quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Creative Commons e polêmicas

Gostaria de chamar atenção para uma polêmica que está em debate devido ao fato de uma empresa ter utilizado uma imagem de uma menina, publicada num fotoblog pelo seu tutor.
A imagem foi utilizada por uma campainha telefônica para uma campanha comercial na Austrália. Maiores detalhes do caso, ver a reportagem publicada pelo Portal Terra, na seção Internet.

A imagem foi utilizada sem qualquer aviso ou pagamento, isto porque foi publicada na Internet sob a licença Creative Commons, numa modalidade que dá direitos comerciais sobre as criações, pedindo aos utilizadores apenas que creditem o autor, citando seu nome e como encontrá-lo.

Observando a opção default do Flickr, verifica-se que está pré-selecionado "TODOS OS DIREITOS RESERVADOS". Para as fotos em questão estarem sob alguma licença Creative Commons, foi opção da usuária. E essa opção exige que você passe por diversos passos e escolha entre vários tipos de licenças que a Creative Commons oferece. Ou seja, não é algo comum que alguém possa fazer inadvertidamente. A menos que não leia as instruções que são apresentadas passo-a-passo. O que gostaria de chamar atenção neste site, uma vez que sou apologista da Creative Commons e faço com todo gosto e orgulho promoção deste sistema de licenças, é que os usuários ao optarem por publicar conteúdos na Internet ou em qualquer outra forma pública de acesso, tenham o cuidado de analisar as possíveis implicações que podem ocorrer caso não sejam tomadas as medidas certas previamente.

Numa era em que publicamos nossas fotos, diários, poemas, textos, crônicas, etc., abertamente ao ciberespaço, é preciso estar atento para os possíveis usos que podem ser feitos desses materiais por pessoas e organizações mal intencionadas. Publicar fotos no Orkut, no Hi5, no Flickr ou em qualquer site sem determinar os direitos que quer ter sobre elas é um risco que a maioria das pessoas não está ainda preparada a prevenir-se. A questão complica-se no caso de publicar fotos de terceiros, amigos, parentes, etc... Já me deparei em tempos com fotos minhas sendo publicadas em sites de relacionamento por amigos, sem a minha prévia autorização. A questão ficou chata quando o site do tal amigo foi clonado (faking). Neste caso me bastaram as suas desculpas, embora tenha ficado extremamente chateado e perturbado com a situação. Se fosse uma situação que envolvesse questões de direito sobre imagem, a coisa seria mais complicada de resolver.

Pensemos nisso. Não custa perder alguns minutos e refletir sobre a melhor licença Creative Commons que pode garantir os nossos direitos e permitir a nossa liberdade de partilhar materiais na Internet com maios segurança.

Comissão Européia e Microsoft: uma guerra entre titãs

Finalmente o mega trust do “senhor braço de ferro” Steve Ballmer se deu por vencida e fechou um acordo com a Comissão Européia. Segundo fontes do Jornal O Globo, a empresa já acumula uma multa de € 280,5 milhões (U$ 400 milhões) por não cumprir determinações da União Européia, onde foi julgada de estar desenvolvendo práticas comerciais não competitivas. Agora a empresa vai ter de abrir partes do código-fonte do Windows Media Player e torná-lo um aplicativo a parte do sistema operacional Windows; vai ter de fornecer mais e melhores informações de interoperabilidade para seus concorrentes e, principalmente, reduzir o custo de royalties pagos pelo uso de seus programas por empresas que desenvolvem softwares aplicativos para rodar sobre seu sistema operativo.

Segundo informações da agência Reuters, publicadas pela UOL Tecnologias, a Comissão divulgou que a Microsoft fez mudanças substanciais em seu programa de royalties. Em primeiro lugar, os produtores de software livre poderão acessar e usar as informações de interoperabilidade. Em segundo, os direitos autorais a serem pagos pelo acesso a essas informações serão reduzidos para um pagamento único de 10 mil euros (cerca de US$ 14,16 mil). Além disso, os royalties de uma licença mundial, incluindo patentes, serão reduzidos de 5,95% para 0,4%.

