sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Mais um absurdo: Yahoo! quer patentear o "Drag and Drop"


Veja até onde pode chegar o egoísmo capitalista no afã de angariar mais fundos.

A megacorporação Yahoo! tem planos para entrar com um pedido de patenteamento de uma operação vastamente utilizada no mundo pelos usuários de ambientes gráficos. A Electronic Frontier Foundation (EFF) alertou que o Yahoo! quer patentear o movimento de "drag and drop" (arrastar e soltar) objetos nas interfaces.

No passado foi a Microsoft que veio com a intenção de patentear o "doble click" (duplo clique), para abrir um arquivo ou para ativar/executar uma operação. Obviamente que o escritório de patentes americano entendeu que o pedido era absurdo, pois não se tratava de uma inovação, nem de um procedimento, mas sim de uma ação muito comum, e negou o pedido.

Atitudes como esta, de vez em quando, surgem nos planos de um ou outro muquirana no mundo. Você já pensou se o inventor da bicicleta tivesse o direito de patentear a ação de pedalar? Só haveria uma marca de bicicleta no mundo até hoje, ou na última das hipóteses, a mais cruel, todas as concorrentes e usuários deveriam pagar a este primeiro os royalties pelo uso de sua "tecnologia" (???).

É por isso que advogamos a premissa de que as patentes de softwares, de algoritmos e de equações matemáticas deveriam ser proibidas, sejam elas quais forem, pois o único objetivo destas armadilhas é o de bloquear o uso de procedimentos lógicos necessários para o desenvolvimento das tecnologias.

Fato é que a Yahoo! entende que deve levar em frente a sua intenção de criar uma "patent for 'smart' drag and drop", ou seja, defende o direito de primazia e de autoria para um método de arrastar e soltar objetos de uma interfacepara outra. Se tiver um ganho favorável, imagine o quanto de concentração esta megacorporação terá, pois na atualidade quase a totalidade dos programas gráficos se utilizam deste recurso, que tornou-se trivial para qualquer usuário pouco treinado.

Veja a íntegra do texto publicado pela EFF, onde destaco a parte em que tudo fica muito claro e descarado:

"A computer-implemented method for manipulating objects in a user interface, comprising:

providingthe user interface including a first interface object operable to beselected and moved within the user interface; andin response to selection and movement of the first interface object in the user interface, presenting at least one additional interface object in the user interface in proximity of the first interface object, each additional interface object representing a drop target with which the first interface object may be associated
."

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Boas notícias: Nature com Creative Commons!

A Nature, uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo, anunciou recentemente que tornará disponíveis todos os seus artigos sobre o genoma humano licenciando-os em Creative Commons. Os artigos poderão ser livremente copiados por qualquer pessoa, desde que para uso não-comercial. Clique aqui para ler o editorial da Nature, cujos trechos se encontram traduzidos e reproduzidos abaixo:

“Em seu impulso contínuo por tornar os artigos cada vez mais acessíveis, a NPG (Nature Publishing Group) vem envigorar uma licença Creative Commons para o reuso de artigos sobre o genoma. A licença permite a editores não-comerciais, seja de que forma estes sejam definidos, que as versões em pdf e html dos artigos sejam reutilizados. Os usuários são livres para copiar, distribuir, transmitir e adaptar a contribuição, desde que atendendo a propósitos não-comerciais, sujeitos às mesmas ou a similares condições e atribuições da licença".

“Em 1996, conforme avançava o seqüenciamento do genoma humano, atores fundamentais do processo declararam: ‘Foi acordado que toda informação sobre a seqüência do genoma humano, gerada por centros financiados para seqüenciamento humano em larga escala, deverá estar gratuitamente disponível e em domínio público, de forma a fomentar a pesquisa e o desenvolvimento e a maximizar seus benefícios à sociedade’. Tais princípios continuaram a guiar o campo, e a NPG vem consistentemente tornando os artigos sobre o genoma gratuitamente disponíveis. Esta nova licença nos permite formalizar tal compromisso.”

Fonte: BoingBoing

Urnas eletrônicas terão sistema operacional Linux nas eleições

O Plenário do Tribunal Superior Eleitoral decidiu, na sessão administrativa do último dia 13, autorizar a substituição do sistema operacional VirtuOS e Windows CE de todas as 430 mil urnas eletrônicas, pela versão de software livre Linux, a ser desenvolvida pela equipe técnica do próprio Tribunal. O objetivo é conferir mais transparência e confiabilidade à urna eletrônica e ao processo eleitoral. O novo sistema estará em vigor nas próximas eleições municipais, em 2008.

