quarta-feira, 28 de novembro de 2007

"Pais" precisam observar navegação dos filhos na Internet

Bem em sintonia com o texto que publiquei ontem, saiu uma interessante reportagem no Yahoo Notícias, seção "Mundo". A reportagem fala da declaração de uma das mais famosas polícias de investigação de crimes sexuais, da polícia de Toronto, no Canadá.

Ao tratar da questão dos crimes sexuais praticados pela Internet e da relação do perigo que isso representa no acesso de menores, a polícia é categórica no que tange à responsabilidade dos pais.

Veja um pequeno trecho que extraí:

"Filtros, fiscalização permanente e até mesmo o uso de impressões digitais para conexão não bastarão para impedir que adultos determinados obtenham acesso a sites infantis na Internet, e cabe aos pais monitorar o que seus filhos fazem online, de acordo com a mundialmente famosa unidade de crimes sexuais da polícia de Toronto." (...)

"Os pais precisam continuar vigilantes; precisam fornecer as ferramentas às crianças e manter comunicação com elas... É preciso sempre conversar com elas. Não basta uma conversa sobre segurança na Internet feita uma única vez"


O artigo completo pode ser lido no link que disponibilizo aqui.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Internet é "a grande inimiga da família", diz presidente da OMF

Às vezes assusta-me determinados posicionamentos de líderes de instituições internacionais. A última, e mais chocante, foi a declaração da presidente da OMF (Organização Mundial da Família), uma instituição ultraconservadora que nasceu em 1947 com o objetivo de reunificar as famílias dispersadas pelas 2ª Guerra Mundial. Para meu desprazer, a tal presidente é uma brasileira, a curitibana senhora Dra. Deisi Kusztra, que vem em público, numa cúpula mundial fazer uma afirmação tão ridícula quanto patética. Segundo fontes da EFE, publicadas pela Folha OnLine, Deisi Kusztra, disse nesta segunda-feira que a internet é a "grande inimiga" da família na Europa e países desenvolvidos. Segundo ela, juntamente com a globalização, a tecnologia estaria fazendo com que piorasse a situação das famílias no mundo. "Antes dizíamos que era a televisão, mas hoje é a internet que afeta negativamente as famílias e cria muitos problemas, sobretudo entre as crianças" (...). Pornografia, pedofilia, drogas, crimes, maus hábitos, tudo isso pode chegar às crianças por meio da rede e isso traz muitos problemas".
Desde o início de meus estudos sobre sociologia da técnica e tecnologia venho discutindo afirmações absurdas como esta que deslocam a responsabilidade de uns para os ombros dos outros. A ciência, juntamente com a técnica e a tecnologia, tem sido, desde sempre, alvo de um olhar receoso por grande parte dos “homens (e mulheres) comuns”, ou seja, daqueles que não possuem uma iniciação científica ou tecnológica. Ouvir tal afirmação de um leigo, de um usuário de tecnologias que nunca estudou a ciência é uma coisa até aceitável, mas ouvir um disparate deste de uma doutora é algo lastimável. Médica, pediatra e doutora em saúde pública, a ilustríssima senhora vem a público jogar a responsabilidade das desventuras de uma instituição social desreferenciada para elementos, como se no Ciberespaço não houvessem famílias ou não fosse espaço de famílias.
De fato, alguns autores, no início dos estudos sobre a técnica e a tecnologia atribuíram à tecnociência um papel semelhante ao que os mitos ocuparam na Antiguidade, ou seja, de entidades possuidoras de forças extraordinárias capazes de transformar a realidade vivida em novas realidades inimagináveis. Mas já há muito que esta visão parcial e mitificadora tem sido rejeitada pelo estudiosos sérios. Trato destas questões pormenorizadamente em meu livro no capítulo 2, e por isso não me vou alongar aqui. Sou do posicionamento teórico filosófico de muitos autores que têm se esforçado em mostrar que a tecnociência não é uma criatura diabólica. Faço uso da imagem ilustrativa de Collins e Pinch, que diz que a tecnociência não é nem boa, nem má, é só um tanto boba. Tais autores utilizam uma imagem ilustrativa que compara a tecnociência com o Golem, uma criatura mitológica judaica que possui uma grande força e capacidade, mas que, é um tanto desajeitada ao realizar as suas ações. Devido ao seu tamanho e sua grande força – de cuja dimensão o Golem não possui total noção – torna-se um ser perigoso para conviver com seres menores e mais fracos; ou, ao menos, essa convivência exige um cuidado redobrado para evitar acidentes inesperados. Em resumo, “a ciência do Golem não pode ser responsabilizada pelos seus erros; os erros são nossos”.
Outra visão que tenho lutado muito contra é a noção de “impacto”. A tecnociência não é algo à parte da sociedade, ela é constituinte e constuidora do corpo social. Por isso afirmo com Dra. Tamara Benakouche, é “preciso desmistificar a falsa autonomia da técnica, rejeitar a noção de impacto tecnológico, reconhecer, sobretudo, a trama de relações – culturais, sociais, econômicas, políticas que envolve sua produção, difusão e uso. Em outras palavras, a tecnologia não faz parte da sociedade, ela “é a sociedade.
O Ciberespaço, desde o início dos estudos sobre, tem vindo a ser identificado como um espelho recriado, virtual da realidade. O Ciberespaço (o mundo da Internet), não é artificial, é real. Ser virtual não é ser irreal, já afirmaram tantos autores, dentre eles para citar apenas dois mais conhecidos no mundo ciber, Pierre Levy e Manuel Castells. A internet é apenas um meio de socialização como tantos outros. Compõe-se de uma rede, mas não de uma rede de computadores: é uma rede de pessoas. Toda as mazelas encontradas na Internet, tudo o que ela possui de bom, tudo o que proporciona de positivo e de negativo, tudo isso é espelho da sociedade em geral. Tudo que se pode encontrar na Internet, encontra-se fora dela, e só está nela porque é espelho da sociedade da qual faz parte.
Eu pergunto à senhora Dra. Deisi Kusztra, quem é o pai que deixa o filho solto no centro de uma grande metrópole, sem dar-he educação e conselhos, e não teme que ele seja corrompido pelas maldades da sociedade, pela violência das cidades, pelo egoísmo de uns, pela lascívia de outros? E por que deixariam os pais, no ciberespaço, seus filhos soltos sem acompanhamento, sem orientação, sem cuidados? Qual o papel da família neste caso? Qual o papel dos pais? onde fica o papel fundamental da família, de ser espaço primeiro de socialização, de educação e de orientação para a vida? A Internet é o instrumento do diabo porque temos medo dela? Ou porque queremos culpar alguém pelas nossas impotências e limitações? O que devem fazer os pais, impedir seus filhos de freqüentarem o ciberespaço para salvarem a família, proibí-los de acessar este universo social? Que família estamos utilizando como referência? Onde vive esta família ?
Cara Dra. Deisi Kusztra, o seu papel como presidente da OMF é convocar as famílias para suas responsabilidades, demonstrar, clarificar, criar meios para que os pais percebam a sua responsabilidade enquanto educadores, guias, orientadores, mas não empurrar o lixo para debaixo do tapete. Cuidado, no primeiro vendaval ele pode lhe ser atirado todo na cara.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A dosagem, a toxidade e a superabundância


