietários disponíveis no mercado. Ah! E não se pode esquecer de salientar o detalhe, não está no "mercado", pois é completamente gratuíto.

Uma dica, para quem quer começar a trabalhar com o Linux, e operar com um sistema operativo totalmente livre e com uma filosofia maravilhosa, pode iniciar com o Ubuntu. Eu, particularmente iniciei e continuei. Até hoje uso o Ubuntu, promovo, divulgo e recomendo.

O que é o Ubuntu?

"Ubuntu" é uma antiga palavra Africana, cujo significado é "humanidade para todos". Ubuntu também quer dizer "E sou o que sou devido ao que todos nós somos". A distribuição Ubuntu Linux traz o espírito do Ubuntu ao mundo do software. O Ubuntu é um sistema operativo completo baseado em Linux, livremente disponível, com suporte tanto da comunidade quanto profissional. É desenvolvido por uma vasta comunidade e nós convidamo-lo a participar também!




A comunidade Ubuntu está fundada nos ideais consagrados no manifesto Ubuntu segundo o qual: .
as aplicações informáticas devem ser disponibilizadas de forma gratuita, que as aplicações deverão ser usadas por qualquer pessoa independentemente da sua linguagem materna e todas as pessoas devem ter a liberdade de alterar e personalizar qualquer aplicação de modo a obterem o que elas necessitam.
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Por estes motivos:
    .
  • O Ubuntu será sempre gratuito e não existe custo extra para a "edição empresarial" nós disponibilizamos o nosso melhor produto sob os mesmos termos de Liberdade.

  • O Ubuntu vem com suporte profissional em termos comerciais de centenas de companhias em todo o mundo, se precisar desses serviços. Cada versão do Ubuntu recebe actualizações de segurança durante 18 meses depois de cada lançamento, algumas versões são suportadas por mais tempo.

  • O Ubuntu inclui a melhor infra-estrutura de suporte a traduções e acessibilidade que a comunidade de aplicações informáticas livres ("Free Software") tem para oferecer, de modo a tornar o Ubuntu utilizável pelo maior número possível de pessoas.

  • O Ubuntu é lançado de modo regular e previsível; todos os seis meses é lançada uma nova versão. Pode utilizar a versão estável corrente ou a versão que está actualmente em desenvolvimento. Cada versão é suportada, pelo menos, durante 18 meses.

  • O Ubuntu é totalmente aderente ao princípio do desenvolvimento de aplicações informáticas livres; encorajamos as pessoas a usar aplicações informáticas de código fonte aberto, a melhorar essas aplicações e a disponibilizarem-nas a outras pessoas

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Saiba mais visitando as páginas do Ubuntu Brasil e Ubuntu Portugal

Se depois de ler, inteirar-se e ficar convencido que vale la pena testar o Ubuntu, faça pela maneira mais simples`, utilize um CD-Rom, conforme as instruções e dê boot no sistema pelo CD-Rom Drive e utilize as principais funcionalidades de todo o sistema operacional.

Se resolver instalar o Ubuntu no seu computador, num sistema dual-boot, ou seja, de duas inicializações, para ter o Windows e o Linux, minha sugestão é instalá-lo à partir do Windows, se este já estiver a operar, através de um programinha que pode ser baixado, muito leve, e que faz todo o processo em modo gráfico, cria uma nova particão de forma segura no seu disco rígido para alojar o Ubuntu, e instala o sistema reconhecendo todos os perifèricos de seus computador. Utilize para isso o WUBI.




Esse dispositivo tem suporte de idioma para Português Standard (Portugal) e Português Brasileiro. Escolha o idioma, identifique um utilizador (tudo em minúsculas), introduza uma senha e depois o instalador fará tudo sozinho. Fique tranquilo, é estremamente seguro. Caso se arrependa (que espero nãoa contecer), poderá sempre desinstalar o Ubuntu pelo Windows no menu Adicionar/Remover programas.

Experimente!

Rapidinha! UNESCO e FSF


A UNESCO tem um portal sobre Software Livre, onde estão disponíveis vários relatórios e estudos relevantes para quem tem interesse pela questão.

Os aderentes do movimento software livre tem neste sítio um excelente acervo de dados e links úteis.

A ver:

e também:

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Prioridade para inclusão digital: os parlamentares brasileiros a apostar na Sociedade da Informação

[Inclusão digital de crianças através dos Telecentros - Foto: Adalto Guesser]

Outro dia, ao ouvir noticias da Câmara dos Deputados, através da Rádiobras, pela Internet, ouvi que deste mês em diante, projectos que tratem da inclusão digital e da convergência tecnológica estarão entre as prioridades da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, do Congresso brasileiro, que desde 4 de Março tem novo presidente, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA). Para mim, que luto constantemente com relação a estas questões, foi uma notícia reconfortante, afinal, parece que nossas pressões estão a começar a surtir algum efeito.

A notícia adiantava que o novo presidente da Comissão C&T, Deputado pelo Partido dos Trabalhadores do Estado da Bahia, Sr. Walter Pinheiro, considera que é preciso levantar e discutir quais são as ferramentas de inclusão digital disponíveis no país e trabalhar pela democratização do acesso a esses recursos. Para levar adiante esses projectos, ele considera fundamental a liberação de recursos de fundos como o Funttel (Fundo Tecnológico das Telecomunicações), o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações e também o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), na expectativa de permitir a consolidação de serviços essenciais, como o e-gov (governo electrónico). Aliás, sempre é assim, uma vez que existem fundos, levantam-se sempre ardilosos arquitectos a planear formas de gastá-los. Vamos a ver se de forma justa e digna, de acordo com os princípios para os quais foram criados, ou para atender interesses particulares, como tem ocorrido com frequência.