A questão do acordo já era de ser esperada. Muitos ativistas do movimento software livre estão de olhos bem abertos acompanhando os termos do acordo estabelecido entre a Comissão e a empresa, pois acreditam que o motivo da Microsoft ter aceitado assinar um acordo dessa monta em primeira instância ainda está por vir às claras. Uma das explicações para o rápido aceite da empresa talvez tivesse sido a aplicação de uma multa diária no valor de U$ 4,5 milhões, por não acatar as decisões da Comissão Européia. A teimosia e a prepotência do testa de ferro administrativo da Mega-corporação já estava assumindo valores impraticáveis o que poderia comprometer a saúde financeira da empresa caso uma medida não fosse logo tomada. Uma medida como essa, quiçá, é algo para ser copiado por outros tribunais em vários cantos do mundo. Parece que só mexendo fundo e em grande no bolso é que as decisões são levadas a sério.

De qualquer forma, os termos do acordo não são completamente desfavoráveis à Microsoft, como era de se esperar, numa leitura rápida e sem exigir conhecimentos jurídicos, pode-se perceber que Ballmer conseguiu articular seus interesses por detrás dos panos e garantir a sua hegemonia e seu precioso “código-fonte”. Vejam a sutileza desta pequena parte do FAQ publicado no site da Comissão:



“Open source software developers use various “open source” licences to distribute their software. Some of these licences are incompatible with the patent licence offered by Microsoft. It is up to the commercial open source distributors to ensure that their software products do not infringe upon Microsoft’s patents. If they consider that one or more of Microsoft’s patents would apply to their software product, they can either design around these patents, challenge their validity or take a patent licence from Microsoft.”



Ninguém dá ponto sem nó, e não seria a mega-corporação mais bem sucedida do imperialismo capitalista que daria. Mas já vale esta importante vitória contra os “intocáveis e imutáveis” do capitalismo. Quando o assunto é Mercado, o buraco fica mais embaixo, já deveria dizer Adam Smith se fosse brasileiro.

Abraços e boa vitória a todos que acreditam e lutam contra a hegemonia informacional.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Olhares!


Esta tela é a minha preferida. Não tenho muitas, mas essa me toca em especial.
Hoje repousa sobre uma parede de um quarto da velha Coimbra, longe das galerias dos artistas, encerrada num quarto comum, de um cidadão comum. Talvez porque a verdadeira arte realiza-se assim, naturalmente e individualmente. Lembro-me de alguns textos que li dos autores da Escola de Frankfurt sobre a instrumentalização da arte, da técnica, etc. Não gosto da idéia de uma arte instrumentalizada por isso prefiro a idéia de deixá-la repousar sossegada e incólume longe dos holofotes mercadorizantes. A pessoa que adormece todos os dias a olhar para ela não sabe quase nada sobre ela, nem quem a pintou, nem tampouco que o seu título é "Olhares". A assinatura do autor é completamente desconhecida do círculo crítico de arte local e o proprietário não sabe nada de arte plástica, apens gostou do colorido da tela. O nome nasceu assim, como nascem quase todas as minhas inspirações artísticas. Ocorrem sempre depois de alguma coisa que me marcou profundamente. Neste caso, deu-se depois da aula inaugural do programa de doutoramento que hoje curso, onde se falou muito em olhares, olhar do colonizador, do colonizado, dos enganos produzidos entre um e outro etc. e das confusões que se criaram por causa desses enganos... isso ficou-me na cabeça, tanto que batizei esse momento de inspiração com esse nome no plural.

Recriando uma infância

Quando não consigo explicações racionais para os problemas mais naturais, fujo para as artes e extravaso o acumulado de sentimentos ora num poema, ora numa crônica, ora numa tela. Uma das minhas últimas tentativas de desafogar os sentimentos (sempre agônicos), tem sido a experiência de reescrever a minha infância. Por vezes resulta meio reinventada, mas sempre baseada em algum fato que me aconteceu algures no tempo e no espaço que já vivi. A crônica que segue é um exemplo desse lampejar de luz e do reflexo que produziu em mim. Espero que percebam na sutileza das entrelinhas literárias o conteúdo daquilo que sou, e assim possam conhecer-me melhor. Voilá!