A Secretaria de Tecnologia da Informação (STI) sugeriu a adoção de um sistema operacional baseado em software livre, adaptado para a urna eletrônica e que seja de propriedade da Justiça Eleitoral. A intenção é facilitar a auditoria do sistema operacional por parte dos interessados em se certificar que todos os sistemas são confiáveis e seguros, diminuir os custos de aquisição de novas urnas eletrônicas em virtude da utilização de um sistema operacional gratuito e, ter um único sistema operacional para simplificar e diinuir o custo de desenvolvimento, testes e homologação dos sistemas das urnas eletrônicas.

A equipe técnica do TSE, desde 2002, vem realizando testes para viabilização de uma solução de código aberto. Foi escolhido o sistema operacional Linux, software código-aberto (Open Source) cujo núcleo vem sendo desenvolvido e aprimorado desde 1991, quando o seu criador disponibilizou o código na Internet. Várias empresas como IBM, HP, Intel, Dell, entre outras, têm investido em código aberto. Atualmente existem mais de 450 distribuições diferentes no mercado. Segundo a Secretaria, as vantagens da utilização do Linux na urna eletrônica são: padronização, pois é possível utilizar o sistema operacional Linux em todos os modelos de urna; transparência, por se tratar de um sistema operacional aberto, todo código-fonte está disponível ao público em geral e pode ser auditado livremente; independência, já que o desenvolvimento será realizado pela própria equipe técnica do TSE, não haverá dependência de fabricante ou fornecedor, muito menos haverá pressões mercadológicas para atualização de versão, nem dependência de políticas de licenciamento e suporte, como ocorre hoje.

Outros aspectos positivos são: a confiabilidade; o custo zero, pois não há pagamento de propriedade intelectual e de direitos autorais, pois não requer qualquer licença; e sua adaptação às necessidades da Justiça Eleitoral, uma vez que conterá somente o necessário para o funcionamento da urna. A manutenção ou qualquer alteração poderá ser feita internamente e com muita rapidez, sem a necessidade de intervenção do fabricante ou fornecedor.

Essa substituição, por fim, aumentará a credibilidade das eleições, pois a substituição dos atuais sistemas operacionais utilizados por Linux é um fator facilitador para apresentação do sistema na íntegra, incluindo o núcleo, sem as dificuldades impostas pela propriedade intelectual dos criadores.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Crise de emancipação: informação que produz formação (???)

A população brasileira está a passar por uma crise de independência que se estende desde a sua Independência formal de Portugal, no final do século XIX, culminando com o fato político de 7 de setembro de 1822, representado alegoricamente pelo famoso grito do Ipiranga. Entretanto, não é dessa emancipação política que quero me referir neste texto. É da capacidade de emancipação cognitiva e de escolha que sempre foi controlada neste país, pelos mais diferentes instrumentos, fossem eles diretos, como as ditaduras e seus aparelhos de censura e repressão, fossem os indiretos, como a televisão, a imprensa e as novelas, como criadoras de um padrão cultural geral para esta nação-continente.

Nem vou me referir da Educação formal, pois esta, coitada, na sua grande maioria sempre foi uma natimorta, está falida desde antes de ter nascido oficialmente. Observe o leitor que eu não sou um generalista, e nem um cego. Paulo Freire, uma das maiores personalidades mundiais dos últimos tempos, era brasileiro, e o desenvolvimento teórico e até prático no campo da pedagogia brasileira é vastíssimo e inovador. Pena que todo este acúmulo não chega aos projetos políticos pedagógicos das escolas e aos alunos. O ranço positivista dos militares ainda permeia a cosmologia do universo educacional do país, sobretudo nas escolas públicas. Enquanto isso, em pleno século XXI, percorro o conteúdo programático de alunos dos cursos de pedagogia de uma universidade federal e, com um assombro, vejo com tristeza que ele está fartamente preenchido com autores europeus e americanos de todos os naipes, renomados pensadores, sem tirar e nem por de seus méritos; entretanto, fica patente, também, a ausência de um “santo da casa”, Paulo Freire continua a ser um ilustre desconhecido (ou rejeitado) pela academia brasileira. Que pena! E disso dou testemunha porque vi e lastimei.