Noutro dia, em meio a um bar na pacata cidade lusitana do conhecimento, eu e mais três amigos, todos ilustrados, caímos numa longa conversa sobre a dosagem, a toxidade e a superabundância. Este último termo não correu na conversa, fui eu quem o forjou depois de algumas reflexões. Vale ressaltar que estava diante de dois grandes nomes da química, que por vieses diferentes (um bioquímico e outro bio-agrônomo) percorremos bancadas de laboratórios, falamos de reagentes, de financiamentos para ciência e tecnologia, de software, de jogos políticos, de corrupção, de tabela periódica, de fator H, de metais pesados, de aparelhos e computadores, de vidrarias e tantas outras coisas que compreendem as nossas vidas de laboratório, rodeados de elementos humanos e não-humanos que compõem a nossa prática cotidiana de fazer Ciência. Foi ali, no Moelas (bar genuíno de Coimbra), que produzimos uma mini-conferência interdisciplinar, ou melhor, transdiciplinar, sobre a medida do bom e do reprovável. Em outras palavras, daquilo que necessitamos e daquilo que nos faz mal.
Faz muito tempo que as ciências sociais abandonaram quase repulsivamente uma interpretação biologicista da sociedade. No início destas ciências, os pais fundadores possuíam uma visão assim, de que a sociedade era similar a um organismo vivo, a exemplo da tão bem sucedida ciência de então, a Biologia. Émile Durkheim, considerado o pai da Sociologia, comparava a sociedade a um corpo humano, com suas “funções” claras e objetivas, daí o surgimento do paradigma funcionalista. Cada instituição social correspondia a uma parte do corpo e caso uma delas faltasse era considerado, no linguajar científico, como uma anomia, se uma parte não funcionasse como deveria funcionar, era considerada como se estivesse doente, um caso patológico a ser tratado e restituído de saúde. O campo que determinava a saúde do corpo biológico para a ciência (na época) era a Medicina, e para a sociedade era o Direito. Esta é uma visão hegemônica ainda hoje nas ciências em geral quando se trata de sociedade, principalmente no Direito e algumas disciplinas correlatas. Entretanto, já bastante criticada e, de alguma forma, suplantada nos meios acadêmicos mais atuais que preferiram rejeitar esta visão funcionalista e organicista, por outras de vieses estruturalistas e culturalistas.
Não venho neste texto argumentar em defesa do retorno de uma visão funcionalista de ciência, nem a forte componente positivista de meus colegas das ciências “duras”, mas, por um sistema de analogias ecológicas, que ultimamente me tem vindo a se impor, quero ressaltar uma imagem ilustrativa que pode me vir a servir mais ou menos como parábola argumentativa. Meus colegas falavam na ocasião, partindo de seus referenciais mais caros, o da química, sobre a propriedade dos elementos e sua relação com os organismos vivos, um deles especificamente trabalhando com questões relativas aos organismos humanos (o bioquímico) e o outro com organismos vegetais (o bio-agrônomo). Ambos estavam de acordo de que na natureza encontram-se uma variedade de elementos químicos que compõem os átomos, que por sua vez são os constituidores de nossas células, órgãos e corpos. Também concordavam que tais elementos são absorvidos de forma natural, ou induzidos, pelos organismos através dos processos de alimentação (nutrição) ou contaminação, direta ou indiretamente. A questão que permeou o debate era sobre o limite aceitável desses componentes e o que definia que um dado elemento passasse de “essencial”, para “não essencial”. Cabe aqui um preciosismo científico que faço ressalva, para um, tudo o que não é essencial é diretamente tóxico, o que seria determinado pela dosagem, e para o outro os tóxicos compreendem um terceiro grupo de elementos à parte. Debate travado, consenso nunca facilmente atingido entre campos distintos da ciência, conclui-se pela necessidade de maiores estudos e de uma nova rodada de discussões e de testes que comprovem empiricamente a validade das hipóteses de um, e de outro.
Eu, de minha parte, calado quase todo o tempo, a rir-se com outra colega do grupo de diversas situações de exaltação que se travavam entre os “cruzados” cientistas, não permaneci incólume ao debate. Como alguns sabem, ainda acredito na máxima dialética de que toda linha discursiva parte da relação entre uma tese e uma antítese, para chegar a uma síntese. A síntese do debate centrou-se na proposição, mais ou menos consensual, de que todo elemento em excesso pode (apesar de não haver acordo de que se transformaria em tóxico) provocar danos de alguma forma para o organismo. É aqui que eu, um jurista, economista, sociólogo, entro com o meu conceito de superabundância e minhas reflexões eco-analógicas. O excesso, ou seja, a superabundância, de fato, tem sido há muito tempo a causa de tantos problemas sociais. O problema da divisão das riquezas, da concentração por parte de uns e da ausência por parte de muitos outros tem sido a grande questão que tem motivado pilhas e pilhas de investigações acadêmicas, que seguem de trabalhos de conclusão de curso até teses de doutorado. A má distribuição dos bens produz a riqueza e a sua antagônica, a pobreza. A riqueza produz individualmente uma série de benefícios materiais para o rico, mas socialmente causa um elemento disturbador, patológico: a pobreza.
Gostei dessa imagem eco-comparativa, ou eco-analógica. Pensar que o excesso é veneno, tóxico, doença, mal, é uma forma de buscarmos o equilíbrio. Eu que ando tanto no meio de engenheiros e de máquinas, estou a gostar de agora também andar entre químicos e pipetas. A complementaridade de saberes é necessária de ser empreendida através de um processo de “tradução”, não de substituição ou de pura incorporação. Fazer uso de linguagens co-relatas não é assumi-las literalmente de forma cega e acrítica. É necessário dialogar, e não rejeitar o diferente. A cosmovisão dos meus colegas das ciências duras pode ser um tanto questionável para mim, que sou das ciências “moles” (????, lol, sempre rio disso), mas não pode ser auto-excludente. Senão estaremos criando barreiras, onde poderíamos estar construindo pontes.

