terça-feira, 25 de março de 2008

É mais fácil transformar uma lanhouse em escola do que transformar uma escola em escola


A frase da semana, que está dando o maior debate, foi destacada pelo amigo Sérgio Amadeu, proferida pelo Claudio Prado: "É mais fácil transformar uma lanhouse em escola do que transformar uma escola em escola".

O burburinho de corredor já se formou. De fato, não é uma realidade facilmente aceita por todos, basta lembrarmos de que muitos importantes nomes mundiais da atualidade ainda são bastante temerosos da Internet [veja comentário deste blog, publicado em 27/11/2007].

Eu, particularmente, sempre defendi o potencial emancipatório das redes, e, dentre todas elas, a rede das redes, a Internet. O ciberespaço possui todos os elementos para ser e para fazer-se escola. Não poderia ser diferente, se o virtual é o espelho recriado da sociedade real, torna-se imprescindível torná-lo conhecido, estudado e explorado. Para isso precisamos de infra-estrutura de redes, de tráfego de alta velocidade, de equipamentos modernos e de softwares com filosofias inclusivas, precisamos, em outras palavras, de “inclusão digital”.

É fácil? Não, é! É uma tarefa complexa e cara. Porém, como a primeira, esta segunda frase é simples, dura e plena de significado: “Se você acha a educação cara, experimente a ignorância” (Dereck Bok). Isso apenas para lembrar que, se desejamos justiça cognitiva e justiça social, temos de começar a nos mexer urgentemente no sentido de acelerar o processo de inclusão digital em nosso país. As ações do atual governo estão sendo inovadoras e audases, mas se não houver participação cidadã, poderão ser barradas nas burocracias legislativas, nas corrupções coorporativas, nas preguiças adminsitrativas de nossas escolas de modelo ultrapassado.
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Cada um de nós têm um pouco a fazer. Se alguém ainda não sabe por onde começar, mande-me um e-mail que não tardo em repassar um lista de iniciativas para se começar “ontem”.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Três caminhos, Moisés, Jesus e o Coelho. Existirá um próximo?


[P.S.: Sim, esta estrada existe... está em Portugal. Achou que poderia estar em outro lugar?]


Na América ocidentalizada, europeizada pela modernidade cristã católica, nos acostumamos a celebrar a Páscoa. Embora, hoje em dia a grande maioria das pessoas nem saiba exatamente o significado primeiro desta data milenar. Conhecem apenas o significado último, aquele empregado pelo capitalismo, pela sociedade de consumo e pelos enredos de Walt Disney, do Coelho e dos Ovos de Chocolate. Aliás, quanto mais ovos e chocolates, mais Páscoa. Nem sempre foi assim, e nem para todos é assim. Existe dois grandes agrupamentos civilizatórios que, por caminhos diferentes, celebram a Páscoa num sentido histórico-religioso. Um terceiro agrupamento, hoje globalizado e transnacional, comemora... sem sentido, mesmo. Os dois primeiros, de mesma estirpe, a tradição judaica, o terceiro, não tem estirpe nenhuma, tem apenas conta bancária. De fato, antes da ascensão da Páscoa como Comércio, apenas os Judeus e os Cristãos comemoravam esta data, marco simbólico de sustentação de toda a tradição que compreendem suas cosmologias.

A primeira tradição remonta a milhares de anos, narrada por um povo chamado Judeu. Para estes, a Páscoa simboliza a passagem da escravidão, para a terra prometida, para a libertação. É a história do povo hebreu, que andava torturado e explorado pelos egípcios, e saiu errante pelo deserto sob o comando de Moisés, em busca da terra prometida por seu Deus Único, Jahvé. É, sobretudo, uma história de convulsão social, de revolta, de um grande líder, Moisés. É a história da chegada na terra da liberdade e dos gozos ofertados pela divindade, depois de passadas as agruras do Mar-Vermelho, da fome e da sede no deserto, das provações nas montanhas. Passagem, portanto, de uma vida antiga, para uma vida nova.