De qualquer modo, toda essa movimentação já não era sem tempo. Parece que finalmente o Congresso brasileiro começa a acordar para uma urgência urgentíssima de nosso tempo actual. De facto, hoje quase todos os lares brasileiros têm televisão, mas não têm computador. Mas também não adianta ter computador se ele não tiver uma conexão à Internet. É a Internet que permite a conexão com o mundo cibernético, com os conteúdos digitais, com os serviços, com as informações, etc. O Brasil já é um dos países que mais acede à rede Internet no mundo, porém é um dos países com a menor malha de rede per capta e com uma largura de banda muito baixa, impondo dificuldades para a exploração de grande parte dos recursos disponíveis no ciberespaço. Portanto, disponibilizar os recursos dos fundos é uma medida importantíssima, desde que seja para, de facto, promover o acesso às tecnologias e aos meios de mediação (computadores, infra-estruturas de redes, brateamento de custos, etc.).

A sociedade brasileira, através dos movimentos sociais e da articulação da sociedade civil organizada, deve ficar de olho, controlar e fiscalizar os recursos desses fundos e ver se a aplicação desse dinheiro público não está sendo canalizada para os interesses de grandes corporações e lobbies que utilizam as demandas sociais como fachada para arrecadar rendimentos garantidos. No passado, grande parte dos recursos do Fust foi desviado para actividades duvidosas, embora tivessem uma roupagem de desenvolvedoras de tecnologia. Enquanto o governo lançava editais dirigidos e queimava recursos, empresários ligados aos governistas se apropriavam de somas consideráveis para alavancar seus projectos empresariais, sem a mínima preocupação de
conjunto, sem ter por trás um grande projecto articulado e orientado para um fim determinado que pudesse ser controlado. O risco desse erro, não podemos mais correr.

Vamos acreditar que as intenções do Deputado Walter Pinheiro sejam, de facto, as melhores e que estejam a caminhar de encontro com as expectativa da sociedade brasileira e suas necessidades prementes de ingresso nessa era digital. Entretanto, vamos nós, cidadãos brasileiros, interessados e preocupados com essas questões fundamentais para a educação e para o desenvolvimento cultural de nosso país, marcar bem esse nome, acompanhar as decisões desta comissão parlamentar e estar atentos aos avanços desses projectos no futuro breve.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Transgénicos: Portugal na linha do terrorismo

[Milho transgénico: grãos uniformes, coloração uniforme, lucro uniforme, saúde (???)]

Tempos atrás, o sociólogo e, por acaso meu orientador de tese, Boaventura de Sousa Santos, ao escrever um artigo de opinião, tratou da questão do terrorismo, delineando que, sobre ele, existem dois discursos, um conservador, e um progressista. De certa forma, a ambiguidade dos termos e conceitos é uma característica típica das sociedades democráticas, onde a aceitação e o favoritismo de determinada questão é confrontada com a sua oposição e desprestígio. Isso, não é de todo uma coisa ruim, uma vez que vivemos em sociedades plurais e o onde é almejado o respeito pela diversidade intercultural, ideológica, política e religiosa como fundamentos limítrofes entre a democracia e as suas antíteses.
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A questão colonial mal resolvida do problema da pluralidade, ainda existente em nossas sociedades democráticas, é o peso opressor da versão dominante. Em geral, o pensamento hegemónico costuma-se impor de forma violenta, produzindo cosmologias justificadoras, não-existências(1), naturalizações e generalizações. No caso do terrorismo, como afirma Boaventura, o que é específico é “apenas o facto de o discurso conservador ser completamente dominante” (2).
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Acontece que, ao produzir uma cosmologia dominante e generalista, esta forma tipicamente colonial de produção de ideias nega o debate acerca dos temas de interesse colectivo, impondo perspectivas unilaterais, via de regra utilizadas como argumentos para justificar interesses específicos dos poderes dominantes. Isso acontece actualmente com a definição de terrorismo.
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Corre solto nos meios de comunicação hegemónicos a promoção de definições frouxas, pouco elaboradas de terrorismo, presentes nos discursos de líderes políticos, intelectuais, analistas políticos, etc. Nas palavras de Santos,

“Eis os traços principais deste discurso: “terroristas” são terroristas, ou seja, as definições oficiais de terrorismo são as definições “naturais”, óbvias; o terrorismo nunca teve êxito; os terroristas são nossos inimigos e como tal devem ser tratados: a sua violência deve ser enfrentada com a nossa violência; tentar compreender o terrorismo para além deste quadro é ser cúmplice com ele” (idem, 2).

Raramente acontecem análises bem fundamentadas, onde uma reflexão jurídico-política sobre a natureza do que é o terrorismo é avançada como critério primeiro para a posterior utilização da definição. Conforme estabeleceu o próprio Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o país que se especializou em definir este termo, o terrorismo é:

“um tipo muito específico de violência, apesar de o termo ser usado para definir outros tipos de violência considerados inaceitáveis. Acções terroristas típicas incluem assassinatos, sequestros, explosões de bombas, matanças indiscriminadas, raptos, linchamentos. É uma estratégia política e não militar, e é levado a cabo por grupos que não são fortes o suficiente para efectuar ataques abertos, sendo utilizada em época de paz, conflito e guerra. A intenção mais comum do terrorismo é causar um estado de medo na população ou em sectores específicos da população, com o objectivo de provocar num inimigo (ou seu governo) uma mudança de comportamento" (3).

Outras definições clássicas avançam no mesmo sentido. Porém, uma linha atravessa todas essas versões: a ameaça à integridade da vida e da pessoa humana. Um acto terrorista é sempre uma violência contra a integridade e à vida das pessoas. Uma intimidação a partir de uma violência contra a pessoa humana.

No último no "Relatório sobre a Situação e Tendências do Terrorismo na União Europeia" (UE), publicado pelo Gabinete Europeu de Polícia (Europol), relativo a 2007, uma acção ambientalista contra a produção de alimentos geneticamente modificados (transgénicos), no Algarve português, em Fevereiro do ano passado, foi classificada como acção terrorista [ver notícia]. De facto, existe uma preocupação larga em difundir um conceito específico de terrorismo, o “terrorismo ecológico”, e isso não é novidade. Acontece que, segundo as definições acima apresentadas, a acção ecológica de Silves, em Portugal, não teve nada próximo a um acto terrorista, por não ter executado nenhum tipo de atentado e uso de violência física, e sim uma manifestação de carácter ideológico (ecológico) e político (contra monocultura agrícola monopolista). Ocorreu sim, a destruição de uma plantação agrícola e isso pode ser entendido como atentado violento contra a propriedade, não contra o proprietário ou grupo de pessoas. Foi, portanto, um acto civil que lesou uma propriedade civil e como tal, pode ser julgado. É, no mínimo ridícula a alegação de terrorista, descartada até mesmo pela avaliação do próprio agricultor afectado.