domingo, 25 de novembro de 2007

Quando o tempo faz-se sentir



Quando o tempo faz-se sentir, acontecem emanações em nossas vidas, algumas vezes expressas fisicamente (cansaço, debilitações, excitação, ...), mentalmente (estresses, depressões, recolhimentos, ...). Uma das formas que ele se manifesta em mim é através da abertura da veia poética. E daí surgem coisas como esta:


O tempo quer fim

(Adalto Guesser)

Quente momento,
Que esfria com o tempo,
Que foge de mim.
É um triste tormento
Aceito o devir.

Ò tempo cruel
Por que roubas de mim?
Aquele momento,
De triste castigo,
Que fostes comigo
Início e fim.

Retenho bem perto
A doce ternura,
Palavras tão puras,
Tão duras, seguras...
O tempo quer fim.

Eu parto contendo,
Querendo esquecer
O choro trancado,
De um corpo cansado:
Difícil é viver!
E segue a vida,
Sofrida, ferida, sentida
De um sonho vivido
Que foi-se perdido
De ter-te em mim.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Síndrome de colonizador (Texto de Boaventura Sousa Santos)

Reproduzo abaixo o texto do meu orientador de tese, Dr. Boaventura de Sousa Santos, sobre a questão do incidente diplomático entre o Rei Juan Carlo I de Espanha e o presidente Venezuelano Hugo Chavez durante a XVII Cúpula Iberoamericana, realizada no Chile no dia 10 de novembro deste ano.

Síndrome de colonizador
(Texto Publicado pela Revista Carta Maior - Sessão DEBATE ABERTO)

¿Porqué no te callas?

Não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Esta frase é reveladora em diferentes níveis. (SANTOS)