A outra tradição é uma versão mais recente, tem apenas pouco menos de 2000 anos e é narrada pelos seguidores de Cristo. Para os Cristãos, a Páscoa também simboliza uma passagem. Reconceitualizado, o enredo agora não fala mais de uma passagem entre mundos neste plano, mas trata da relação deste, com o reino de Deus. Para os Cristãos, não mais de um Deus Único, mas de um Deus mistério, único, mas trino, composto de três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Páscoa marca a passagem da morte, para a vida, da ressurreição deste Deus, feito homem, na pessoa do Filho. É, também, a lembrança do fato histórico da morte do revolucionário homem, Jesus Cristo, um subversivo, agitador social, líder comunitário inconformado, agente político da oposição.

Mistérios, tradições, lembranças, marcos históricos. Seus rituais memorativos são repletos de sinais e símbolos. Tanto numa tradição, como na outra, o caminho para se chegar à Páscoa não é um caminho fácil. Uma fala de escravidão, de cordeiro imolado (pesah), de pães ázimos (matsah), de ervas amargas (maror), do deserto e do longo caminho para ser percorrido até a libertação. A outra, fala de prisões, de açoites, de traições, de cruz, de calvário, de abandonos e da morte, necessária para a ressurreição. A Páscoa, no ocidente ainda deveria ser sinal da passagem de uma realidade desgraçada, para uma plena da graça de Deus.

Mas, existe uma terceira narrativa, muito mais nova, doce e rentável. É uma tradição de pouco menos de 500 anos, surgiu depois da descoberta da América pelos europeus, do encontro com o cacau e da invenção do chocolate. É a narrativa do Coelho que esconde cestas de chocolates. Aqui, a Páscoa é bem mais agradável, compreende um esforço de suportar maratonas, às vezes tortuosas nos supermercados, na busca dos melhores produtos e preços, na ansiedade de vencer a espera da manhã do dia de domingo, de poder consumar a Páscoa. A recompensa é doce, gostosa, reconfortante. Nada de jejuns, ázimos, cruzes ou desertos, aqui temos Coelhos felpudos que falam e cantam, temos ovos de chocolate de todo tamanho, bacalhau e vinho importado, as amêndoas açucaradas, os caramelos de todos os formatos, os bombons com todos os recheios. E lucros! Claro, temos a passagem da baixa de vendas do natal, para o superávit da Páscoa. Esta é a Páscoa da tradição Capitalista contemporânea.

Em todas as três narrativas, tivemos a presença de uma figura de liderança carismática, Moisés, Jesus e o Coelho. Fico a pensar na velocidade de transformação da nossa imaginação social, na capacidade que temos hoje de criar enredos coletivos, de incitarmos massas para fazerem passagens, e fico curioso por saber quem será o novo líder da nova narrativa da Páscoa. Que rituais, reais, ou virtuais, eles nos apresentará para a sua memória? Que tipo de passagem deveremos fazer? Não sei, mas não me animo a pensar. Deixo para que o tempo escreva a sua história. Será que ainda farei parte dela?

quinta-feira, 20 de março de 2008

Mimo pernambucano


Não tem nada mais gosto que receber um mimo, e os pernambucanos têm uma coleção deles.

Um dos mais especiais é uma iguaria chamada "Bolo de Rolo", hummmm, tão bom!

Nada mais gostoso que tomar um café quentinho, bem forte, com uma fatia de bolo de rolo com recheio de goiabada. Super!!!!


Quando estive em Pernambuco, fartei-me de comer dessa delícia, não foi à toa que sai de lá com alguns quilinhos a mais. Acontece que tudo que é bom, é calórico, e esse, então...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Se um país se faz com homens e livros, o Brasil é feito de quê?