Ontem, enquanto navegava na Internet em busca de alguma informação, mantinha a TV ligada na Rede Globo de Televisão, uma das maiores emissoras de TV e rede de comunicações do mundo. Estava a passar o fenômeno global BBB VIII (Big Brother Brasil VIII). Fiquei impressionado em ver a maneira nada discreta de manipular a opinião pública deste programa. Qualquer indivíduo mais ou menos culto pode notar isso, apesar desta ser uma opinião quase unânime de todos os telespectadores. Através da seleção de cenas e da edição das imagens e textos acompanhados de uma música, não era difícil perceber quem deveria cair nas graças do público e quem deveria ser rechaçado, ou “emparedado”. Isso tudo, escamoteado pela suposta vontade popular, pois segundo seu apresentador principal, o BBB é a mais pura expressão da democracia aberta: nele é “você” quem decide. Este fenômeno não se restringe ao programa BBB, está presente no jornalismo informativo (eu diria, formativo), e na principal difusora de cultura e imaginários, as novelas. Esta ultima, penso eu, juntamente com as Igrejas, com a família e com a Educação formal constituem o principal quadro de produção cosmológica deste país.

Também ontem perdi uma boa meia hora a ver um bocado de novela. Na mesma medida que é informativa e educadora, pode ser difusora de falsa consciência (parafraseando o velho Marx) e condicionadora. Num capítulo vi uma brilhante cena de um enredo que valorizava a reprovação do preconceito racial. Excelente contribuição! Noutra, uma apologia à justiça humana feita pelas próprias mãos, a banalização da desonestidade, da corrupção, da violência, bem como as suas naturalizações, como se fosse premissas in nature da essência brasileira. Cenas de violência em uma favela, comandada por um líder autoritário que é seguido pelo seu feudo como se fosse um herói paternal. O retrato cruel da permanência do paternalismo, do clientelismo e do coronelialismo na vida política desta fração de terra americana. Nada de mentira, nada de ficção, a mais pura realidade, entretanto, naturalizada demais como se fosse imutável, e até, de certo modo, aceitável. A personagem do Sr. Juvenal Antena, o líder comunitário da favela da Portelinha, uma ocupação irregular de terras capitaneadas por ele próprio, está transmutado, na novela, na figura de um benfeitor, uma espécie de Hobin Wood urbano, escamoteando a sua verdadeira identidade de “Chefe do Morro”, do tráfico, do poder paralelo, da dominação, da submissão às suas vontades e seus interesses.

Se isso acontecesse apenas no mundo virtual da TV, até que não seria desalentador, pior que como dizem meus mentores teóricos, o virtual é o espelho recriado do real, e por isso, acontece evidentemente no plano do concreto, fora das telas das novelas, jornais e BBBs. Fiquei pasmo ao ler o comentário da Eliane Cantanhede, na Folha de São Paulo. Esta jornalista, que atualmente é colunista deste jornal, foi atacada da pior maneira possível, com palavriados de baixíssimo teor moral, apenas por tentar, com sua experiência, alertar a população para um risco eminente de epidemia, muito provável e possível. Os detalhes, que não reproduzo aqui, o leitor pode encontrar lendo na íntegra a sua crônica “Seis casos, cinco mortes”, publicada pela Folha, em 16/01/2008. Segundo a autora, que já cobriu um caso semelhante durante o governo de Governo Ernesto Geisel, durante o regime militar, ahora não é de dúvidas, é de se vacinar. Naquela época, apesar das declarações contrárias do Ministro da saúde de então, o país estava ingressando numa preocupante epidemia de meningite que levou a óbito muitas pessoas, principalmente crianças. A autora teve, inclusive, uma entrevista captada pela censura do regime e proibida de ser publicada na Revista Veja, pois, segundo o governo de então, declarar a verdade poderia causar caos na população em busca de tratamento adequado. Hoje, os casos de mortes por febre amarela ainda são poucos, apesar de que os 5 casos confirmados não possam ser banalizados (quem gostaria de ser o próximo?). Tudo isso pode ser evitado com vontade política e respeito à população. Existe tratamento preventivo, as vacinas! Mas a população precisa ir tomá-las e o governo tem de fornecê-las. Apesar de o Brasil ser o maior produtor desta vacina no mundo, o estoque não é suficiente para atender a demanda de toda a população. Com o medo de que ocorra uma corrida desenfreada aos postos de saúde em busca das mesmas, o governo tem optado por uma política seletiva, delineando áreas de risco intenso, áreas de risco moderado e áreas de risco baixo. Não existe no país nenhuma área de risco zero, apesar das informações contrárias propagadas pela TV, pelos responsáveis de saúde, etc. No plano ideal, a atitude mais correta seria imunizar a maior parte da população possível, em massa e logo. Mas isso representa custo e articulações políticas. Enquanto morrem apenas esparsos agricultores e moradores de regiões de matas, não existe prioridade. A prioridade vai começar a ser uma questão quando começar a matar artistas da Rede Globo, filhos de deputados e algum representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Como está a acontecer com a Dengue, que, aliás, é transmitida pelo mesmo mosquito, o famoso Aedes Egypt. É fato que nem todo mosquito está contaminado e faz mal, mas se hoje temos o Aedes em praticamente todo o território nacional, e antes estava delimitado a áreas circunscritas, o que nos garante que a doença não se espalhe também? Por que é o governo que decide quem deve, ou não, procurar os postos e tomar a vacina? Não deveria ser cad cidadão, com sua autonomia própria a decidir? Não é um direito ter acesso à vacina? Não é obrigação do governo produzí-la e fornecê-la?