Esta frase, pronunciada pelo Rei de Espanha dirigindo-se ao Presidente Hugo Chávez durante a XVII Cúpula Iberoamericana realizada no Chile, no dia 10 de Novembro, corre o risco de ficar na história das relações internacionais como um símbolo cruelmente revelador das contas por saldar entre as potências ex-colonizadoras e as suas ex-colônias. De fato, não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Como qualquer frase que intervém no presente a partir de uma história longa e não resolvida, esta frase é reveladora em diferentes níveis.Ela revela, em primeiro lugar, a dualidade de critérios na avaliação do que é ou não democrático. Está documentado o envolvimento do primeiro-ministro de Espanha de então, José Maria Aznar, no golpe de Estado que em 2002 tentou depor um presidente democraticamente eleito, Hugo Chávez. Porque, naquela altura, a Espanha presidia à União Européia, esta última não pode sequer clamar total inocência. Para Chávez, Aznar ao atuar desta forma, comportou-se como um fascista. Pode questionar-se a adequação deste epíteto. Mas haverá tanta razão para defender as credenciais democráticas de Aznar, como fez pateticamente Zapatero, sem sequer denunciar o carácter antidemocrático desta ingerência? Haveria lugar à mesma veemente defesa se o presidente eleito de um país europeu colaborasse num golpe de Estado para depor outro presidente europeu eleito? Mas a dualidade de critérios tem ainda uma outra vertente: a da avaliação dos fatores externos que interferem no desenvolvimento dos países. Num dos primeiros discursos da Cúpula, Zapatero criticou aqueles que invocam fatores externos para encobrir a sua incapacidade de desenvolver os países. Era uma alusão a Chavez e à sua crítica do imperialismo norte-americano.Pode criticar-se os excessos de linguagem de Chávez, mas não é possível fazer esta afirmação no Chile sem ter presente que ali, há trinta e quatro anos, um presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, foi deposto e assassinado por um golpe de Estado orquestrado pela CIA e por Henry Kissinger. Tão pouco é possível fazê-lo sem ter presente que atualmente a CIA tem em curso as mesmas táticas usando o mesmo tipo de organizações da “sociedade civil” para destabilizar a democracia venezuelana. Tanto Zapatero como o Rei ficaram particularmente agastados pelas críticas às empresas multinacionais espanholas (busca desenfreada de lucros e interferência na vida política dos países), feitas, em diferentes tons, pelos presidentes da Venezuela, Nicarágua, Equador, Bolívia e Argentina. Ou seja, os presidentes legítimos das ex-colônias foram mandados calar mas, de fato, não se calaram. Esta recusa significa que estamos a entrar num novo período histórico, o período pós-colonial, teorizado, entre outros, por José Marti, Gandhi, Franz Fanon e Amilcar Cabral e cujas primicias políticas se devem a grandes lideres africanos como Kwame Nkrumah. Será um período longo e caracterizar-se-á pela afirmação mais vigorosa na vida internacional dos países que se libertaram do colonialismo europeu, assente na recusa das dominações neocoloniais que persistiram para além do fim do colonialismo.Isto explica porque é que a frase do Rei de Espanha, destinada a isolar Chávez, foi um tiro que saiu pela culatra. Pela mesma razão se explicam os sucessivos fracassos da União Européia para isolar Roberto Mugabe.Mas “¿porqué no te callas?” é ainda reveladora em outros níveis. Saliento três. Primeiro, a desorientação da esquerda européia, simbolizada pela indignação oca de Zapatero, incapaz de dar qualquer uso credível à palavra “socialismo” e tentando desacreditar aqueles que o fazem. Pode questionar-se o “socialismo do século XXI” - eu próprio tenho reservas e preocupações em relação a alguns desenvolvimentos recentes na Venezuela - mas a esquerda européia deverá ter a humildade para reaprender, com a ajuda das esquerdas latinoamericanas, a pensar em futuros pós-capitalistas. Segundo, a frase espontânea do Rei de Espanha, seguida do ato insolente de abandonar a sala, mostrou que a monarquia espanhola pertence mais ao passado da Espanha que ao seu futuro. Se, como escreveu o editorialista de El País, o Rei desempenhou o seu papel, é precisamente este papel que mais e mais espanhóis põem em causa, ao advogarem o fim da monarquia, afinal uma herança imposta pelo franquismo. Terceiro, onde estiveram Portugal e o Brasil nesta Cúpula? Ao mandar calar Chávez, o Rei falou em família. O Brasil e Portugal são parte dela?

(Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Portugal).

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Guía Práctica sobre Software Libre, su selección y aplicación local en América Latina y el Caribe





Conforme prometido, segue o conteúdo na íntegra (em espanhol) da publicação da UNESCO, "Guía Práctica sobre Software Libre, su selección y aplicación local en América Latina y el Caribe".


Parece ser um ótimo material. Ao menos é uma raridade sobre o tema. Ainda não posso expressar nenhuma opinião porque não tive tempo de explorá-lo. Na medida que o fizer, vou tecendo comentários.




domingo, 18 de novembro de 2007

Perplexidades!!!