Como nasce um projeto social (individual)

Minha mãe sempre me ensinou a dividir. Coisa complicada essa história da divisão. Já no infantário fiz a minha primeira experiência matemática do equilíbrio e da justiça social. Mais tarde voltei a estudar a mesma história numa tal teoria complexa, que de tão sólida se desfez no ar. Mas a minha experiência não desapareceu de minha memória e está gravada como marca indelével. Foi com o meu amigo diferente, que fiz minha primeira aula de matemática-sociológica. Disse-me a professora que ele era pobrezinho, por isso não levava lanche para o recreio. Por este fato, fomos todos motivados a dividir o que tínhamos com ele. Era uma riqueza de bolachas, biscoitos de todos os tipos, maças e “ki-sucos” de todos os sabores. Aprendemos assim a fazer uma divisão, cada um de nós dava uma parte do que tinha na lancheira para o escurinho. Funcionou nos primeiros dias, mas não para sempre. Dias depois, eu que era muito inteligente, percebi que o dito cujo estava a acumular riquezas. Recebia tanto que não conseguia comer tudo e metia um bom bocado do que sobrava na sua lancheira, que sempre chegava vazia e voltava abarrotada.
– Injustiça! fui logo gritando, querendo resolver o problema social – Se não tens fome devolve minhas bolachas, isso não é justo! Era por justiça que eu reagia daquela forma explosiva, não por maldade, nem por egoísmo.
– Zóio azul – respondeu ele – não é falta de fome não, isso até tenho bastante. Não comi tudo para sobrar um bocadinho para dividir com meus três irmãozinhos que estão em casa.
Foi ai que eu aprendi que o mundo é maior que o meu mundo particular e que eu não poderia resolver sozinho o problema da divisão das riquezas, porque sempre haveriam desigualdades e necessidades para dividir. O que ainda não entendo bem é essa minha natureza teimosa e utópica. Nunca consigo desistir de tentar; tenho sempre a esperança de conseguir e por isso sigo fazendo contas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Os enganos dos olhares e a Open Source Initiative (OSI) com a Microsoft


A Microsoft tenta trabalhar de todas as formas para confundir o público e desfocar as atenções das acusações que sobre si recaem advinda dos defensores do open source e do movimento software livre. Recentemente andou a divulgar uma proposta de dois modelos de licenças intituladas Microsoft Public License (Ms-PL) and the Microsoft Reciprocal License (Ms-RL), divulgadas e aprovadas no programa OpenSource Initiative. Segundo os termos destas licenças “shared source”, bastante ambíguos, deixa a entender que os programadores e estudantes de informática podem trabalhar com o código-fonte e desenvolver projetos a partir dos códigos fornecidos pela Microsoft. Entretanto, várias das condições contidas na tal shared source limitam bastante a liberdade do programador e podem colocá-lo numa situação de risco legal, ao infringir, por desconhecimento, os termos que possuem.

Essa iniciativa da Microsoft tenta apenas divulgar ao largo a idéia de que também ela possui iniciativas open source, o que não é verdade. O jogo de ataques está se acirrando cada vez mais e parece que a Microsoft está definitivamente se sentindo ameaçada pela concorrência dos “adversários”. Quem diria!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007


O Google colocou no ar o Google Book.
Neste sítio, ainda em versão Beta (teste), os internautas poderão fazer o download e imprimir na íntegra diversos livros, cujos direitos autorais expiraram, escritos por grandes autores, como Dante, Victor Hugo e William Shakespeare, dentre outros.
A busca pode ser realizada no link http://books.google.com/. Para verificar se o livro está disponível por inteiro, basta clicar na opção "full view".
Através deste projeto, o Google disponbilizará clássicos da literatura mundial para um grande contigente de pessoas, uma ótima iniciativa que com certeza incentivará e intensificará a luta pelo acesso livre ao conhecimento. O Google informou que a opção não está disponível para obras protegidas por direitos autorais.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O processo de colonização tecnológica da Microsoft agora nos Telecentros

Uma das principais frentes de luta do movimento software livre é, desde sempre, a inclusão digital. São inúmeras as iniciativas desempenhadas neste sentido, desde o enorme empenho em criar uma tecnologia acessível financeiramente ou até mesmo gratuita a todos os usuários interessados, até a melhoria dos padrões gráficos e visuais para torná-las cada vez mais amigáveis aos não-técnicos e àqueles que estão a iniciar o uso de tecnologias de informação e de comunicação mediadas por computador.

Uma das primeiras ações de peso do movimento foi a promoção de projetos de inclusão digital que foram oferecidos a algumas prefeituras, e que deram tamanho sucesso, como os casos dos Telecentros de Porto Alegre, os Telecentros de São Paulo e outras iniciativas. Os Telecentros de São Paulo foram criados para oferecer a toda a população, principalmente a mais carenciada de recursos, um espaço onde pudessem aprender e a utilizar os meios tecnológicos disponíveis em um computador ligado à Internet, imprimir documentos, pagar contas, mandar e-mail, tratar assuntos de e-Gov, trabalhos escolares, pesquisas e buscas na rede, etc. Sempre foi pensado como um espaço de cidadania e possuem uma estrutura organizacional muito interessante.