Eu tomei minha vacina ontem. E no posto onde fui, ela tinha recém chegado e já estava novamente por terminar. E você? Vai ficar acreditando na “informação/formação” do governo transmitida pela Rede Globo?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Summorum Pontificum: restauração conservadora


Para o historiador e filósofo Enrique Dussel, Bento XVI “encabeça
uma corrente de restauração conservadora, e restaurar é voltar atrás”. Concordo plenamente!


Corro o risco, com esse comentário de ser auto (???) excomungado ao condenar uma decisão do Sumo Pontífice, que por tradição canônica, é sempre infalível e irrecusável. Se você acredita piamente na Santa doutrina Católica e teme o fogo do inferno e a condenação eterna, aconselho parar a leitura por aqui e procurar um padre para se confessar e pedir remissão da curiosidade que lhe assombra em não poder continuar a leitura do texto. Eu, de minha parte, como sou rebelde como Chico d’Assis (só na rebeldia que me assemelho, não na santidade, nem na loucura), vou escrever na mesma. Se ninguém ler a minha indignação, ao menos servirá para mim como desabafo daquilo que não posso mudar. De outra feita, se por ventura isso valer a minha condenação pela hierarquia humana, tenho certeza que não o será pela hierarquia divina. Por isso, faço na mesma!