No mundo que vivo atualmente, encerrado em uma redoma de um escritório, diante de um computador que me permite olhar o mundo inteiro (????) através de uma janela virtual, a fazer sociologia da técnica e da tecnologia, o direito e as teorias macro-sócio-econômicas me servem de baliza para não escorregar na fluidez da concretude do real. No meu mundo ultra-especializado, o virtual se confunde com o real, e eu, idem. Às vezes, fico tão imerso no meu recorte da realidade, absorto pelas metanarrativas explicativas em que me apoio, que me esqueço de abrir uma outra janela, aquela do meu escritório, e olhar para o lado de fora, ver o mundo de verdade, das pessoas, dos impulsos, dos gostos, dos desejos, dos sentidos, das raivas, das ações e reações.
Causou-me tanta incomodação ler a notícia do bárbaro assassinato de um garoto de 12 anos, em Santa Maria, município de GO, a 26 km do DF, que calhou-me por acaso através de um e-mail que recebi de um amigo de além-mar, que por dias não consegui deixar de pensar que é para este mundo que vou voltar dentro de alguns dias. Segundo relato desta grande fonte jornalística, uma das mais confiáveis que conheço, o caso tem mais ou menos essa narrativa (que não é meta, é particular). O autor do crime é o próprio meio-irmão da vítima, de 17 anos, que simulou o seqüestro do menino e pretendia extorquir R$ 45 mil do pai para fugir da família com a meia-irmã, de 13 anos, com quem mantinha um caso amoroso, há quase um ano. O rapaz, caçula da família, que sonhava ser jogador de futebol, foi estrangulado pelo meio-irmão com um fio de náilon, em um matagal. Tão simples quanto isso. Enredo típico de todos os finais de noite no seriado CSI. Já deveria estar acostumado. Mas não estou!
Poderíamos nos perguntar o que teria motivado um “homem” chegar a tal ponto de tirar a vida de outro, por tão pouco. Mas as perguntas não são bem essas. As perguntas, obviamente, são porque uma “criança” de 12 anos foi morta, por outra de 17, por uma ninharia de dinheiro, envolvendo outra criança de 13 anos (a tal meia-irmã)? Que confusão de sentimentos se entrelaçam nesses mundos privados de nossas sociedades, que fazem esses “meio-irmãos” se quererem e valerem tão pouco? Por qual motivo adolescentes reproduzem práticas hediondas como estas com a maior naturalidade? Por que sonhos de uns são interrompidos para realizar sonhos de outros tomando como moeda a vida? Vale a pena viver numa sociedade onde nem os valores mais elementares dos laços familiares, onde a célula básica de convivência é assim tratada, como se fosse um campo de guerra de todos contra todos? O que fazemos nós, juristas, sociólogos, economistas com uma sociedade como esta? Falta o que? (Deus seria a resposta?????). Se arrisco dar esse palpite, me expulsam da academia. É tanta complexidade que como sociolólogo deveria estar mais ou menos acostumado e ter meia dúzia de hipóteses explicativas. Porém, só uma arriscaria, aquela que me expulsaria da sacro-sancta ciência. Respostas não existem no comércio, nem nas prateleiras ilustradas das bibliotecas universitárias, precisam ser fabricadas nos escritórios e gabinetes iguais aos meus (Oh, my God!). Pra já, não acredito que alguém as tenha de pronto. Perplexidades sobram.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Campus Party Brasil 2008


Conforme prometido, estou a divulgar...

Você já pode reservar sua vaga para participar da Campus Party Brasil!

Basta preencher o formulário com seus dados pessoais clicando aqui.

Em breve será disponibilizado no site as instruções para a inscrição de menores. com doze anos completos já se pode ser campuseiro! Porém, é necessária uma autorização dos pais, seguindo todos os passos que serão descritos no regulamento, e a assinatura de um maior que acompanhe e se responsabilize pelo menor durante todo o evento. Essa regra vale para todo mundo que ainda não tem dezoito anos completos. Quem já tem, é só tomar conta do seu nariz e participar!

90 mil computadores com Software Livre para escolas públicas brasileiras


Bons ecos começam a ressoar após a 4ª Conferência Latino-Americana de Software Livre (Latinoware 2007), que se encerrou neste último dia 14, em Foz do Iguaçu –PR. Foi divulgado durante o evento, pelo gerente de Inovações Tecnológicas do Ministério do Planejamento, Sr. Corinto Meffe, que o governo federal começou a distribuir 90 mil computadores com software livre a escolas públicas de todo o país. Segundo as informações avançadas pela Agência Brasil, da Radiobrás, os computadores foram comprados com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC) e somarão aos 50 mil já distribuídos, acelerando o processo de informatização na educação no país.

Segundo Meffe, o governo vê o uso de software livre como uma “questão quase obrigatória”, pelas vantagens que traz para o setor público, pela transparência e até mesmo como política de continuidade de programas governamentais. “Funciona como proteção para o cidadão, mas o bom é hoje chegar nas empresas, academias, terceiro setor, na casa do cidadão comum, e perceber que todo o país está despertando para a importância desse sistema” (Agência Brasil).

Meffe ainda destacou outras ações do governo federal brasileiro no sentido de promover o uso de software livre, dando exemplo de um projeto da Caixa Econômica Federal (CEF) que pretende para migrar todas as máquinas das casas lotéricas para programas de código aberto e outro dos terminais de auto-atendimento do Banco do Brasil que deverão seguir o mesmo caminho. Adiantou ainda que o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) já economiza R$ 19 milhões com a adoção do software livre e a Previdência Social, R$ 27 milhões. A Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev) possui uma estrutura de aproximadamente 500 servidores (computadores que cuidam da logística da empresa) que usam software livre.

O Brasil de fato está na frente no que se trata de apostar em tecnologias livres e mostrando ao mundo todo a sua viabilidade. Pena que sempre que se apresentem dados, toda a linha de argumentação centra-se apenas nas vantagens econômicas, obscurecendo todas as demais vantagens que todos nós sabemos que o software livre proporciona. Gostaria muito de que os gestores nacionais se preocupassem também em divulgar à sociedade brasileira as vantagens do ponto de vista da justiça cognitiva e da inclusão social que o código-aberto proporciona em comparação com o código-fechado. Espero que o meu trabalho possa contribuir neste sentido, e é por isso que luto. Enquanto isso, já é grande coisa poder rejubilar-se com essas boas notícias.