[Biblioteca Joanina, Universidade de Coimbra, Portugal]



Outro dia, ao ver uma reportagem sobre a comemoração dos 200 anos da vinda da família Real Portuguesa para o Brasil, com D. João VI, fiquei surpreso ao tomar conhecimento de alguns dados estatísiticos. Foi D. João quem trouxe a primeira biblioteca para este país e deixou-nos um grande legado cultural, mesmo depois de sua partida. A Biblioteca Nacional conta com um precioso acervo Real, que foi deixado em terra brasileiras como parte do acordo estabelecido entre Brasil e Portugal, na época da Independência. Isso, por si só, já bastaria para transferir ao Brasil uma vocação de povo leitor, com gosto pela leitura... mas, não é bem assim.
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Li uma reportagem publicada na “Tam nas Nuvens” (Revista de bordo da TAM), que dizia que no Brasil existem atualmente apenas 2008 livrarias, para uma população de 186 milhões de habitantes. Isso equivaleria dizer que cada livraria deve atender uma média de 90 mil brasileiros. Isso é um caos, se compararmos Paris, que sozinha tem 2000 livrarias, para uma população de pouco mais de 3 milhões. Ou do país vizinho, igualmente pobre, a Argentina. Só a Argentina, bem menor em território e em população (cinco vezes menos), tem metade das livrarias existentes no Brasil. Essa reportagem ainda cita dados da Câmara Brasileira do Livro que diz que no raio X do Amapá, segundo pesquisas recentes, aparecem apenas duas livrarias, e no Tocantins inteiro, apenas uma está registrada na capital, para servir (???) ao Estado inteiro.
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Decididamente, como cientista, professor, educador, formador, não consigo imaginar desenvolvimento pleno sem leitura, sem escrita, sem livros. O meio não é mais importante, pode ser meio físico, pode ser digital, é preciso escrever, e para escrever, é preciso ler... e ler muito. Outro dia escutei uma desculpa super furada de um preguiçoso a dizer que não tinha o hábito de ler livros, pois nasceu na era digital. Nascer, ele até pode ter nascido, mas será que de fato está incluído nesta era? Uma era onde o conhecimento é o elemento principal, onde as informações são essenciais, e onde a leitura é fundamental para ter acesso a esses conhecimentos e informações, ler faz-se imprescindível.
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Diz o ditado popular que um homem só se realiza plenamente quando faz três coisas: planta uma árvore, faz um filho (ou filha) e escreve um livro. Pensando assim, temos uma população de homens incompletos, pois pelos dados que temos, a média de leitura dos brasileiros alfabetizados é de 3 livros inteiros durante toda a vida. Ficou chocado? Pois, pasme, se contarmos toda a população e incluirmos ai todos os analfabetos, esse número cairá drasticamente.
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Lembro-me, também, de uma clássica frase de um importante escritor brasileiro que dizia que: “um país se faz com homens e livros”. Onde estão os livros do nosso país? Das duas uma, ou o Brasil não está se fazendo livros, ou não está se fazendo enquanto país. É triste, é lamentável essa constatação ao ver que este país é tão rico em cultura, em criatividade, em talentos. O imaginário social deste país é tão cheio de enredos, de personagens, de cenários... tudo isso poderia ser melhor explorado, valorizado, escrito e registrado para ser consumido aqui dentro, e lá fora.

O sentido da vida: onde está? quem o perdeu?