Os telecentros geralmente só são instalados em comunidades onde existam infra estrutura de mobilização social, pois a intenção é que eles se auto-gestionem por uma comissão local e não sejam mais uma ação pública, como todas as outras, de caris paternalistas. Desde o início, o projeto só foi viável porque contou com a participação de técnicos e engenheiros de software comprometidos com a causa do código-aberto, pois os recursos sempre foram escassos e seria inviável solicitar a aprovação de um projeto como este utilizando software proprietário. Neste sentido, a prefeitura de São Paulo entrava com a montagem da infra-estrutura material, apoio técnico e tecnológico por um determinado período, paga algumas contas fixas, como energia elétrica e água e, no mais, são criados comitês gestores da própria comunidade para gerir e determinar os objetivos e as finalidades dos telecentros, a forma de organização do espaço, a forma de acesso, etc. Entretanto, os recursos sempre foram públicos e de doações. Em alguns casos cobrou-se uma taxa de inscrição ou de utilização por algum serviço, tipo impressão, etc... apenas para cobrir os gastos administrativos que não eram suportados pela prefeitura. E estava a funcionar muito bem... os telecentros acumulam histórias de sucesso contadas em livros, dissertações e monografias acadêmicas, congressos, fóruns, palestras. E toda essas histórias estiveram sempre associadas diretamente a experiência de uso de softwares livres nos telecentros.

Ontem, foi marcado um encontro entre a Prefeitura de São Paulo e a Microsoft. A Empresa ao perceber o sucesso da experiência dos telecentros, que mesmo contra-a-corrente conseguiu demarcar seu território e fazer a diferença, e com medo da perda constante de futuros usuários desta tecnologia, ou melhor, de indivíduos adestrados apenas na sua tecnologia, resolveu doar à Prefeitura licenças do Windows e de outros programas aplicativos para a Secretaria de Participação e Parceria (SEPP). Ao longo de 2008, os 170 telecentros atuais da prefeitura serão adaptados para aceitar os dois sistemas operacionais, Linux e Windows. E os 130 telecentros planejados já serão entregues com os dois sistemas. Em cada computador, haverá uma parte do disco com Windows e outra parte com Linux.

Eu não me oponho à utilização deste sistema, até porque defendo a liberdade de escolha, e se falamos em inclusão digital, devemos pensar em dar oportunidades de escolha aos nossos sujeitos dotados de capacidades de discernimento. A questão é a inversão de discurso com a atual administração da Prefeitura de São Paulo.
Francisco Buonafina, chefe de gabinete da SEPP-SP, declarou ontem ao TI&Governo que esta ajuda é muito importante, porque a prefeitura poderá incluir muito mais pessoas contando com o sistema Windows, pois tem muitos mais cursos preparados neste sistema e poderá alcançar mais pessoas. Nesta pequena declaração o secretário está pondo em causa o princípio básico de escolha. Se a adesão ao Windows vai-se fazer em detrimento ao uso e promoção do softwares de código-aberto, podemos dizer que a mega-corporação, mais uma vez, está chegando e “colonizando” o espaço democrático construído com tanto sacrifício durante anos de luta.

Depois continua o secretário: “Cada telecentro da prefeitura tem 20 PCs, informa Francisco Buonafina. Pelo preço de mercado do Windows Vista Home Premium, R$ 499,00, a doação vale uns R$ 3 milhões (sem contar descontos por volume e descontos especiais para órgãos do governo). No futuro, diz Francisco, a meta é fazer com que os telecentros se tornem auto-sustentáveis. Hoje, a prefeitura gasta R$ 15 mil para reformar o espaço e, depois, R$ 1.100,00 por mês para pagar água, luz, telefone e Internet. Senão o estado fica bancando os telecentros eternamente. O que é um horror.” (fonte: TI&Governo, no.226 ano 5). Ou seja, a prefeitura já começa a pensar que o projeto de inclusão digital é um peso e não uma obrigação pública. A prefeitura já começa a querer se livrar do compromisso, que para seu secretário é um “horror” investir nesse tipo de ação. Tenho medo do que virá em seguida, sinceramente!