Não são poucas as novas (ou velhas) decisões desse novo Papa que me tem assombrado, mas algumas em especial. Essa preocupação papal de reavivar uma antiga sombra da liturgia das missas permitindo rezá-las em latim com a Summorum Pontificum sobre o Motu Proprio, deixou-me um tanto perplexo. De fato, segundo o direito canônico, as missas em latim nunca foram proibidas, tanto que a mais famosa e midiática missa anual, a “do Galo”, retransmitida televisivamente para todo o mundo, ano após ano, segue-se no bom latim papal como um bonito espetáculo. Mas até aí, vá lá... o latim é a língua oficial do Estado católico, a celebração ocorre em solo vaticano e nada mais natural que seja pronunciada na sua língua oficial. De mais a mais, é sempre traduzida em simultâneo para os idiomas dos países de onde se retransmite, podendo o fiel inteirar-se das cantorias, leituras e orações. Mas dizer missa em latim no cotidiano dos países dispersos pelo mundo parece-me dar umas boas passadas para trás, um retrocesso dos grandes.
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Isso, eu sei, depende do ponto de vista. Para os reformadores e simpatizantes do Concílio Vaticano II tenho certeza que é um mergulho no passado despropositado e quase incompreensível. Afinal, foram anos de luta para fazer uma aproximação do povo à liturgia e à doutrina católica, todo um trabalho que estaria ameaçado pelo retorno de uma tradição descompassada. Não é difícil compreender que o grande salto qualitativo que o Vaticano II proporcionou foi a introdução dos fiéis comuns tanto na preparação e orientação espiritual (catequese), quanto das celebrações litúrgicas, coisa que antes era reservada a poucos iniciados, padres e prelados da Igreja.
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No Brasil, a orientação em preferir a língua local para as missas foi tão facilmente aceita que imediatamente após o término do Concílio os novos missais já começaram a ser impressos. A CNBB aprovou, com autorização eclesiástica maior, a feitura, anos mais tarde, de novas fórmulas eucarísticas, intensificando ainda mais a participação popular com responsos durante a oração eucarística, coisa insólita ainda no restante do mundo. Sem falar nos padres cantores e missas show, que atualmente parecem ter virado moda nesse país de sincretismos e do carnaval; facilmente os novos "cristian pop star" substituíram os hinos clássicos baseados no gregoriano por verdadeiros espetáculos de rock e sambas enredos, com direito a coreografias estilizadas e tudo mais. Vai ser um desastre conseguir motivar o povo brasileiro, que mal sabe falar e decifrar o português culto a compreender o “Dominum vobiscum” sonolento, principalmente se for numa tarde quente de verão. Uma pena, pois nunca a vida paroquial experimentou tanta movimentação com a possibilidade dos leigos atuarem nas mais diferentes frentes, das catequeses aos rituais, como ministros de sacramentos, pregadores, agentes de pastorais, etc.
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Mas, nem todo mundo pensa assim, e a principal e mais forte hierarquia do mundo, a Igreja Católica Apostólica Romana, uma das poucas que assume publicamente sem temor de represálias e interdições, não ser democrática, gosta mesmo é de lidar com a fé ignorante. Eu diria que é por ser mais fácil de manipular a massa, outros apelariam para o discurso da simplicidade de coração (para mim, baboseira que rima com pecado original). Fato é que, até posso apostar, muitos irão se levantar na campanha do “latim, já!”. De fato, só no México já existem duas catedrais diocesanas com missas diárias em latim. Na Europa, acredito eu, elas nunca desapareceram por completo, mas eram espécies de raridades culturais presentes em um mosteiro aqui, um santuário acolá. Quiçá agora voltem a se proliferar, afinal a acústica da maioria dos templos foi projetada para ressoar o timbre oscilante do gregoriano.
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Aqui no Brasil, durante minhas visitas, cada vez mais curtas, tenho assistido principalmente pela televisão, que um grupo nostálgico de radicais têm conseguido um espaço perdido durante anos. Na terra brasilis, onde crescem diariamente as ordes de seguidores dos padres Haroldo Joseph Rahm e Eduardo Dougherty, da RCC (Renovação carismática Católica), de outros da sua versão mais moderna, impelidos pelo Padre Jonas Abib, da Canção Nova, dos discípulos legionários de Plinio Corrêa de Oliveira, da TFP (Tradição, Família e Propriedade), dos radicais seguidores de Jose Maria Escrivá, da Opus Dei e tantos outros saudosistas do período pré-Concílio Vaticano II, vai ser fácil propagar a disseminação dos cultos clássicos em latim. Parece que as atitudes retrógradas do novo Papa têm sido imitadas e propagandeadas. Outro dia li um comentário de defesa a uma crítica que sofreu Bento XVI pelo fato de rezar algumas de suas missas diárias, na Capela Sistina, utilizando a posição Ad Orietem, ou seja, não olhando para a assembléia e sim para a cruz na parede de fundo do altar Mor (de costas para a o povo). Inicialmente criticado por uma agência de notícia, como sendo uma atitude insólita do pontífice, imediatamente uma enxurrada de artigos abundaram a Internet com defesas calorosas, muito bem fundamentadas por juristas entendidos do Direito Canônico, que provaram por A mais B que não existe nenhuma proibição de se rezar a missa Ad Orietem, apenas existe uma recomendação doutrinária que pode, ou não, ser seguida. Até ai, tudo bem, se é permitido, não é proibido. Ninguém pode condenar o Papa pelo fato, aliás, jamais alguém poderia, ele é infalível em seus atos. Recentemente, também, li um artigo intitulado "L'esercito oscuro delle tenebre" (o exército escuro das trevas), publicado no Site Petrus, sobre a importância de se ter em cada diocese um grupo de exorcistas. Há quem defenda a existência de pelo menos uma dezenas desses prelados especializados em mandar o Dêmo para as profundezas do inferno, onde é o seu lugar.
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Eu que pensei que o catolicismo já tinha revisto determinados temas e que já os tinha superado como pertencentes a uma época e a uma cosmologia. Essas coisas ainda combinam numa época pós-moderna? Qual o propósito dessas restaurações conservadoras? A onde quer chegar a Igreja com tais "revives" retrós? Que prepotência ocidentalocêntrica ainda mantém essa instituição? Será que a próxima surpresa será o ressurgimento das Cruzadas? Ou da Inquisição? Estas são perguntas para a qual não tenho resposta. Resta-me apenas a perplexidade (novamente). Entretanto, condivido da opinião de Dussel, como descrevi na epígrafe, e tudo isso cheira-me a retrocesso!

domingo, 20 de janeiro de 2008

Como nasce um poema? Quem escreve poemas?

Estou a ler um livro que, como toda obra literária, não contém apenas histórias de ficção, mas também, uma boa soma de realidade recriada. O enredo da trama, de fato, está baseado em uma ampla investigação séria sobre a vida e o contexto em que viveu uma das personalidades mais conhecidas do Ocidente: São Francisco, o poverello d´Assis! A obra, “A conspiração franciscana”, publicada pela editora Sextante (2007), da pena de John Sack, um literato americano de Ohio, formado em língua inglesa pela Universidade de Yale.