Enfim, independente dos contornos definitórios ainda em aberto, o termo terrorismo está cada vez mais sendo utilizado como meio de justificação de interesses hegemónicos, com o auxílio dos meios de comunicação comprometidos com tais interesses. Em geral, jamais é admitido a possibilidade de considerar como terrorismo o acto da manipulação biológica efectuado indiscriminadamente por grandes empresas de produção de sementes, os riscos e a ameaça para o ecossistema, nada disso é entendido como terrorismo, apesar de ser violência “imposta” a toda uma sociedade. Já a acção de resistência dos povos sim, que em qualquer teoria democrática legítima figura como um direito natural a ser respeitado, este sim, é transmutado numa violência inconcebível e inquestionável, pois viola o direito “naturalizado” da propriedade individual. Muitas críticas aqui poderiam ser feitas, mas apenas para terminar, ratifico minha opinião que, nas democracias ocidentais modernas, o povo tem o único direito reservado de “obedecer”, e quando isso não ocorre por meio da resistência, em seguida formula-se um meio de opressão. Na actualidade, o terrorismo justifica a opressão policial legítima. Dá o que pensar!


Notas:

(1) Entendo por “não-existência” todo processo que oculta realidades consideradas irrelevantes ou que são contrárias aos interesses hegemónicos. Na questão colonial, a produção de não-existências deu-se de forma deliberada e frequente, negando,ocultando e ignorando a existência do “outro”, do diferente, do subalterno como actores e factos dignos de serem considerados, reconhecidos e respeitados.
(2) SANTOS, Boaventura de Sousa. Terrorismo: dois discursos. Artigo de opinião publicado na Revista Visão, em 21/07/05, acedido em 13/04/2008, in: http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/135.php.
(3) Fonte: Wikipédia, acedido em 14/04/2008, in: http://pt.wikipedia.org/.

domingo, 13 de abril de 2008

O país que se considera o mais livre do mundo é o recordista em prisões (e prisões Negras)

É estarrecedor o dado de que a população de presidiários dos EUA chega a uma proporção de praticamente 1 a cada 100 habitantes. Segundo dados publicados pelo The New York Times, resultados de um estudo realizado pelo Pew Researcher Center, a população dentro das prisões cresceu em 25 mil no ano passado, criando um total de 1.6 milhão. Outras 723 mil pessoas estão em cadeias locais. O número de adultos americanos é de cerca de 230 milhões, ou seja, precisamente, um em cada 99,1 adultos está preso.

Os índices de prisão são ainda maiores para alguns grupos, reflectindo uma realidade que vai além da questão criminal, açambarcando um campo delicado para o "país das liberdades e da igualdade". Um em cada 36 hispânicos adultos (os imigrantes mais comuns nos EUA) está atrás das grades. Entre os homens, um em cada em cada nove negros entre 20 e 34 anos está preso.

O relatório, feito pelo Pew Center, também descobriu que apenas uma em cada 355 mulheres brancas entre 35 e 39 anos está presa, assim como uma em cada 100 negras também.

A metodologia do relatório se diferenciou do usado pelo departamento de Justiça, que calcula o índice de pessoas presas usando a população total ao invés da população adulta como denominador. Com a metodologia do departamento, cerca de um em cada 130 americanos está preso.

Esses números alarmantes são o resultado da guerra às drogas dos anos 80. Em 1988, uma pesquisa mostrou que dois terços dos americanos aceitavam abrir mão de parte de sua liberdade se fosse esse o preço da vitória contra o crime. De lá para cá a criminalidade caiu rapidamente. Em todo o país, os índices de criminalidade voltaram aos números dos anos 60. Mas, nem por isso a população carcerária tende a cair. Como o uso de drogas cresce entre os jovens, e com as penas de prisão obrigatórias para quem é pego com drogas, a a superlotação das cadeias está garantida.

Nos anos 80 acreditava-se que o Crack era uma epidemia que ameaçava o país. Entre 1985 e 1995, o número de negros presos por drogas cresceu 707% contra 306% entre os brancos. Segundo o departamento de Justiça, 8,3% dos jovens negros entre 25 e 29 anos estão na cadeia contra 0,8% de brancos da mesma faixa etária. O encarceramento dos jovens negros agrava o problema do desemprego crónico nos guetos. Dificilmente um jovem que passou alguns anos na cadeia consegue emprego.

Os negros são apenas 12% da população americana, mas representam 60% dos condenados por uso ou tráfico de drogas. O departamento de Justiça prevê que no ano que vem os negros presos serão 1,43 milhão, ou seja, 70% de toda a população carcerária. As penas de prisão para os negros são mais longas. Nos crimes de estupro, por exemplo, verificou-se que em média os presos negros cumprem penas de 70 meses contra 56 para os estupradores brancos. Por qual motivo objectivo? Por serem negros! Está na pele.

A guerra às drogas iniciada nos anos 80 multiplicou os presídios, mas não reduziu o uso das drogas. Da população acima de 12 anos, 33% já usou Cannabis, a droga mais popular. Entretanto, o consumo dessa droga nunca ultrapassou 0,5% da população. Agora os governantes reconhecem o fracasso dessa guerra e buscam novas alternativas. Mas o encarceramento maciço da população dos guetos continua e ameaça agravar os problemas sociais das grandes cidades americanas.

Esta não é uma questão que pode ser lida apenas pelo vies da criminalidade. Este factor serve apenas para justificar interesses escusos que nunca são claramente apresentados. A crescente privatização do sistema prisional americano faz com que interesses lobistas de empresários do sector não permitam que os Senadores Congressistas americanos aprovem leis mais brandas e políticas alternativas para o combate ao uso de drogas e a criminalização no país. Para estes, o inchamento dos presídios é sinal de lucro garantido, uma vez que o custo é pago pela população, através do governo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Mimo Pernambucano: A prova!


