Mostrar mensagens com a etiqueta Escrita. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Escrita. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 8 de abril de 2008

Falando, falando, e tentando ser compreendido: continuando o diálogo

Abaixo, transcrevo a resposta que formulei ao amigo Nilton ao seu comentário do post "Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!"


Caro (professor) Nilton:

Concordo consigo em considerar um texto um evento comunicativo. Meu interesse pelo “texto” é o de utilizá-lo como dado para análises sociais de factos concretos. Procuro compreendê-lo dentro deste universo de produção, transmissão e registro de comunicações, com a finalidade de obter, no conjunto de um discurso (conteúdos e continentes) extremamentes diversificados, não só os significados, mas, sobretudo, os significantes de uma comunicação. Neste sentido, o meu interesse pelos textos é conseguir retirar as mensagens nesta conjunção de significados e significantes, procurando inseri-las num contexto social, como produto/produtora de acções (ou factos) sociais.

Para tanto, não me prendo essencialmente às preocupações específicas da lingüística enquanto interesse científico determinado. Utilizo a lingüística de modo transversal. Poderia dizer, utilizando a sua preferência epistemológica, que parto de uma abordagem de cunho transdisciplinar. Digo isso, porque muito mais do que realizar uma colaboração interdisciplinar de áreas de conhecimentos distintos, acabo por realizar uma coisa nova, uma nova disciplina, se bem desejarmos denominá-la. Se assim for, denominá-la-ia de “análise de conteúdo”, uma área de produção de estudos com certo acúmulo de produção e que hoje serve como ferramental metodológico para diferentes ciências que estudam campos sociais e suas interacções sociais baseadas na comunicação. Posso destacar, desde as ciências sociais, as ciências da comunicação, as ciências políticas, bem como determinadas áreas das ciências médicas, tais como a saúde colectiva, saúde pública, administração pública de saúde, etc., áreas da psicologia clínica e principalmente social, e, acredito que também o seu campo específico particular, o da Terapia Ocupacional, dentre muitas outras.

Tais disciplinas relacionadas com a linguagem, que me citas no teu texto, encontram-se presentes em meu trabalho, em determinados momentos, pois o conteúdo envolve, indirectamente, uma análise do discurso. Entretanto, não é a linguística em si, nem a lexicologia, nem a semântica, nem a análise do discurso que me interessam separadamente. Todos esses campos são importantes e estão presentes de alguma forma, utilizados como meios de atingir uma análise mais ampla, a que chamo de análise de conteúdo.

Neste sentido, quero apenas ratificar a distinção fundamental proposta pelo pai da linguística, F. Saussure, entre língua e fala, pois vejo que marca a diferença e torna minha explicação compreensível. Para este autor, o objecto da lingüística é a língua, ou seja, o aspecto colectivo e virtual da linguagem, enquanto que o da análise de conteúdo é a fala, isto é, o aspecto individual e actual (em acto) da linguagem. A linguística é um estudo da língua, a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades através das mensagens.

Trocando em miúdos e utilizando uma metáfora do próprio
Saussure, a do jogo de Xadrez, segundo ele, a linguística não procura saber o que significa uma parte, ao contrário, tenta descrever quais as regras que tornam possíveis qualquer parte. Nesse sentido, podemos dizer que, enquanto a linguística estabelece o manual do jogo da língua, a análise do conteúdo tem o objectivo de compreender os jogadores ou o ambiente do jogo num momento determinado, com o contributo das partes observáveis.

Ufaaaaa! Nossa, não contei as palavras das minhas frases. Será que ultrapassei demais as 15? Será que falei, falei, e não disse nada? Bom, isso é só um treino. "Quem não começa perdendo, não termina vencendo".

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!

A capacidade de memorização de um sujeito médio, é, aproximadamente de 15 palavras por frase, num escrito" (*1)

Hoje descobri o “palmo” (empan). É uma medida que determina a capacidade de um sujeito médio memorizar palavras lidas. Segundo os expertos no assunto, um sujeito médio (não especificam o que é esse sujeito médio) consegue memorizar, aproximadamente, 15 palavras por frase. Mais que isso, as ideias começam a ficar baralhadas e a concentração exigida é muito maior.

Por isso, os textos jornalísticos são laboriosamente cuidados para serem escritos de forma a não cansar o leitor, visando à objectividade da mensagem a ser transmitida. As mensagens publicitárias, também. Quanto mais curtos forem os períodos, melhores.

Parece ser uma coisa amplamente difundida no senso comum, um conhecimento que sabem todos. Só não sabem disso os intelectuais. Tenho tido de ler cada texto cansativo, prolixo, confuso. Quando comecei a ler Pierre Bourdieu, detestava-o, pois não o compreendia, perdia-me completamente na leitura. Quando terminava a frase, já não sabia o que a tinha iniciado. Por isso, criei certa resistência a este autor. Passado algum tempo, forçado a lê-lo por conta do curso, comecei a percebê-lo e a “gostar”. Então, passei a culpar a tradutora dos livros do francês para o português. Ao chegar a Portugal, e na ausência de livros traduzidos, tive de recorrer aos originais em francês. Então, percebi a dupla dificuldade. Não era nada por conta de tradução mal feita, era sim pela escrita mal urdida.

Oxalá, eu aprenda a escrever de forma clara e objectiva e que possa ser compreendido pelos meus leitores, sem vir a incorrer no erro da herança intelectual sociológica. Por isso, faço uso desse blogue, para poder treinar a escrita e receber as críticas dos leitores. Não são muitos os críticos, mas, de vez em quando aparecem.

(*1) In BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, p. 79.