Quando da seleção do livro para compra, chamou-me a atenção e despertou-me o interesse o fato de já ter conhecimento do autor por outras veredas literárias. Ele, como eu, percorre caminhos não uniformes do Conhecimento, separados pela academia tradicional em áreas específicas que não se comunicam. Ele, como eu, procura juntar, conciliar estas áreas dissociadas do Saber, tornando menor a distancia que as desconecta. Ele, um literato que escreve livros técnicos de informática; eu, um sociólogo da técnica e da tecnologia, e pretenso poeta.

Entretanto, não foi a biografia múltipla do autor que me motivou a escrever este post, e sim uma das tantas passagens de um de seus livros que me saltou aos olhos; talvez por dividir com ele a mesma relação com a poesia e com a literatura. Trata-se de um diálogo simples, mas como tudo que é simples na vida, repleto de verdades e sabedorias. Para não me alongar no hipertexto, transcrevo ipsis litteris a parte, que fala por si. De bônus, segue na continuação um poema meu... um pouco de exemplo concreto do tema em questão. Absorva a essência do diálogo e veja se isso não é um belo tratado de literatura informal. Uma aula que raras vezes conseguimos nos bancos universitários.

“ – Não Enrico – garantiu –, um poema não exprime apenas sentimentos; fala de experiência. Para criar uma única linha, o poeta precisa visitar cidades, conversar com muitas pessoas. Deve reproduzir as vozes dos animais, pairar nas alturas com os pássaros e acompanhar os menores movimentos de um botão se abrindo em flor. Tem de viajar de volta no tempo rumo a caminhos estrangeiros e encontros inesperados para sofrer as doenças da infância (...)” (pg. 96)

(...)

“ O poeta deve sentar-se ao lado do moribundo, perto da janela aberta, para ouvir o choro dos que estão lá fora e a respiração agonizante dentro do quarto. E, por último, deve permitir que essas recordações se desvaneçam e depois esperar com grande paciência que elas retornem.

– É dessas recordações que nascem os versos? – pergunta Enrico.

– Não, filho. Ainda não. Não até que se transforme, através do próprio sangue e da carne do poeta, em pensamentos sem nome, que ele é incapaz de distinguir dentro de si mesmo. Então, no mais puro e raro dos momentos, o poeta consegue destilar deles a palavra de abertura de um verso. (...)” (pg. 97)


Bônus de hoje:

Queria
(Adalto Guesser)

Queria sentir-te, amor.
Sentir o teu cheiro
Teu beijo, calor.
Queria sentir-te, amor.

Não só num momento
Num sonho a perder
Mas sim face-a-face
Com olhos-nos-olhos
Bem junto de mim.

E tocar,
E sentir,
E viver,
E calar...

Queria sentir-me, amor.
Sentir-me maduro, seguro
Sem medo ou receio,
queria ser teu.

E tocar,
E sentir,
E viver,
E calar...

Fabricando uma sociedade melhor: um outro mundo possível!


Estava a visitar o blog do amigo Sérgio Amadeu e me deparei com essa foto nada mais que emocionante. Um grupo de senhoras da terceira idade, no SESC Pompéia, a aprender informática utilizando GNU/Linux.

Segundo Sérgio: “Esta foto foi tirada pela Alexsandra Bentemuller no Sesc Pompéia. Lá vários grupos de pessoas da terceira idade aprendem a usar GNU/Linux. ALexsandra foi minha orientanda na pós-graduação da Cásper Líbero. Sua pesquisa apontou "A nova face da velhice: a relação da terceira idade com o computador e a internet. Aprendi muito com este trabalho que mudou bastante minha concepção sobre o aprendizado e sobre a capacidade de sonhar e projetar um mundo melhor.”

De fato fico a pensar nessas pessoas que não temem as novidades e se projetam a enfrentar novos desafios. Foi no contato de algumas experiências como esta que no ano de 2000 me lancei a estudar esta temática do software livre. Foi ao observar pessoas assim, que não param no tempo e nas dificuldades e agruras da vida. Foi ao ver experiências de alguns rapazes que trocaram as ruas e o tráfico para aprender informática nos telecentros de São Paulo, de mulheres de mais de 60 que realizaram seus antigos sonhos de escreverem seus livros de poesia, de pais de família que puderam se capacitar profissionalmente através dos projetos de inclusão digital livre, que comecei a notar uma nova sociabilidade se difundindo. Um coletivo de pessoas a produzir coletivamente uma nova relação com o conhecimento, mais criativa, colaborativa e livre.