Publicação da UNESCO sobre Software Livre na América Latina e Caribe

Jornais dos mais diferentes gêneros divulgaram nos dias 13, 14 e 15 que a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lançou no último dia 13 de novembro (2007) na cidade de Foz do Iguaçu, uma publicação interessantíssima intitulada “Guia Prático sobre Software Livre – Sua Seleção e Aplicação na América Latina e no Caribe”. O material, de autoria de Fernando da Rosa e Frederico Heinz está publicado em espanhol. Infelizmente fiz uma busca desesperada pela net e no Site da UNESCO para tentar acessar ao conteúdo do material, mas não tive sucesso. Segundo informação da Agência Brasil, que fora a principal fonte da informação multiplicada posteriormente por vários sites e jornais, o objetivo dos autores é atingir todas as pessoas que buscam uma introdução sobre o tema do software livre, servindo também para aqueles que já possuem alguma experiência no assunto. Além de apresentar alguns estudos sobre o software livre, de suas potencialidades, também fornece informações para os interessados que desejarem experimentar as ferramentas de código-aberto e/ou migrar de sistemas operacionais, sugerindo a maneira mais adequada para cada perfil. Gostaria muito de poder ter lido o conteúdo do material, mas até o presente momento não foi possível. Se algum leitor conseguir alguma indicação, agradeceria que me fosse facultada.Assim que conseguir mais detalhe ou o link para o conteúdo completo, comprometo-me a divulgá-lo neste espaço. Por enquanto resta-me apenas deixar a dica para os mais interessados no tema.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

No mundo nada se cria, tudo se transforma


A cada dia a nossa segurança na rede fica mais vulnerável e mais instrumentos tecnológicos são criados para tentar bloquear os mal intencionados e criminosos de acessarem aos dados que transitam na grande teia global de computadores diariamente. Uma das medidas utilizadas pelos grandes servidores, principalmente aqueles que dão acesso a cadastros gratuitos (ou não) de qualquer gênero (e-mail, blogs, bancos, etc.) é o chamado CAPTCHA (Completely Automatic Public Turing Test to Tell Computers and Humans Apart), que são seqüências de imagens, palavras ou números distorcidos usados para evitar que robôs registrem milhares de contas de usuários em web sites. Com certeza você já se deparou no final de um processo de registro com o pedido de digitar num campo o conteúdo de uma imagem que lhe está associado. Esta é uma medida de segurança, não totalmente segura, mas que garante (???) que seja necessário uma pessoa-humana a realizar o processo, uma vez que tais robôs de registro não conseguem traduzir a informação da imagem.
Entretanto os spammers (espécie de crackers – leiam bem, não são hackers), não se cansam de trabalhar para desenvolver técnicas para quebrar esse tipo de proteção. Ultimamente, foi divulgado pela revista IDNow a mais interessante técnica dos spammers. Cansados de investir milhões em tecnologias caras e complexas de tradução de imagens para textos, os ousados crackers começaram a utilizar um dos mais antigos sistemas de interpretação de imagem da história humana. E de fato, utilizam-se de seres-humanos para tal finalidade e de seus instintos e desejos para atingirem as suas finalidades de quebrar a segurança dos sistemas. Um dos maiores servidores de e-mail grátis da Internet, o Yahoo, está tendo o seu sistema de registro ameaçado por uma tal de Melissa, uma stripper que motiva usuários humanos a decodificar a imagem e traduzi-la para texto, enquanto que os dados estão sendo roubados por robôs e enviados para um servidor em Israel. Cada vez que um usuário descodifica um captcha a Melissa tira uma peça de roupa. No final, quando ela estiver toda nua, isso corresponde a dizer que o usuário descodificou alguns captchas, estes dados então são enviados automaticamente para um servidor em Israel, onde os criadores do criativo sistema de descodificação virtual montam uma coleção de traduções de captchas, que podem ser utilizados, futuramente para, por exemplo, fazer um registro em massa de contas falsas no Yahoo. Essas contas poderão servir para difundir as pragas de spams, vírus e também para realizar operações de crimes cibernéticos que envolvam uma conta de e-mail válido.
Como se pode ver... a tecnologia nem sempre produz novidades, mas inovações. Já diz o velho ditado: “no mundo nada se cria, tudo se transforma”, esta é uma transformação ciborgue, onde o homem aliado à máquina recria antigas formas de interagir com o mundo.

sábado, 10 de novembro de 2007

A Internet em Portugal nos últimos 5 anos

O Portal português Sociedade Digital, apresenta um interessante estudo com conclusões sobre a evolução do desempenho e disponibiliade da Internet em Portugal nos últimos 5 anos. Tendo por base os dados recolhidos pela MarketWare, a empresa que monitoriza a Internet em Portugal, foram identificadas tendências de evolução e comportamento dos sites relativamente ao seu desempenho e disponibilidade. Não repasso neste espaço os dados uma vez que o Portal dá acesso ao conteúdo a usuários registrados no Portal. O registro é gratuíto e livre a qualquer pessoa, bastando preencher um formulário muito simples com o Nome Real, um nome de usuário e indicar uma password. Imediatamente recebe-se um e-mail para confirmar o registro e pronto, basta acessar todo o conteúdo do Portal. Depois de registra-se, clique aqui para ver o artigo completo.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Adiada Temporariamente Inscrições para o Campus Party Brasil 2008


Segundo informações no Blog do amigo Sérgio Amadeu, um dos coordenadores do evento, a abertura das inscrições para a Campus Party Brasil 2008 estão adiadas devido a necessidade de adequação do evento a normas técnicas brasileiras. Em breve, serão repassadas informações completas sobre a nova data para abertura das inscrições no site oficial do evento, no blog oficial e também aqui neste espaço, pois estarei acompanhando tudo com muita atenção.