Ultimamente, devido ao meu trabalho de investigação, tenho andado muito entre jovens da classe média. Neste pequeno texto, quero me referir a um perfil de jovem, criado pelo imaginário social, identificando como tal os rapazes e moças de certa idade que varia entre os 18 e os 28 anos, com gostos e imaginários próprios e bem característicos de música, de vestimenta, de modos de agir, interagir, divertir-se e trabalhar.
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Estranhou-me, no Brasil, um país com tantas discrepâncias sociais, ver que uma chaga característica dos países ricos, também se encontra cada vez mais visível nessas terras. O uso de drogas entre jovens (e não tão jovens) não é nenhuma novidade por aqui, entretanto, assusta-me o uso de drogas não consideradas “drogas”. O Ecstasy, por exemplo, as famosas balinhas da doidera dos boyzinhos, já é bastante popular nas festinhas dos jovens da classe média. O maior perigo destas “balinhas” é justamente o fato de se disfarçar a sua natureza de lobo em pele de cordeiro.
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Segundo uma matéria publica na FolhaTeen de 18/02/2008, uma pesquisa realizada entre jovens usuários de Ecstasy demonstrou que os usuários não percebem os vendedores ou repassadores da droga como traficantes, mas sim, como amigos. De fato, os novos traficantes são os colegas de faculdade, da academia, da praia, da balada. O próprio termo “balada” foi reconceitualizado por esses jovens. Antigo sinônimo de noitada, balada agora significa literalmente alguns momentos sob o efeito alucinante da droga.
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Quando comecei a freqüentar algumas casas noturnas na Europa, fiquei assustado com o preço das bebidas nos bares. Numa danceteria, um destilado de 12 anos custa o equivalente a uma garrafa de água mineral. Não é o destilado que está barato, é a água que está inflacionada. É uma medida para reduzir o consumo de drogas como o Ecstasy que, geralmente é consumida com grande quantidade de água, dispensando o consumo de outras bebidas para dar o “barato” da noite.
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Uma pena... certamente, uma pena ver que jovens da classe média, estudantes de bons colégios, moradores de zonas nobres, proprietários de carros e de um padrão de vida que lhes permite quase tudo, afogar suas angustias e necessidades numa ilusão efêmera que a droga lhes proporciona por algum momento. Onde estão os sentidos que poderiam substituir essas falsas soluções? Onde se perderam? Quem os perdeu?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Série gastronômica.... Minas é bom, também!


Para não ser injusto com os mineiros, que me receberam tão bem e que também tem uma culinária exepcional. Não dá pra deixar de lembrar o Frango com Quiabo, o Pastelzinho de Angú com Queijo, o Tutu à Mineira, a Galinha ao Molho Pardo (Cabidela)... tudo isso regado com aquela cachacinha de cana pra abrir o apetite, nosaaaa.
aiiiii, e o pãozinho de queijo, quentiiiiinhoooooo!
É bom demais, sô!

E o ACARAJÉ!!! Hummmmmmm


Oxê, menino! Achas que eu não ia comer, não?

Fiz questão de fartar-me de comer acarajé. Fui experimentar os melhores acarajés da Bahia. O da Cira, e o da Dinha, ambos no Rio Vermelho.

Não tem nem comparação! É bom, demais...

Ai que saudades eu tenho da Bahia...

Bahia de todos os Santos, axê, sagrado e profano, o baiano é... CARNAVAL.

mas a Bahia não é só carnaval. É um misto de cores, de raças, de criatividade, de sucesso, de beleza, de trabalho, de vida.
É impressionante passar pelas ruas de Salvador e ver essa mistura gostosa, sincrética. O povo aqui tem a cor do sol! Tem a vitalidade do sol, a força, o calor...
Gostei muito de ter conhecido Salvador, a São Salvador do Axê e do Acarajé. E do Software Livre, também. Por que, não?! Aqui a luta pelo Software Livre é grande. Grandes nomes do movimento são baianos, a começar pelo Gil, o Ministro Gilberto Gil, um dos mais fortes promotores do Software Livre no Brasil. Viva Gil!
Seguem algumas fotos que me fazem repetir o poeta: "Ai que saudades eu tenho da Bahia..."




segunda-feira, 10 de março de 2008

Pensei que fosse o céu!

[Praia de Calhetas, PE]



Vander Lee e sua incomparável poesia... diz tudo!


Basta adicionar a imagem de um lugar real, que os sentimentos são expressos nos versos do poema deste magnífico mineiro.
Bem, o fato e o cenário eu vivi... faltavam-me as palavras. Eles emprestoume-as.


Veja se não é verdade!

(...) Estava ali, me confundi
Pensei que fosse o céu
O azul do mar me chamou
E eu pulei de roupa e de chapéu
A onda veio e me levou
Desse lugar e agora eu sou
Uma ilusão, a solidão é meu troféu
Aquela foto amarelou
O riso no meu camarim
Felicidade bate a porta e ainda ri de mim (...)