Outro dia postei neste blog um comentário intitulado “Mimo pernambucano” [ver post]. Falava de um tal “Bolo de rolo”, uma iguaria de doçura incomparável, simplesmente divino, tipicamente daquela região deste Brasil enorme e cheio de especificidades.

Falei do povo que não se cansa de oferecer mimos, que é receptivo, carinhoso, amável, zeloso... e, passado alguns dias, recebi hoje, pelo correio, a prova de que não estou a apenas falar por falar. Recebi uma caixa pelo correio, vinda directamente do Recife, cheia deste bolo de rolo. Um presente significativo e sem igual. A originalidade da surpresa diz mais do que o conteúdo, que por si só, dispensa qualquer comentário adicional.

Foi tão bom ver, no meio de tantas correspondências de trabalho, contas a pagar, extratos de banco, etc, um carinho tão especial como este, tornou-me o dia mais gostoso, mais doce. De facto, o amor transforma as coisas e o mundo. Na minha experiência de vida quotidiana, tenho sentido a transformação operada por estes pequenos e significativos "atos de amor".

Eu, de minha parte, como sou dengoso e adoro receber mimos, vou continuar a postar a minha série gastronómica e esperar ver se recebo também os acarajés da Bahia, os pasteizinhos de angu, de Minas Gerais, o strudel de Santa Catarina, etc...

É preciso prova maior que esta????

Obrigado pernambucanos maravilhosos, é desta cultura da partilha e do cuidado que o mundo necessita para superar esta decadente e desumana ordem capitalista.

Beijo no coração de todos vocês, em especial do Nilton e da Dona Luci.


terça-feira, 8 de abril de 2008

Malicious Software: hoje foi o dia do caçador!

[Há que se inventar um preservativo eficaz]

Hoje, passei o dia quase inteiro em função de dar manutenção ao meu computador. Apesar de todos os cuidados e dos conhecimentos que tenho, pois frequentemente estou a dar cursos para difundir a “Cartilha de Segurança para a Internet”, produzida por nós no Comité Gestor da Internet do Brasil, fui pego de sobressalto com a infecção do meu portátil com um malware.

Código malicioso, em português, ou malware (malicious software), em inglês, é um termo genérico que abrange todos os tipos de programas especificamente desenvolvidos para executar ações maliciosas em um computador. Alguns exemplos de malware são os vírus, os worms (vermes) e bots, os backdoors, os cavalos de tróia (trojans), os keyloggers e spywares, e, os rootkits.

No meu caso particular, o malware que infectou a máquina é conhecido por muitos nomes. O nome do ficheiro principal é wintems.exe e tem os "auxiliares" hidr.exe e srosa.sys (possivelmente outros mais). Ele também é chamado de Bagle, ou Beagle.

Este simples código, que entrou em meu computador por alguma vulnerabilidade de segurança que ainda não consegui identificar, pode roubar senhas e informações pessoais, desabilita quase todos os antivírus e anti-spywares e impede que o sistema reinicie em Modo Seguro. Ele infecta a máquina com 4 ou mais arquivos e causa uma dor de cabeça sem tamanho. Deixa a máquina super lenta, desconfigura a função wireless e uma série de outros estragos que vão se acumulando, até o ponto de não ser mais possível recuperar os ficheiros e sermos obrigados a reinstalar o sistema. Não, sem antes ter causado danos, inclusivamente, ao hardware, danificando clusters do HD. Não é à toa que é chamado no ciberespaço de “praga”.

Bom, como é um problema muitas vezes silencioso, e como a maioria dos usuários comuns não consegue detectar este tipo de problemas no início, resolvi partilhar a solução, uma vez que, como disse anteriormente, perdi quase um dia inteiro na tarefa complexa e morosa de tentar reparar a máquina, e quase ficava sem sucesso. Graças a cultura da partilha, da Internet, encontrei a solução num fórum em inglês, onde um colega espanhol apresenta um programa bastante leve, capaz de remover o malware sem a necessidade de maiores danos para a máquina.

Descrevo abaixo os passo a serem seguidos:

  1. Baixe o programa (em espanhol) chamado EliBagle (possui apenas 45 KB)
  2. Instale-o no HD (hard disc – disco rígido). Demora pouquíssimos segundos.
  3. Rode o programa e verifique os HD´s de sua máquina em busca de spywares. Pode ser que ele peça para reiniciar o sistema, dependendo do caso. Reinicie e deixe o programa escanear o HD.
  4. Reinstale os sistemas de segurança que foram avariados, o anti-vírus, o anti-spyware, o firewal. Você pode testar e verá que o sistema Windows voltará a funcionar em Modo Seguro.

Falando, falando, e tentando ser compreendido: continuando o diálogo

Abaixo, transcrevo a resposta que formulei ao amigo Nilton ao seu comentário do post "Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!"


Caro (professor) Nilton:

Concordo consigo em considerar um texto um evento comunicativo. Meu interesse pelo “texto” é o de utilizá-lo como dado para análises sociais de factos concretos. Procuro compreendê-lo dentro deste universo de produção, transmissão e registro de comunicações, com a finalidade de obter, no conjunto de um discurso (conteúdos e continentes) extremamentes diversificados, não só os significados, mas, sobretudo, os significantes de uma comunicação. Neste sentido, o meu interesse pelos textos é conseguir retirar as mensagens nesta conjunção de significados e significantes, procurando inseri-las num contexto social, como produto/produtora de acções (ou factos) sociais.

Para tanto, não me prendo essencialmente às preocupações específicas da lingüística enquanto interesse científico determinado. Utilizo a lingüística de modo transversal. Poderia dizer, utilizando a sua preferência epistemológica, que parto de uma abordagem de cunho transdisciplinar. Digo isso, porque muito mais do que realizar uma colaboração interdisciplinar de áreas de conhecimentos distintos, acabo por realizar uma coisa nova, uma nova disciplina, se bem desejarmos denominá-la. Se assim for, denominá-la-ia de “análise de conteúdo”, uma área de produção de estudos com certo acúmulo de produção e que hoje serve como ferramental metodológico para diferentes ciências que estudam campos sociais e suas interacções sociais baseadas na comunicação. Posso destacar, desde as ciências sociais, as ciências da comunicação, as ciências políticas, bem como determinadas áreas das ciências médicas, tais como a saúde colectiva, saúde pública, administração pública de saúde, etc., áreas da psicologia clínica e principalmente social, e, acredito que também o seu campo específico particular, o da Terapia Ocupacional, dentre muitas outras.