De qualquer maneira, sirvo-me da oportunidade para divulgar mais uma vez este importante acontecimento em terras brasileiras. Para o leitor que ainda não conhece o Campus Party, fica a dica para visitar os sites, ler as notícias e se interar deste que será, sem dúvidas, o maior acontecimento presencial da comunidade do ciberespaço no Brasil.

CONISLI 2007

Vai acontecer entre os dias 09 a 11 de Novembro/2007, em São Paulo, em segunda edição, o CONISLI - Congresso Internacional de Softwa Livre. Este é um importante evento que conta com o apoio das principais instituições do Software Livre mundial. Veja abaixo a grade temária do evento, consulte a programação por dia e visite o site oficial para saber mais informações.

Site oficial do Evento: http://www.conisli.org/index.new.php.

A Organização do evento liberou hoje a grade de palestas para os 3 dias de evento.

Confira abaixo:

Abaixo a grade temária dos mini-cursos:

terça-feira, 6 de novembro de 2007

PROJETO DE LEI

Caros amigos que apoiaram, coloco abaixo o projeto de lei final que será apresentado pelo Deputado Paulo Teixeira. Grande abraços,
Adalto.

PROJETO DE LEI Nº , DE 2007
(Do Sr. PAULO TEIXEIRA e outros)



Dispõe sobre uso do Fundo Setorial para Tecnologia da Informação - CTInfo para financiar o desenvolvimento de software livre.


O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º Esta lei dispõe sobre uso do Fundo Setorial para Tecnologia da Informação – CTInfo, criado pela Lei nº 10.176 de 11 de janeiro de 2001, para financiar o desenvolvimento de software livre.

Art. 2º Vinte por cento (20%) dos recursos do Fundo Setorial para Tecnologia da Informação - CTInfo devem ser destinados ao desenvolvimento de software livre, incluindo
soluções embarcadas e sistemas que integram componentes já existentes.

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se:

I - Software: programa de computador. Sequência de instruções a serem seguidas e/ou executadas, na manipulação, redirecionamento ou modificação de um dado/informação ou acontecimento.

II - Software livre: qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído livremente, desde que as alterações efetuadas mantenham-se com a mesma licença do software original. A maneira usual de distribuição de software livre é anexar a este uma licença de software livre, e tornar o código fonte do programa disponível.

Art. 4º Poderão solicitar o financiamento, a qualquer tempo, combinando recursos reembolsáveis e não-reembolsáveis, empresas, universidades, institutos tecnológicos, centros de pesquisa, cooperativas e outras instituições públicas ou privadas, inclusive comunidades de desenvolvedores, através de editais lançados pelo CTInfo.

Art. 5º Os projetos de software livre deverão ser aprovados por um conselho instituído por portaria do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com participação majoritaria de membros da comunidade de software livre (mínimo de duas cadeiras).

Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


JUSTIFICAÇÃO
A proposta deste projeto de lei é fomentar o desenvolvimento de programas de computador sob a filosofia do Software Livre. Esses softwares são produções intelectuais de propriedade coletiva e criados de forma colaborativa por meio da rede mundial de computadores, a Internet. Seu modelo de licenciamento exige que o código-fonte seja aberto e não restrija sua livre cessão, distribuição, utilização e alteração de características originais.
O CTInfo - Fundo Setorial para Tecnologia da Informação destina-se a estimular as empresas nacionais a desenvolverem e produzirem bens e serviços de informática e automação, investindo em atividades de pesquisas científicas e tecnológicas. Reservar 20% dos recursos do fundo para garantir a forte indução de projetos de pesquisa na área de Software Livre trará enormes beneficíos para a sociedade brasileira:

1 - Questão economica:

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) são cada vez mais importantes na vida das pessoas e das empresas. Ao depender de soluções fechadas, pagamento licenças proprietárias, o país fica refém de poucas empresas, em maior parte multinacionais. Apenas como exemplo, um pacote simples (com sistema operacional, editor de texto e planilha proprietários) custa hoje, para cada computador, em média US$500,00 - e não pode ser copiado, distribuído ou alterado, ficando a critério do fabricante o período de manutenção e a determinação da vida útil dos mesmos.
Já o sistema operacional livre GNU-Linux e o pacote BrOffice.org, por exemplo, podem ser obtidos gratuitamente através da Internet, podendo ser reproduzido quantas vezes for necessário.
Com adoção maciça de Softwares Livres no Brasil, o país deixaria de enviar uma quantidade significativa royalties e licenças para o exterior, sobrando verbas públicas e privadas para o investimento em áreas de interesse social, como programas de inclusão digital, modernização e desenvolvimento tecnológico.

2 - Transparência e segurança

O acesso irrestrito ao código-fonte do programa traz para ao cidadão brasileiro não só a vantagem de ter maior liberdade de utilização, modificação e distribuição de acordo com suas necessidades, mas também maior transparência e segurança. Isso porque, ao contrário do que ocorre hoje com os programas de código fechado, seu funcionamento pode ser melhor acompanhado e aperfeiçoado por técnicos brasileiros, não havendo "segredos" de conhecimento exclusivo da empresa proprietária. Ou seja, quando houver algum problema no funcionamento do programa, este pode ser identificado claramente, reduzindo o risco de fraudes ou panes de origem desconhecida.

