
Os índices de prisão são ainda maiores para alguns grupos, reflectindo uma realidade que vai além da questão criminal, açambarcando um campo delicado para o "país das liberdades e da igualdade". Um em cada 36 hispânicos adultos (os imigrantes mais comuns nos EUA) está atrás das grades. Entre os homens, um em cada em cada nove negros entre 20 e 34 anos está preso.
O relatório, feito pelo Pew Center, também descobriu que apenas uma em cada 355 mulheres brancas entre 35 e 39 anos está presa, assim como uma em cada 100 negras também.
A metodologia do relatório se diferenciou do usado pelo departamento de Justiça, que calcula o índice de pessoas presas usando a população total ao invés da população adulta como denominador. Com a metodologia do departamento, cerca de um em cada 130 americanos está preso.
Esses números alarmantes são o resultado da guerra às drogas dos anos 80. Em 1988, uma pesquisa mostrou que dois terços dos americanos aceitavam abrir mão de parte de sua liberdade se fosse esse o preço da vitória contra o crime. De lá para cá a criminalidade caiu rapidamente. Em todo o país, os índices de criminalidade voltaram aos números dos anos 60. Mas, nem por isso a população carcerária tende a cair. Como o uso de drogas cresce entre os jovens, e com as penas de prisão obrigatórias para quem é pego com drogas, a a superlotação das cadeias está garantida.
Nos anos 80 acreditava-se que o Crack era uma epidemia que ameaçava o país. Entre 1985 e 1995, o número de negros presos por drogas cresceu 707% contra 306% entre os brancos. Segundo o departamento de Justiça, 8,3% dos jovens negros entre 25 e 29 anos estão na cadeia contra 0,8% de brancos da mesma faixa etária. O encarceramento dos jovens negros agrava o problema do desemprego crónico nos guetos. Dificilmente um jovem que passou alguns anos na cadeia consegue emprego.
Os negros são apenas 12% da população americana, mas representam 60% dos condenados por uso ou tráfico de drogas. O departamento de Justiça prevê que no ano que vem os negros presos serão 1,43 milhão, ou seja, 70% de toda a população carcerária. As penas de prisão para os negros são mais longas. Nos crimes de estupro, por exemplo, verificou-se que em média os presos negros cumprem penas de 70 meses contra 56 para os estupradores brancos. Por qual motivo objectivo? Por serem negros! Está na pele.
A guerra às drogas iniciada nos anos 80 multiplicou os presídios, mas não reduziu o uso das drogas. Da população acima de 12 anos, 33% já usou Cannabis, a droga mais popular. Entretanto, o consumo dessa droga nunca ultrapassou 0,5% da população. Agora os governantes reconhecem o fracasso dessa guerra e buscam novas alternativas. Mas o encarceramento maciço da população dos guetos continua e ameaça agravar os problemas sociais das grandes cidades americanas.
Esta não é uma questão que pode ser lida apenas pelo vies da criminalidade. Este factor serve apenas para justificar interesses escusos que nunca são claramente apresentados. A crescente privatização do sistema prisional americano faz com que interesses lobistas de empresários do sector não permitam que os Senadores Congressistas americanos aprovem leis mais brandas e políticas alternativas para o combate ao uso de drogas e a criminalização no país. Para estes, o inchamento dos presídios é sinal de lucro garantido, uma vez que o custo é pago pela população, através do governo.
1 comentário:
Caro Adalto,
Parabéns pela reflexão e contextualização do assunto. Pela busca de um mundo mais igualitário, justo e humano. Peço permissão de extrair seus textos para trabalhar com os meus alunos em Recife. Particularmente, aprecio-os.
Os dados são preocupantes, dignos de uma reflexão minuciosa e crítica com relação aos Cáceres privados nos Estados Unidos. Os resultados apontam que há um interesse de manter humanos na cadeia. Que providências o governo americano tomará para reverter esses dados? Segundo Barata a gênese do racismo, tanto na América Latina como nos Estados Unidos, não é endógena, não é proveniente da cultura nem da ideologia, na verdade ela tem raízes evidentemente econômicas. Os dados mostram o interesse de uma sociedade que cultua no discurso teórico a liberdade humana, sendo que na prática percebemos resultados, no mínimo constrangedores.
Nilton Oliveira
Enviar um comentário