Tais disciplinas relacionadas com a linguagem, que me citas no teu texto, encontram-se presentes em meu trabalho, em determinados momentos, pois o conteúdo envolve, indirectamente, uma análise do discurso. Entretanto, não é a linguística em si, nem a lexicologia, nem a semântica, nem a análise do discurso que me interessam separadamente. Todos esses campos são importantes e estão presentes de alguma forma, utilizados como meios de atingir uma análise mais ampla, a que chamo de análise de conteúdo.

Neste sentido, quero apenas ratificar a distinção fundamental proposta pelo pai da linguística, F. Saussure, entre língua e fala, pois vejo que marca a diferença e torna minha explicação compreensível. Para este autor, o objecto da lingüística é a língua, ou seja, o aspecto colectivo e virtual da linguagem, enquanto que o da análise de conteúdo é a fala, isto é, o aspecto individual e actual (em acto) da linguagem. A linguística é um estudo da língua, a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades através das mensagens.

Trocando em miúdos e utilizando uma metáfora do próprio
Saussure, a do jogo de Xadrez, segundo ele, a linguística não procura saber o que significa uma parte, ao contrário, tenta descrever quais as regras que tornam possíveis qualquer parte. Nesse sentido, podemos dizer que, enquanto a linguística estabelece o manual do jogo da língua, a análise do conteúdo tem o objectivo de compreender os jogadores ou o ambiente do jogo num momento determinado, com o contributo das partes observáveis.

Ufaaaaa! Nossa, não contei as palavras das minhas frases. Será que ultrapassei demais as 15? Será que falei, falei, e não disse nada? Bom, isso é só um treino. "Quem não começa perdendo, não termina vencendo".

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!

A capacidade de memorização de um sujeito médio, é, aproximadamente de 15 palavras por frase, num escrito" (*1)

Hoje descobri o “palmo” (empan). É uma medida que determina a capacidade de um sujeito médio memorizar palavras lidas. Segundo os expertos no assunto, um sujeito médio (não especificam o que é esse sujeito médio) consegue memorizar, aproximadamente, 15 palavras por frase. Mais que isso, as ideias começam a ficar baralhadas e a concentração exigida é muito maior.

Por isso, os textos jornalísticos são laboriosamente cuidados para serem escritos de forma a não cansar o leitor, visando à objectividade da mensagem a ser transmitida. As mensagens publicitárias, também. Quanto mais curtos forem os períodos, melhores.

Parece ser uma coisa amplamente difundida no senso comum, um conhecimento que sabem todos. Só não sabem disso os intelectuais. Tenho tido de ler cada texto cansativo, prolixo, confuso. Quando comecei a ler Pierre Bourdieu, detestava-o, pois não o compreendia, perdia-me completamente na leitura. Quando terminava a frase, já não sabia o que a tinha iniciado. Por isso, criei certa resistência a este autor. Passado algum tempo, forçado a lê-lo por conta do curso, comecei a percebê-lo e a “gostar”. Então, passei a culpar a tradutora dos livros do francês para o português. Ao chegar a Portugal, e na ausência de livros traduzidos, tive de recorrer aos originais em francês. Então, percebi a dupla dificuldade. Não era nada por conta de tradução mal feita, era sim pela escrita mal urdida.

Oxalá, eu aprenda a escrever de forma clara e objectiva e que possa ser compreendido pelos meus leitores, sem vir a incorrer no erro da herança intelectual sociológica. Por isso, faço uso desse blogue, para poder treinar a escrita e receber as críticas dos leitores. Não são muitos os críticos, mas, de vez em quando aparecem.

(*1) In BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, p. 79.

domingo, 6 de abril de 2008

Construindo um hipertexto sobre Ciência e Modernidade

[Praia de Vigo, Espanha - Pôr do Sol 25/09/2004 - Foto by: Adalto Guesser]

Nos últimos dias tenho procurado refletir sobre um tema cada vez mais presente em minha vida. A Ciência, a Modernidade, e suas relações com o mundo das coisas e dos seres. Depois de ter aceitado voluntariamente e conscientemente que o mundo é constituído por seres humanos e não-humanos, cabe refletir sobre algumas questões. Não consigo formular, ainda (nem sei se um dia conseguirei), uma teoria capaz de dar sentido geral para tantas incertezas. Do que estou a ler e reler, proponho o hipertexto que se segue, feito pela junção de pensamentos racionais de homens de realidades e ocupações diferentes, cujo final, ..., ah, sim, o final... esse, fica em aberto, pois como digo frequentemente, quando não consigo explicações racionais para o mundo em que vivo, fujo para as artes, para a literatura, a música, os poemas, as cores, os sons.

Sciencia

Considerar a sciencia como valendo em si alguma cousa é fazer metaphysica.
A sciencia só vale humanamente, só como útil para a vida humana. Em si (por razões já expostas) não vale nada porque o conhecimento scientífico é puramente relativo[.]
(Fernando Pessoa [*1])

Ciência moderna

Os pressupostos metafísicos, os sistemas de crenças, os juízos de valor ão estão antes nem depois da explicação científicada natureza ou da sociedade. São partes integrantes dessa mesma explicação. A ciência moderna não é a únicaexplicação possível da realidade e não sequer qualquer razão científica para a considerar melhor que que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte ou da poesia. A razão por que privilegiamos hoje a forma de conhecimento assente na previsão e no controle dos fenômenos nada tem de científico. É um juízo de valor. A explicação científica dos fenômenos é a auto-justificação da ciência enquanto fenômeno central da nossa contemporaneidade. A ciência é, assim, autobiográfica. (Boaventura de Sousa Santos [*2])

