terça-feira, 13 de maio de 2008

13 de maio: 120 anos de uma abolição inconclusa no Brasil

Dia 13 de Maio de 2008 comemora-se 120 anos de uma abolição da escravatura incompleta no Brasil. Uma data que iniciou um novo processo de lutas por afirmação e sobrevivência de centenas de milhares de pessoas desterradas de seus países, culturas, tradições, famílias, crenças e “riquezas”. Transformados em objectos, esses homens, mulheres, velhos e crianças, foram utilizados como força motriz de uma economia colonial exploratória durante anos, levados ao limite das suas forças, até perecerem de doença ou de esgotamento físico até a morte. Os que sobreviveram a este holocausto, foram largados numa situação ainda pior, como estrangeiros em terra hostil, sem direitos nenhum, sem posses, sem casa, sem comida, sem rumo. Foram despejados nas periferias do interior, do mais profundo interior do Brasil. Sorte, na época, ainda existir um Brasil cheio de riquezas naturais, donde se podia colher de alguma forma algum tipo de sustento, e sorte este povo ser herdeiro de uma boa relação com a natureza e saber dela tirar um bom proveito, material, espiritual e afectivo, pois do contrário morreriam de míngua, de frio e doenças. Não foi-lhes facultado um teto para abrigar as cabeças, nem a preocupação do que comer no primeiro dia da “liberdade”, não eram cidadãos e por isso não podiam utilizar os hospitais das cidades. E que cidades? Estavam perdidos (literalmente, pois não sabiam onde estavam) nos sertões deste Brasil, onde nem a estrada de terra pública onde foram despejados tinham direito de pisar sem pedir permissão aos dois fazendeiros que faziam extremas de seus latifúndios imensos.
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Somos um povo mestiço, todo ele permeado de alguma parte de negritude, seja pelo cruzamento directo das raças e pelo sangue negro a correr nas veias, seja pelo sangue branco, purinho e incólume, que só corre ainda tão “puro” graças ao sangue negro derramado para retirar da terra o sustento que lhe proporcionou a permanência da vida. Mas que fazemos nós? Continuamos a negar-lhes a existência, a presença, a importância… e o holocausto. Escondemo-nos atrás de um falso mito de uma controversa “democracia racial” que, de facto, nunca tivemos.
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Neste presente momento, as iniciativas de inclusão racial e social no Brasil no campo do ensino superior contam com uma história rica e complexa, embora inconclusa, que certamente pode juntar-se ao repertório de outras notáveis conquistas ao redor do mundo. Segundo levantamentos recentes, só nos poucos anos de implantação de cotas para ingressos de alunos afrodescendentes, as universidades brasileiras que aderiram a alguma forma de cotas, assinalaram um crescimento de negros matriculados no ensino superior maior do que o que foi obtido durante todo o decurso do século XIX e XX, juntos. É um tempo em que o movimento Negro no país contabiliza algumas vitórias importantes, sublimadas, de alguma forma como acções afirmativas na expressão de cotas. Entretanto, mesmo diante de todo esse repertório de lutas e de dados, um contra-movimento, rançoso, colonialista, perverso e egoísta, se levanta tentando novamente fazer soar os grilhões tentando pressionar o Supremo Tribunal Federal no sentido de abolir os sistemas de cotas e invalidar uma conquista popular tão penosamente urdida no processo de uma democratização efectiva no Brasil.
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Neste sentido, junto-me particularmente e decididamente ao Movimento Negro num manifesto em defesa das cotas, e convido a todos os colegas de boa vontade e de boa consciência a fazê-lo, igualmente. Segue abaixo o link para o texto do manifesto e a forma como aderi-lo on-line.

4 comentários:

SP disse...

Gostei do sítio...
Prometo voltar.
Um abraço!

Anónimo disse...

Adorei o seu blog. Cheio de idéias interessantes. Realmente o problema das desigualdades estão além das políticas já praticadas. Vamos pressionar nossos políticos a criarem condições de inserções da minoria. Parabéns. Bjos. Giorgia

Anónimo disse...

Interessante a reflexão.
Vou assinar o manifesto, um abraço,
Mannes.

Anónimo disse...

Li e reli com o interesse sua refexão sobre a abolição oficial das escravaturas no Brasil. Quero felicitá-lo- pelo texto e adiantar-lhe, sou francamente favorável suas idéias. Quanto à dívida imensa e histórica para com a raça negra, não há que discordar.Quanto a forma de resgatá-la, Adalto, é assunto, necessário a ser discutido pela Sociedade Braleira. Vou assinar o manifesto. Um abraço grande.
Nilton Oliveira
Niltonoliveira@superig.com.br