Outro dia, ao ver uma reportagem sobre a comemoração dos 200 anos da vinda da família Real Portuguesa para o Brasil, com D. João VI, fiquei surpreso ao tomar conhecimento de alguns dados estatísiticos. Foi D. João quem trouxe a primeira biblioteca para este país e deixou-nos um grande legado cultural, mesmo depois de sua partida. A Biblioteca Nacional conta com um precioso acervo Real, que foi deixado em terra brasileiras como parte do acordo estabelecido entre Brasil e Portugal, na época da Independência. Isso, por si só, já bastaria para transferir ao Brasil uma vocação de povo leitor, com gosto pela leitura... mas, não é bem assim.
.
Li uma reportagem publicada na “Tam nas Nuvens” (Revista de bordo da TAM), que dizia que no Brasil existem atualmente apenas 2008 livrarias, para uma população de 186 milhões de habitantes. Isso equivaleria dizer que cada livraria deve atender uma média de 90 mil brasileiros. Isso é um caos, se compararmos Paris, que sozinha tem 2000 livrarias, para uma população de pouco mais de 3 milhões. Ou do país vizinho, igualmente pobre, a Argentina. Só a Argentina, bem menor em território e em população (cinco vezes menos), tem metade das livrarias existentes no Brasil. Essa reportagem ainda cita dados da Câmara Brasileira do Livro que diz que no raio X do Amapá, segundo pesquisas recentes, aparecem apenas duas livrarias, e no Tocantins inteiro, apenas uma está registrada na capital, para servir (???) ao Estado inteiro.
.
Decididamente, como cientista, professor, educador, formador, não consigo imaginar desenvolvimento pleno sem leitura, sem escrita, sem livros. O meio não é mais importante, pode ser meio físico, pode ser digital, é preciso escrever, e para escrever, é preciso ler... e ler muito. Outro dia escutei uma desculpa super furada de um preguiçoso a dizer que não tinha o hábito de ler livros, pois nasceu na era digital. Nascer, ele até pode ter nascido, mas será que de fato está incluído nesta era? Uma era onde o conhecimento é o elemento principal, onde as informações são essenciais, e onde a leitura é fundamental para ter acesso a esses conhecimentos e informações, ler faz-se imprescindível.
.
Diz o ditado popular que um homem só se realiza plenamente quando faz três coisas: planta uma árvore, faz um filho (ou filha) e escreve um livro. Pensando assim, temos uma população de homens incompletos, pois pelos dados que temos, a média de leitura dos brasileiros alfabetizados é de 3 livros inteiros durante toda a vida. Ficou chocado? Pois, pasme, se contarmos toda a população e incluirmos ai todos os analfabetos, esse número cairá drasticamente.
.
Lembro-me, também, de uma clássica frase de um importante escritor brasileiro que dizia que: “um país se faz com homens e livros”. Onde estão os livros do nosso país? Das duas uma, ou o Brasil não está se fazendo livros, ou não está se fazendo enquanto país. É triste, é lamentável essa constatação ao ver que este país é tão rico em cultura, em criatividade, em talentos. O imaginário social deste país é tão cheio de enredos, de personagens, de cenários... tudo isso poderia ser melhor explorado, valorizado, escrito e registrado para ser consumido aqui dentro, e lá fora.
Sem comentários:
Enviar um comentário