Ruptura moderna

A ciência moderna nasceu de uma ruptura brutal em relação à antiga visão de mundo. Ela está fundamentada numa idéia, surpreendente e revolucionária para a época, de uma separação total entre o indivíduo conhecedor e a Realidade, tida como completamente independente do indivíduo que a observa. (Basarab Nicolescu [*3])

Universalidade da modernidade

A modernidade pertence a essa pequena família de teorias que simultaneamente se declara e se deseja de aplicabilidade universal. O que tem de novo a modernidade (ou a ideia de que a sua novidade é um novo tipo de novidade) decorre desta dualidade. para além de tudo o que criou, o projecto iluminista aspirou a criar pessoas que, post festum, viessem a querer ser modernas. Essa ideia que em si próprias se consuma e se justifica provocou muitas críticas e muita resistência, tanto na teoria, como na vida quotidiana. (Arjun Appadurai [*4])

Jamais fomos modernos

Posso agora escolher: ou acredito na Constituição moderna, ou então estudo quanto o que ela permite quanto o que proíbe, o que ela revela e o que esconde. Ou defendo o trabalho de purificação - e me torno também um purificador e um vigilante da Constituição - , ou então estudo tanto o trabalho de mediação quanto o de purificação, mas então, deixo de ser realmente moderno. (Bruno Latour [*5]).

E agora José, Maria, Boaventura, Latour, Adalto, ...

Et quid nunc, Ioseph?
Festum est finitum,
lumen est exstinctum,
cuncta evanuit turba,
nox est frigefacta,
et quid nunc, Ioseph?
et quid nunc, et tu?
Qui nomen non habes,
qui alios derides,
qui versus componis,
qui amas, reclamas?
et quid nunc, Ioseph?
(Carlos Drummond de Andrade [*6])

[*1] In LOPES, Teresa Rita. Pessoa Inédito. Lisboa: Livros Horizonte, 1993, p. 409.
[*2] In SANTOS, Boaventura de Sousa Santos. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1987, p. 52.
[*3] In NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdiciplicaridade. São Paulo: Triom, 2001, p. 17.
[*4] In APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da Globalização. Lisboa: Teorema, 1996, p. 11.
[*5] In LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2000, p. 50.
[+6] In BÉLKIOR, Silvia. Ioseph. Tradução para o latin de "José", poema de Carlos Drummond de Andrade, disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/drumml07.html, acedido em 06/04/08).

terça-feira, 25 de março de 2008

É mais fácil transformar uma lanhouse em escola do que transformar uma escola em escola


A frase da semana, que está dando o maior debate, foi destacada pelo amigo Sérgio Amadeu, proferida pelo Claudio Prado: "É mais fácil transformar uma lanhouse em escola do que transformar uma escola em escola".

O burburinho de corredor já se formou. De fato, não é uma realidade facilmente aceita por todos, basta lembrarmos de que muitos importantes nomes mundiais da atualidade ainda são bastante temerosos da Internet [veja comentário deste blog, publicado em 27/11/2007].

Eu, particularmente, sempre defendi o potencial emancipatório das redes, e, dentre todas elas, a rede das redes, a Internet. O ciberespaço possui todos os elementos para ser e para fazer-se escola. Não poderia ser diferente, se o virtual é o espelho recriado da sociedade real, torna-se imprescindível torná-lo conhecido, estudado e explorado. Para isso precisamos de infra-estrutura de redes, de tráfego de alta velocidade, de equipamentos modernos e de softwares com filosofias inclusivas, precisamos, em outras palavras, de “inclusão digital”.

É fácil? Não, é! É uma tarefa complexa e cara. Porém, como a primeira, esta segunda frase é simples, dura e plena de significado: “Se você acha a educação cara, experimente a ignorância” (Dereck Bok). Isso apenas para lembrar que, se desejamos justiça cognitiva e justiça social, temos de começar a nos mexer urgentemente no sentido de acelerar o processo de inclusão digital em nosso país. As ações do atual governo estão sendo inovadoras e audases, mas se não houver participação cidadã, poderão ser barradas nas burocracias legislativas, nas corrupções coorporativas, nas preguiças adminsitrativas de nossas escolas de modelo ultrapassado.
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Cada um de nós têm um pouco a fazer. Se alguém ainda não sabe por onde começar, mande-me um e-mail que não tardo em repassar um lista de iniciativas para se começar “ontem”.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Três caminhos, Moisés, Jesus e o Coelho. Existirá um próximo?


[P.S.: Sim, esta estrada existe... está em Portugal. Achou que poderia estar em outro lugar?]


Na América ocidentalizada, europeizada pela modernidade cristã católica, nos acostumamos a celebrar a Páscoa. Embora, hoje em dia a grande maioria das pessoas nem saiba exatamente o significado primeiro desta data milenar. Conhecem apenas o significado último, aquele empregado pelo capitalismo, pela sociedade de consumo e pelos enredos de Walt Disney, do Coelho e dos Ovos de Chocolate. Aliás, quanto mais ovos e chocolates, mais Páscoa. Nem sempre foi assim, e nem para todos é assim. Existe dois grandes agrupamentos civilizatórios que, por caminhos diferentes, celebram a Páscoa num sentido histórico-religioso. Um terceiro agrupamento, hoje globalizado e transnacional, comemora... sem sentido, mesmo. Os dois primeiros, de mesma estirpe, a tradição judaica, o terceiro, não tem estirpe nenhuma, tem apenas conta bancária. De fato, antes da ascensão da Páscoa como Comércio, apenas os Judeus e os Cristãos comemoravam esta data, marco simbólico de sustentação de toda a tradição que compreendem suas cosmologias.

A primeira tradição remonta a milhares de anos, narrada por um povo chamado Judeu. Para estes, a Páscoa simboliza a passagem da escravidão, para a terra prometida, para a libertação. É a história do povo hebreu, que andava torturado e explorado pelos egípcios, e saiu errante pelo deserto sob o comando de Moisés, em busca da terra prometida por seu Deus Único, Jahvé. É, sobretudo, uma história de convulsão social, de revolta, de um grande líder, Moisés. É a história da chegada na terra da liberdade e dos gozos ofertados pela divindade, depois de passadas as agruras do Mar-Vermelho, da fome e da sede no deserto, das provações nas montanhas. Passagem, portanto, de uma vida antiga, para uma vida nova.