Esta foto também me faz pensar nos momentos de fraqueza em que nós “jovens”, às vezes tão envelhecidos diante da velocidade que as coisas acontecem na atualidade, desanimamos muito fácil de nossos ideais. Nossos desânimos diante de pequenas dificuldades e nossos medos de enfrentar os desafios de nosso próprio tempo tem de ser afrontado com atitudes como as dessas senhoras da terceira idade. Tal grupo não está apenas se auto-produzindo, mas criando uma sociedade melhor: um outro mundo possível!

sábado, 19 de janeiro de 2008

Coisas que eu sei, pois não creio que "nada" sei

São tantas coisas que eu sei... mas sei mais daquilo que gosto e daquilo que sou.
Essa música expressa um pouco da minha complexidade. Um pouco amplificada, como tudo que é poesia e que precisa ser exagerado para alcançar o íntimo mais profundo das almas ouvintes.
Espero que toquem as suas e que possam compreender-me um bocadinho mais.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Recriando o antigo: o Cartão Postal de ontem e de hoje



Em minha viagem por este país continental, ao passar por tantas cidades maravilhosas, cheias de belezas naturais e construídas, não raras são as vezes que me deparo com um cenário típico de dizer: “é uma imagem de Cartão Postal”. Consta que Bill Gates, o gênio da Microsoft, recebe diariamente cerca de 4 milhões de e-mails. Mas nenhum cartão Postal. E você, há quanto tempo não manda ou recebe um desses cartões?

Com o desenvolvimento tecnológico das redes de computadores, as comunicações de todos os tipos passaram a sofrer constantes reformulações. Da simples carta missiva, que era portada em mãos de um emissário a um destinatário situado num ponto qualquer do mundo, podendo levar até anos para ser entregue, até um simples telefonema, tudo está a ser recriado pelo uso de computadores e suas maravilhosas interações e possibilidade de troca de dados. Mas gostaria de chamar a atenção para um pequeno porém, nem tudo que temos hoje a ser operado pela velocidade “em tempo real” da Internet é uma idéia completamente nova.

Como já dizia o físico-químico, “no mundo nada se cria, tudo se transforma”, também o Cartão Postal se transformou. Veículo interpessoal que teve seu auge no Brasil entre 1920 e 1930, o Cartão Postal foi, a seu tempo, uma mistura de e-mail, blog, fotolog, telefone celular e televisão. Num pequeno pedaço retangular de cartolina, trocavam-se mensagens breves, acrescidas de uma imagem – cenários urbanos, eventos diversos, tipos populares ou personalidades. Feitas por fotógrafos profissionais. Colhidas com esmero e cuidado, as imagens eram enviadas pelos Correios, encurtavam distâncias, de país em país, de cidade em cidade, de casa em casa, levando impressões de viagens, notícias familiares, felicitações, declarações de amor e até imagens jornalísticas que mais tarde eram aproveitadas pela imprensa internacional. É preciso lembrar que no auge da época dos Cartões Postais, isto corresponde a falar em antes da Revolução de 1930, não havia TV e o sistema telefônico brasileiro era precaríssimo.

Refeitas as contas, o tempo decorrido, hoje o que corre de casa em casa, de escritório a escritório, de computador a computador, são os e-mail e hipertextos trocados entre endereços eletrônicos. Sejam simples textos ou complexos multimídias, com imagens, movimentos, som, textos, não é de se estranhar se amanhã, ou depois, contenham, quiçá, odores e temperaturas. Você já pensou em receber em pleno inverno europeu um cartão virtual da praia Môle, em Florianópolis, e poder sentir o cheiro da maresia do mar, a brisa fresca que chega junto com as ondas para refrescar o calor escaldante dos 35 graus que o sol estufa nestes dias de verão? É, não duvide muito, ao passo que caminha o desenvolvimento tecnológico, isso não só é possível como já existe, apenas não está a ser largamente utilizado.

Bom... esta sensação ainda não posso reproduzi-la no todo neste meio e com os recursos tecnológicos que tenho no momento, mas posso mandar, junto a este texto, uma imagem, um Cartão Postal deste “pedacinho de terra, perdido no mar”: Florianópolis (Ilha da Magia).

Saudades de todas e todos que ficaram a trabalhar além-mar e no interior desse Brasilzão imenso, onde o mar não toca a terra. Também estou a trabalhar por aqui... quer dizer, tentando... entre um cartão postal, e outro.