Por este, e por outros motivos que percebo que a luta nunca chegará ao fim. Enquanto existir hegemonias, haverá sempre dominadores e dominados. É preciso lutar firmemente contra elas. Povo dos telecentros, ativistas do movimento software livre, simpatizantes e engajados, vamos começar a abrir nossos olhos e ficarmos atentos a mais este “processo de colonização” induzida que começa a ser operado junto de uma conquista suada e que tanto nos orgulha.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Projeto de Lei: Dispõe sobre o financiamento de desenvolvimento de softwares livres

Por pedido do amigo Sérgio Amadeu, grande ativista e promotor do software livre, reproduzo abaixo o texto que considero de grande importância e subscrevo.

Para incentivar o desenvolvimento de software livre no Brasil propomos que o Congresso Nacional aprove o Projeto de Lei abaixo. Quando estive no governo, percebi que o Fundo que concentra os recursos da Lei de Informática é majoritariamente aplicado em software proprietário. Conversando com várias pessoas da comunidade, achamos que deveríamos reivindicar que uma parte dos recursos do Fundo fosse destinado para os desenvolvimento de projetos de software livre. Hoje, vários projetos não têm incentivo algum. Vinte por cento de aproximadamente 70 milhões anuais do Fundo é um recurso indispensável para alavancar a criatividade e a inovação de milhares de desenvolvedores de código-aberto e não-proprietário.

Se você quer apoiar este projeto deixe um recado aqui. Vamos aumentar nossa lista de apoiadores. Nessa semana o João Cassino e o Bimbo estarão conversando com alguns deputados para apresentar este projeto. O deputado Paulo Teixeira de São Paulo que teve uma atuação decisiva para a derrota do padrão OOXML já se dispôs a apresentar o projeto e batalhar pela sua aprovação. Junte-se a nós.

Ah! Peço que reproduzam nos blogs e listas o projeto.

Sérgio Amadeu da Silveira

Projeto de Lei, dispõe sobre o financiamento de desenvolvimento de softwares livres.

Art. 1º Vinte por cento (20%) dos recursos anualmente gastos pelo CTInfo - Fundo Setorial para Tecnologia da Informação (instrumento de criação: Lei nº10.176, de 11.01.2001), deverão ser destinados para o desenvolvimento de softwares livres.

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - Software: programa de computador. Sequência de instruções a serem seguidas e/ou executadas, na manipulação, redirecionamento ou modificação de um dado/informação ou acontecimento. II - Software livre: qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído sem nenhuma restrição. A maneira usual de distribuição de software livre é anexar a este uma licença de software livre, e tornar o código fonte do programa disponível.

Art. 3º Poderão solicitar o financiamento, a qualquer tempo, combinando recursos reembolsáveis e não-reembolsáveis, empresas, universidades, institutos tecnológicos, centros de pesquisa, cooperativas e outras instituições públicas ou privadas, inclusivecomunidades de desenvolvedores, através de editais lançados pelo CTInfo.

Art. 4º Os projetos de software livre deverão ser aprovados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio de um conselho composto por integrantes da comunidade de software livre, instituído por uma portaria do MCT.

Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 6° Revogam-se as disposições em contrário.

ASSINAM:
Antonio Terceiro; Carlos Cecconi; Deivi Lopes Kuhn; João Cassino; Jomar Silva; Júlio Neves; Livia Sobota; Marcelo Marques; Mário Teza; Pedro A. D. Rezende; Ricardo Bimbo; Rodolfo Avelino; Rubens Queiroz de Almeida; Sergio Amadeu da Silveira; Sérgio Rosa; Vicente Aguiar; Wagner Meira Jr.

Para assinar como apoiador, peço a gentileza de deixar um comentário com o seu nome completo que depois reunirei todos e encaminharei para a coordenação da campanha.

Você tem um Exu “tranca Tese”???

Fazer um mestrado ou um doutoramento nunca é uma tarefa fácil. Só é fácil quando ele não é bem feito. O processo de adaptação à vida acadêmica é sempre tortuoso, começa no curso universitário, sendo inúmeras vezes intensificadas a partir do mestrado, com seus prazos cada vez mais reduzidos, falta de financiamento, com as duplas jornadas de trabalho e estudo tendo que ser levadas conjuntamente, etc. No doutoramento, em geral, tudo isso ainda é em duplicado. E tem a tal da Tese que precisa ser escrita, que exige tempo, criatividade, concentração, dedicação, inovação, relevância, pertinência, coerência e uma série de outros adjetivos que seria impossível listar todos, pois crescem a cada dia.