A outra tradição é uma versão mais recente, tem apenas pouco menos de 2000 anos e é narrada pelos seguidores de Cristo. Para os Cristãos, a Páscoa também simboliza uma passagem. Reconceitualizado, o enredo agora não fala mais de uma passagem entre mundos neste plano, mas trata da relação deste, com o reino de Deus. Para os Cristãos, não mais de um Deus Único, mas de um Deus mistério, único, mas trino, composto de três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Páscoa marca a passagem da morte, para a vida, da ressurreição deste Deus, feito homem, na pessoa do Filho. É, também, a lembrança do fato histórico da morte do revolucionário homem, Jesus Cristo, um subversivo, agitador social, líder comunitário inconformado, agente político da oposição.

Mistérios, tradições, lembranças, marcos históricos. Seus rituais memorativos são repletos de sinais e símbolos. Tanto numa tradição, como na outra, o caminho para se chegar à Páscoa não é um caminho fácil. Uma fala de escravidão, de cordeiro imolado (pesah), de pães ázimos (matsah), de ervas amargas (maror), do deserto e do longo caminho para ser percorrido até a libertação. A outra, fala de prisões, de açoites, de traições, de cruz, de calvário, de abandonos e da morte, necessária para a ressurreição. A Páscoa, no ocidente ainda deveria ser sinal da passagem de uma realidade desgraçada, para uma plena da graça de Deus.

Mas, existe uma terceira narrativa, muito mais nova, doce e rentável. É uma tradição de pouco menos de 500 anos, surgiu depois da descoberta da América pelos europeus, do encontro com o cacau e da invenção do chocolate. É a narrativa do Coelho que esconde cestas de chocolates. Aqui, a Páscoa é bem mais agradável, compreende um esforço de suportar maratonas, às vezes tortuosas nos supermercados, na busca dos melhores produtos e preços, na ansiedade de vencer a espera da manhã do dia de domingo, de poder consumar a Páscoa. A recompensa é doce, gostosa, reconfortante. Nada de jejuns, ázimos, cruzes ou desertos, aqui temos Coelhos felpudos que falam e cantam, temos ovos de chocolate de todo tamanho, bacalhau e vinho importado, as amêndoas açucaradas, os caramelos de todos os formatos, os bombons com todos os recheios. E lucros! Claro, temos a passagem da baixa de vendas do natal, para o superávit da Páscoa. Esta é a Páscoa da tradição Capitalista contemporânea.

Em todas as três narrativas, tivemos a presença de uma figura de liderança carismática, Moisés, Jesus e o Coelho. Fico a pensar na velocidade de transformação da nossa imaginação social, na capacidade que temos hoje de criar enredos coletivos, de incitarmos massas para fazerem passagens, e fico curioso por saber quem será o novo líder da nova narrativa da Páscoa. Que rituais, reais, ou virtuais, eles nos apresentará para a sua memória? Que tipo de passagem deveremos fazer? Não sei, mas não me animo a pensar. Deixo para que o tempo escreva a sua história. Será que ainda farei parte dela?

quinta-feira, 20 de março de 2008

Mimo pernambucano


Não tem nada mais gosto que receber um mimo, e os pernambucanos têm uma coleção deles.

Um dos mais especiais é uma iguaria chamada "Bolo de Rolo", hummmm, tão bom!

Nada mais gostoso que tomar um café quentinho, bem forte, com uma fatia de bolo de rolo com recheio de goiabada. Super!!!!


Quando estive em Pernambuco, fartei-me de comer dessa delícia, não foi à toa que sai de lá com alguns quilinhos a mais. Acontece que tudo que é bom, é calórico, e esse, então...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Se um país se faz com homens e livros, o Brasil é feito de quê?

[Biblioteca Joanina, Universidade de Coimbra, Portugal]



Outro dia, ao ver uma reportagem sobre a comemoração dos 200 anos da vinda da família Real Portuguesa para o Brasil, com D. João VI, fiquei surpreso ao tomar conhecimento de alguns dados estatísiticos. Foi D. João quem trouxe a primeira biblioteca para este país e deixou-nos um grande legado cultural, mesmo depois de sua partida. A Biblioteca Nacional conta com um precioso acervo Real, que foi deixado em terra brasileiras como parte do acordo estabelecido entre Brasil e Portugal, na época da Independência. Isso, por si só, já bastaria para transferir ao Brasil uma vocação de povo leitor, com gosto pela leitura... mas, não é bem assim.
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Li uma reportagem publicada na “Tam nas Nuvens” (Revista de bordo da TAM), que dizia que no Brasil existem atualmente apenas 2008 livrarias, para uma população de 186 milhões de habitantes. Isso equivaleria dizer que cada livraria deve atender uma média de 90 mil brasileiros. Isso é um caos, se compararmos Paris, que sozinha tem 2000 livrarias, para uma população de pouco mais de 3 milhões. Ou do país vizinho, igualmente pobre, a Argentina. Só a Argentina, bem menor em território e em população (cinco vezes menos), tem metade das livrarias existentes no Brasil. Essa reportagem ainda cita dados da Câmara Brasileira do Livro que diz que no raio X do Amapá, segundo pesquisas recentes, aparecem apenas duas livrarias, e no Tocantins inteiro, apenas uma está registrada na capital, para servir (???) ao Estado inteiro.
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Decididamente, como cientista, professor, educador, formador, não consigo imaginar desenvolvimento pleno sem leitura, sem escrita, sem livros. O meio não é mais importante, pode ser meio físico, pode ser digital, é preciso escrever, e para escrever, é preciso ler... e ler muito. Outro dia escutei uma desculpa super furada de um preguiçoso a dizer que não tinha o hábito de ler livros, pois nasceu na era digital. Nascer, ele até pode ter nascido, mas será que de fato está incluído nesta era? Uma era onde o conhecimento é o elemento principal, onde as informações são essenciais, e onde a leitura é fundamental para ter acesso a esses conhecimentos e informações, ler faz-se imprescindível.
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Diz o ditado popular que um homem só se realiza plenamente quando faz três coisas: planta uma árvore, faz um filho (ou filha) e escreve um livro. Pensando assim, temos uma população de homens incompletos, pois pelos dados que temos, a média de leitura dos brasileiros alfabetizados é de 3 livros inteiros durante toda a vida. Ficou chocado? Pois, pasme, se contarmos toda a população e incluirmos ai todos os analfabetos, esse número cairá drasticamente.
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Lembro-me, também, de uma clássica frase de um importante escritor brasileiro que dizia que: “um país se faz com homens e livros”. Onde estão os livros do nosso país? Das duas uma, ou o Brasil não está se fazendo livros, ou não está se fazendo enquanto país. É triste, é lamentável essa constatação ao ver que este país é tão rico em cultura, em criatividade, em talentos. O imaginário social deste país é tão cheio de enredos, de personagens, de cenários... tudo isso poderia ser melhor explorado, valorizado, escrito e registrado para ser consumido aqui dentro, e lá fora.