Europa e 1ª Conferência Internacional sobre Qualidade de Software Aberto

Nos dias 16 e 17 de janeiro de 2008, acontecerá a 1ª Conferência Internacional sobre Qualidade de Software Aberto, organizada pelo consórcio Europeu Qualipso (http://www.qualipso.org). O consórcio reúne instituições de pesquisa e desenvolvimento, empresas e órgãos de governos da Europa, China e Brasil visando “a promoção da inovação e do crescimento econômico através do aumento da confiança e da qualidade do software de código aberto”.

Na Conferência haverá um painel sobre “Experiências e melhores práticas com o uso de software aberto/livre para promoção da inovação e do crescimento econômico”. No painel, o pesquisador Jarbas Lopes Cardoso Jr., do Centro de Pesquisas Renato Archer - CenPRA/MCT, parceiro da SLTI, ABEP e PRODERJ na iniciativa do Software Público Brasileiro-SPB (http://www.softwarepublico.gov.br), abordará o tema “Software Público Brasileiro Analisado sob a Perspectiva da Rede”, onde serão mostrados os resultados preliminares alcançados pela experiência brasileira.

Os principais temas que serão abordados na conferência são da definição de modelos de negócio para o código aberto/livre, com o propósito de facilitar o uso pela indústria; de simplificar o ambiente legal; de racionalizar a interoperabilidade global das soluções; de implementar as melhores práticas na gestão de informação e de configurar os centros internacionais de competência para auxiliar a indústria e o setor público na alavancagem da inovação tecnológica e do crescimento econômico. Jarbas Cardoso, destaca a coincidência dos temas com as propostas e realizações do Portal do Software Público Brasileiro.

O consórcio conta com 21 instituições, sendo que do Brasil participam o SERPRO e a USP, e tem como objetivos definir e implementar tecnologias, processos e políticas para facilitar o desenvolvimento e uso de software de código aberto e livre. É um projeto financiado pelo 6º Programa-quadro europeu com um orçamento de cerca de 18 milhões de euros. Entre outras coisas, o Programa pretende implantar uma rede de centros de competência na produção de software código aberto e livre, sendo que a USP, em São Paulo, abrigará um desses futuros espaços.
Os principais resultados previstos pelo pesquisador, relacionados com a experiência do Software Público Brasileiro, são: em primeiro lugar, a ampliação do reconhecimento internacional do SPB; segundo a abertura de oportunidades de cooperação internacional, em especial, entre o SPB e o consórcio Qualipso e, por último; o fortalecimento da tese do desenvolvimento econômico com base em bens intangíveis.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Existem românticos?

Românticos
Composição: Vander Lee

Românticos são poucos
Românticos são loucos desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro é o paraíso.

Românticos são lindos,
Românticos são limpos e pirados
Que choram com baladas,
Que amam sem vergonha e sem juízo

São tipos populares, que vivem pelos bares
E mesmo certos vão pedir perdão
E passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro
De amar sem medo de outra desilusão

Romântico é uma espécie em extinção.

Românticos são poucos,
Românticos são loucos,
Como eu
Como eu
(Como nós)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Lições dos pequenos! Direto do Sul metafórico (real)

Você sabe o motivo do Brasil ser pobre? E da Bolívia?
Você sabe o que justifica o povo boliviano votar majoritariamente em Evo Morales? E no Brasil, no Lula?

Quero iniciar este novo ano, postando um vídeo de uma simplicidade imensa, mas que traz uma lição de Sociologia Política incomparável. Produzido por alunos da FACOM, da UFBA, me foi indicado por uma grande amiga e professora daquela universidade. Deixo-vos com a simplicidade das imagens e dos discursos produzidos pelo cotidiano sofrido do povo Boliviano.

Sinopse:

Cinco jornalistas, câmera e roteiro nas mãos. A partir do dia 4 de agosto desembarcamos na Bolívia para produzir um documentário. Foram mais de 40 dias rodando o país em busca de personagens e respostas que norteiem o cenário das principais propostas e ações políticas do governo Evo Morales com destaque para quatro temas da atual agenda pública de debate boliviano: a ação do movimento cocalero e a disputa de terra, a ação do movimento dos mineradores e a luta pela exploração do solo, a política de nacionalização dos hidrocarbonetos e a aprovação da nova constituição do país.

Link do Vídeo: http://www.youtube.com/boliviadoc

Link do blog do projeto Bolívia: http://www.projeto-bolivia.blogspot.com/