Os estudantes/pesquisadores brasileiros estão tão habituados a terem desses problemas durante o seu período de formação que resolveram arranjar explicações extra-científicas para justificar os seus infortúnios. Foram buscar na mitologia afro-brasileira uma possível causa e parecem ter encontrado. Trata-se da existência de um Exu.

Na comunidade virtual do Orkut foi criada uma comunidade intitulada “Exu Tranca Tese”, com a seguinte descrição:

“Você está na reta final da sua tese, dissertação ou monografia??? Você sente que existe uma força misteriosa que tira seu ânimo? Faz seu orientador adoecer ou sumir do mapa inexplicavelmente? Seu computador quebra ou é roubado com todos os seus dados e análises? Lamento ser o portador dessa má notícia, mas...VOCÊ TEM UM EXU TRANCA TESE NA SUA VIDA!!! Junte-se a nós para exorcizar essa entidade que tantos problemas nos traz!!!”.

Incrivelmente, apesar de contar basicamente com a maioria dos membros sendo “cientistas”, que por natureza procuram ser extremamente racionais, ela já conta hoje com 1084 membros. Eu sou um dentre eles, off course.

E quantos dentre estes 1084 que já foram assolados pela entidade perversa não teve o desprazer de se deparar com a famosa “tela azul” com a inscrição: “Has occurred a fatal error ....” ao utilizar o sistema operativo Windows da Microsoft? Tenho certeza que a grande maioria!!! E quando isso acontece nas vésperas de ter de entregar um projeto importante, um artigo com um dead-line apertadíssimo, no dia de imprimir a tese para entregar para a banca, ou situações semelhantes é que as pessoas começam a especular a possibilidade de encontrar uma alternativa e acreditar no tal do Exu. Pois é, isso também me aconteceu. Não uma, mas várias vezes. A mais recente foi ontem... depois de ter passado por uma experiência terrível no meio do ano, na véspera da qualificação do meu projeto de tese. Foi uma daquelas coisas que as vezes parecem não ter explicações racionais e que nos fazem acreditar naqueles planos mitológicos que povoam o imaginário social. Por isso nem pensei duas vezes, juntei-me ao grupo para exorcizar o encosto imediatamente.

Depois de refletir pra cá e pra lá, percebi que em todas as vezes que me acontecem coisas que atrapalham a vida, tais coisas estão sempre relacionadas com as diabruras da Microsoft, ou ao menos são frutos das impossibilidades que ela provoca no andamento dos meus trabalhos. Por isso, queria dizer aos meus caros confrades da comunidade que identifiquei o nome e o sobrenome do meu Exu, chama-se: Microsoft Windows.

domingo, 14 de outubro de 2007

Pra não dizer que não falei das flores! Programas em ODF e Distros GNU/Linux


No dia 12 deste mês postei um texto intitulado “Sopa de letrinhas e "Open Document Format Alliance", a falar sobre os benefícios da ODF em relação aos formatos proprietários. Ontem o amigo Nuno mandou-me um link, que por sinal já conhecia, mas que resolvi partilhar neste blog, como exemplo de tecnologias livres baseadas em formato ODF, que podem ser baixadas e instaladas em qualquer computador, serem testadas e produzirem documentos em formato livre.

Trata-se do conjunto de aplicativos Lotus Symphony, da IBM. São três programinhas disponíveis que podem ser baixados livremente e individualmente conforme o seu interesse e necessidade. São, por ora, os mais utilizados nos pacotes Office em geral, tanto das marcas proprietárias, como das open sources, ou seja, um editor de texto (IBM Lotus Symphony Documents), uma planilha de cálculos (IBM Lotus Symphony Spreadsheets) e um editor de apresentação multimídia (IBM Lotus Symphony Presentations).
Aos poucos irei partilhando opções livres neste blog. São muitos, graças a enorme rede de hackers mundial.