O sentido da vida: onde está? quem o perdeu?


Ultimamente, devido ao meu trabalho de investigação, tenho andado muito entre jovens da classe média. Neste pequeno texto, quero me referir a um perfil de jovem, criado pelo imaginário social, identificando como tal os rapazes e moças de certa idade que varia entre os 18 e os 28 anos, com gostos e imaginários próprios e bem característicos de música, de vestimenta, de modos de agir, interagir, divertir-se e trabalhar.
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Estranhou-me, no Brasil, um país com tantas discrepâncias sociais, ver que uma chaga característica dos países ricos, também se encontra cada vez mais visível nessas terras. O uso de drogas entre jovens (e não tão jovens) não é nenhuma novidade por aqui, entretanto, assusta-me o uso de drogas não consideradas “drogas”. O Ecstasy, por exemplo, as famosas balinhas da doidera dos boyzinhos, já é bastante popular nas festinhas dos jovens da classe média. O maior perigo destas “balinhas” é justamente o fato de se disfarçar a sua natureza de lobo em pele de cordeiro.
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Segundo uma matéria publica na FolhaTeen de 18/02/2008, uma pesquisa realizada entre jovens usuários de Ecstasy demonstrou que os usuários não percebem os vendedores ou repassadores da droga como traficantes, mas sim, como amigos. De fato, os novos traficantes são os colegas de faculdade, da academia, da praia, da balada. O próprio termo “balada” foi reconceitualizado por esses jovens. Antigo sinônimo de noitada, balada agora significa literalmente alguns momentos sob o efeito alucinante da droga.
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Quando comecei a freqüentar algumas casas noturnas na Europa, fiquei assustado com o preço das bebidas nos bares. Numa danceteria, um destilado de 12 anos custa o equivalente a uma garrafa de água mineral. Não é o destilado que está barato, é a água que está inflacionada. É uma medida para reduzir o consumo de drogas como o Ecstasy que, geralmente é consumida com grande quantidade de água, dispensando o consumo de outras bebidas para dar o “barato” da noite.
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Uma pena... certamente, uma pena ver que jovens da classe média, estudantes de bons colégios, moradores de zonas nobres, proprietários de carros e de um padrão de vida que lhes permite quase tudo, afogar suas angustias e necessidades numa ilusão efêmera que a droga lhes proporciona por algum momento. Onde estão os sentidos que poderiam substituir essas falsas soluções? Onde se perderam? Quem os perdeu?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Série gastronômica.... Minas é bom, também!


Para não ser injusto com os mineiros, que me receberam tão bem e que também tem uma culinária exepcional. Não dá pra deixar de lembrar o Frango com Quiabo, o Pastelzinho de Angú com Queijo, o Tutu à Mineira, a Galinha ao Molho Pardo (Cabidela)... tudo isso regado com aquela cachacinha de cana pra abrir o apetite, nosaaaa.
aiiiii, e o pãozinho de queijo, quentiiiiinhoooooo!
É bom demais, sô!

E o ACARAJÉ!!! Hummmmmmm


Oxê, menino! Achas que eu não ia comer, não?

Fiz questão de fartar-me de comer acarajé. Fui experimentar os melhores acarajés da Bahia. O da Cira, e o da Dinha, ambos no Rio Vermelho.

Não tem nem comparação! É bom, demais...

Ai que saudades eu tenho da Bahia...

Bahia de todos os Santos, axê, sagrado e profano, o baiano é... CARNAVAL.

mas a Bahia não é só carnaval. É um misto de cores, de raças, de criatividade, de sucesso, de beleza, de trabalho, de vida.
É impressionante passar pelas ruas de Salvador e ver essa mistura gostosa, sincrética. O povo aqui tem a cor do sol! Tem a vitalidade do sol, a força, o calor...
Gostei muito de ter conhecido Salvador, a São Salvador do Axê e do Acarajé. E do Software Livre, também. Por que, não?! Aqui a luta pelo Software Livre é grande. Grandes nomes do movimento são baianos, a começar pelo Gil, o Ministro Gilberto Gil, um dos mais fortes promotores do Software Livre no Brasil. Viva Gil!
Seguem algumas fotos que me fazem repetir o poeta: "Ai que saudades eu tenho da Bahia..."




segunda-feira, 10 de março de 2008

Pensei que fosse o céu!

[Praia de Calhetas, PE]



Vander Lee e sua incomparável poesia... diz tudo!


Basta adicionar a imagem de um lugar real, que os sentimentos são expressos nos versos do poema deste magnífico mineiro.
Bem, o fato e o cenário eu vivi... faltavam-me as palavras. Eles emprestoume-as.


Veja se não é verdade!

(...) Estava ali, me confundi
Pensei que fosse o céu
O azul do mar me chamou
E eu pulei de roupa e de chapéu
A onda veio e me levou
Desse lugar e agora eu sou
Uma ilusão, a solidão é meu troféu
Aquela foto amarelou
O riso no meu camarim
Felicidade bate a porta e ainda ri de mim (...)