3 - Vantagens técnicas

A adoção deste tipo de programa facilita o prolongamento da vida útil da base instalada de microcomputadores. É sempre bom lembrar que, em média a cada dois anos, as pessoas e organizações têm que trocar seus programas por versões mais atualizadas e seus microcomputadores por outros mais modernos e potentes para poderem utilizar as versões mais atualizadas destes programas. Estas versões novas dos produtos – chamadas updates –, que muitas vezes requerem troca de componentes - chamadas upgrades - são responsáveis por parte significativa dos custos que uma empresa, pessoa física ou órgão público tem quando está informatizada e necessita acompanhar as inovações deste setor.
O acesso ao código fonte e a participação no desenvolvimento de softwares livres propiciam aos desenvolvedores brasileiros o contato direto e efetivo às mais modernas tecnologias desenvolvidas no mundo todo, disseminado este conhecimento em nosso país e elevando o grau de sofisticação tecnológica dos produtos de software desenvolvidos no Brasil.
Este desenvolvimento colaborativo se mostra ainda como uma excelente oportunidade para a divulgação internacional da competência técnica e da capacidade que os profissionais brasileiros têm de desenvolver programas de computador alinhados ás principais tendências tecnológicas do mundo todo.
Como o modelo econômico do software livre tem como base a prestação de serviços, a utilização internacional de software livre desenvolvido no Brasil apresenta-se ainda como uma oportunidade para expandir a exportação de serviços em TIC para o mundo todo.

4 - Uma alternativa que dá certo no mundo inteiro

Há mais de quinze anos discute-se em todo o mundo a livre manipulação dos programas de computador. Até há pouco tempo era impossível usar um computador moderno sem a instalação de um sistema operacional proprietário, fornecido mediante licenças restritivas de amplo espectro. Ninguém tinha permissão para compartilhar programas livremente com outros usuários de computador, e dificilmente alguém poderia mudar os programas para satisfazer as suas necessidades operacionais específicas.
Hoje, a realidade é diferente. Os sistemas que estamos propondo são usados por milhões de pessoas, de forma livre, no mundo inteiro. Há um incontável número de empresas que o adotaram, entre elas as gigantes multinacionais Mercedes Benz, General Motors, Boeing Company, Sony Electronics Inc., Banco Nacional de Lavoro da Itália, Chrysler Automóveis, Science Applications International Corporation (indústria de armamentos) e os órgãos públicos Agência Nacional de Armamentos dos EUA, Marinha Norte-Americana (USA Navy), Correios Norte-Americanos (United States Postal Services), Agência Espacial Norte-Americana (NASA), Departamento de Estado dos Estados Unidos, entre outras, que optaram pelo uso de programas livres.
Em todos os setores da sociedade estes programas têm revolucionado o mundo da informática. Os governos de diversos outros países, entre os quais Alemanha e China, já adotaram política de uso de programas livres em seus organismos governamentais. No entanto, nenhum outro país avançou tanto no Software Livre quanto o Brasil, como mostram os resultados do projeto Free Libre Open Source Software (FLOSSWorld), desenvolvido pela Uniăo Européia e que contou com a parceria de 17 organizaçőes em 12 países. Quase 100% dos órgãos do Governo Federal do Brasil utilizam Software Livre de alguma forma. Há também experiências nos principais Estados e Prefeituras, e em grandes empresas como Votorantim, Casas Bahia, Petrobras e Banco do Brasil.

Conclusão

A aprovação desta Lei mostra a preocupação e o empenho do legislador com a autonomia tecnológica, com a evolução científica em nosso país e com a melhoria da qualidade de vida do conjunto da população, contribuindo assim para acabar com os instrumentos de agravamento da exclusão social. Precisamos criar condições concretas para que a juventude brasileira e nossas empresas, públicas e privadas, possam desenvolver tecnologia de fato.
O Congresso Nacional dará também uma importante contribuição ao desenvolvimento econômico, permitindo que pequenas empresas, voltadas para produção, desenvolvimento e suporte de programas livres sejam criadas e desonerando os cofres públicos da transferência de recursos para o exterior.
É, enfim, por estes motivos que contamos com o apoio dos nobres deputados e deputadas para a aprovação deste projeto, regidido em parceria com a comunidade brasileira de Software Livre. Colaboram: Acires Gambeta Guesser, Adalto Guesser, Antonio Terceiro, Carlinhos Cecconi, Celso Guilhermino de Faria, Criziani Machado Felix, Deivi Lopes Kuhn, Edson Cândido Pereira, Felipe Machado, Geisa Lourenzo, Herculano Artulino Guesser, Isabelli Nogueira, João Cassino, Jomar Silva, Júlio Neves, Livia Sobota, Marcelo Marques, Marcus Abilio Pereira, Maria do Rosário Múrcia dos Santos, Mário Teza, Pedro A. D. Rezende, Ricardo Bimbo, Rodinéia Aparecida Bristolf, Rodolfo Avelino, Rubens Queiroz de Almeida, Sergio Amadeu da Silveira, Sérgio Rosa, Teresa Cunha, Vicente Aguiar e Wagner Meira Jr.