O diálogo com o Nuno iniciou um questionamento sobre qual é o melhor pacote de distribuição Linux em português para usuários domésticos. Em resposta, sugeri o Caixa Mágica, uma distribuição genuinamente portuguesa de ótima qualidade, com fácil suporte técnico e produzida por uma equipe extremamente comprometida e responsável. Existem outras em português, como o famoso Ubuntu, uma das distro mais utilizadas em todo o mundo por usuários não técnicos, com interfaces muito amigáveis e similares aos padrões gráficos do "Ruwindos", ganhando, entretanto e obviamente, na eficiência e na portabilidade e no tamanho (muitíssimamente mais leve que o Windows). Este último possui uma equipe de hackers portugueses a trabalhar intensamente para produzir constantemente as traduções para o português lusitano, e você também poderá optar pelo português do Brasil, ou manter os dois dicionários nos aplicativos de escritório (OpenOffice e BrOffice). Por falar em dicas, estão aí mais duas ótimas soluções de pacotes de aplicativos livres e gratuítos, inclusive podendo rodar no sistema operacional Windows sem nenhum problema.

O processo de escolha envolve alguns passos importantes, mas que podem ser reversíveis e sem traumas. Garanta sempre, antes de iniciar qualquer teste de um novo programa (principalmente sistema operacional), de fazer um back-up de todo o seu conteúdo. Estas duas opções de distro que citei tem a incrível vantagem de poderem ser baixados pela internet em poucos minutos, gravados em um CD-Rom (ou DVD-Rom), e antes mesmo de instalar o software no seu computador definitivamente, podem ser testados a partir de boot pelo drive CD/DVD de seu computador. Depois pode ser utilizado desta forma pelo tempo que quiser, com quase todas as funcionalidades do sistema operacional e dos aplicativos que ele comporta. Uma vez que estiver convencido das suas potencialidades e desejar realmente instalá-lo no seu computador, o processo de instalação no disco rígido é muito simples e auto-instrutivo. O próprio sistema de instalação realiza uma partição do disco, mantendo o sistema operacional original, cria uma segunda (ou terceira) partição com o sistema GNU/Linux e pronto! Depois é só optar por qual sistema operacional vai quer utilizar a cada inicialização.

You're not locked into proprietary file formats, software licensing agreements and upgrades. Finally, free tools and freedom of choice!

Então, experimente!

P.S.: Thanks for Nuno.

sábado, 13 de outubro de 2007

Eutanásia em Portugal: uma conseqüência, não uma opção!

Li hoje numa reportagem divulgada pela agência Lusa que uma grande parte dos idosos portugueses pensa na morte, mesmo sem estar a sofrer de alguma doença crônica ou terminal. Destes, 50% dos que possuem mais de 65 anos admite a legalização da morte assistida, ou eutanásia. Lido assim, esses dados podem ser alarmantes e desalentadores. Portugal, como a maioria dos países europeus, possui uma população média bastante envelhecida e ao chegarem na “terceira idade” (???) já não sentem mais estímulo para continuar a viver. Algumas hipóteses que poderiam justificar os dados apontados poderiam ser:
1) a população idosa lusitana talvez não se sinta mais produtiva, útil para a família e para a sociedade considerando-se um problema e por este motivo não encontram motivos para dar continuidade a uma existência que não “produz”. Mais uma vez aqui está o reflexo de uma cosmologia ocidental do progresso, que sobrevaloriza o “novo”, como próspero, em detrimento do “velho”, como algo detestável e que deve ser rejeitado;
2) a falência do “Estado de providência” um pouco por todo o lado, mas especialmente em Portugal, que nunca teve assegurado uma seguridade a sério, pode estar colocando a população envelhecida num beco sem saída. A falta de recursos e o descaso pela situação desta parcela considerável da população, a demora no atendimento de saúde, o encerramento de hospitais, a pouca co-participação do governo na manutenção de uma vida exigente e cada vez mais cara, pode estar levando os portugueses envelhecidos a uma situação de desespero e de medo do sofrimento. Uma das alternativas seria encerrar a vida, motivada as vezes pela hipótese anterior;
3) uma terceira possibilidade explicativa seria a crescente secularização da população portuguesa (que particularmente não acredito ser muito grande), que permitiria a opção por violações de princípios inegáveis, como o direito à vida. Os princípios religiosos já não seriam mais um impeditivo para se pensar em aborto, eutanásia, pena de morte, etc. e a radicalização do princípio liberal de liberdade individual teria vencido os velhos princípios regulatórios morais de cunho religioso;
4) uma quarta hipótese que poderia ser levantada é que a população envelhecida por anos de sofrimento e de luta já encontra-se cansada, e diante da realidade concreta, e desanimados com as mudanças que nunca chegam, perdem a esperança e a vontade viver neste mundo, e começam a apostar, alguns, numa outra vida menos desalentadora. Esta seria, de fato, uma constatação extremamente cruel e que mereceria total relevância num estudo mais acurado sobre o tema;
Estas são apenas algumas especulações de hipóteses explicatórias coletivas, numa perspectiva que poderia ser analisada pelo viés psicossocial. Certamente que do ponto de vista das motivações individuais, a lista aumentaria em muito. A atualidade em constante mutação, a fragilidade da segurança, a sociedade de risco, a globalização hegemônica desenfreada estariam criando um mundo sem utopias e sem esperanças, em outros termos, sem uma motivação objetiva que assegure a defesa da vida fora dos padrões daquilo que é definido como saudável, bom, seguro, estável, normal, padrão (valores ocidentais eurocêntricos ???).
Entretanto, este seria um prisma analítico se os dados fossem tomados como gerais se refletissem a maioria da totalidade da população lusitana. Não é o caso! Como todo empreendimento científico, parte de um recorte. A pesquisa que originou os dados divulgados pela agência Luso é fruto de conclusões de um projeto desenvolvido pelo serviço de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Durante um ano recolheram dados junto de uma população selecionada de 815 idosos, institucionalizados em lares e residências de terceira idade em todo o território nacional, incluindo as regiões autônomas da Madeira e dos Açores. Aqui está o elemento que nos permite então delimitar o universo e orientar as nossas hipóteses.
A população estudada é de idosos que, de alguma forma, encontram-se em lares e residências de acolhimento, não em suas famílias naturais, não em suas casas com suas vidas independentes, não nas suas aldeias e junto de sua vida cultural construída durante anos. É uma população que está praticamente encarcerada em instituições artificiais, em casas-hospitais, em depósitos de velharias, parados, sentados diante de uma televisão durante todo o dia, a ver programas que não refletem em nada o seu universo cultural, sendo tratados por profissionais que, por ética e exigência das contingências, não podem desenvolver uma relação afetiva com seus “clientes”, mas apenas profissional prática e objetiva.
Não quero cometer injustiça generalizando que todos os lares de acolhimento de idosos operam desta forma. Existem experiências brilhantes de profissionais que extrapolam o meramente profissional. São criativos, afetivos, acolhedores, prazerosos, cheios de vida... Mas são casos raros e poucos para não falar caros. Os lares públicos que conheci são do tipo depósitos de velharias! Alguns são entidades que foram criadas sob demanda, utilizam recursos públicos, escassos, e não se preocupam em nada em oferecer mais do que o estritamente necessário para manter os velhos vivos, enquanto puderem, oferecendo emprego para alguns ainda não tão velhos.
Os dados desta investigação devem servir às autoridades competentes e a todos nós para refletir sobre o destino que queremos dar aos nossos e a nós mesmos no futuro. Isso passa por uma reviravolta nos nossos preceitos cosmológicos, com a conseqüente retomada da valorização do idoso, tornando-o um ser social importante e não apenas um peso. Isso é algo quase impossível em pensar numa sociedade de consumo, descartável e produtivista. Por isso advogamos que esta sociedade não nos serve... queremos construir outra. Eu, e muitos sabemos que um outro mundo é possível. E tu, acreditas????

Quem nasceu primeiro? (ou) Quem copia quem?


A Microsoft vai realizar um Install Fair no próximo dia 27 de Outubro em Redmond, na sede de sua empresa nos EUA. A idéia é instalar o Windows Vista SP1 em computadores de “clientes” que por lá andarem. Obviamente, a instalação até poderá ser gratuita, mas o software, não! A idéia foi copiada do Movimento Software Livre, que a anos realiza por toda parte no mundo os conhecidos IstallFests, ou festivais de instalação de Linux em computadores de usuários não técnicos, os chamados usuários comuns. Nestes festivais, além de fazerem demonstrações dos programas, os idealizadores e voluntários realizam instalações de aplicativos livres, migrações de sistemas operacionais e dão dicas e cursos de uso e adaptação para usuários “adestrados” quase sempre numa única tecnologia (leia-se, MS-Windows).
Segundo informações do Site do Istall Fair, o Service Pack 1 (SP1), primeiro pacote de atualizações para o Windows Vista, está previsto para ser disponibilizado no início no próximo ano. Deverá trazer melhoramentos em desempenho, segurança e compatibilidade com aplicativos. Atualmente, uma versão beta está nas mãos de um grupo de testadores, mas ainda num estágio muito restrito e insipiente da tecnologia. Uma versão, ainda beta, porém mais consistente deverá ser liberada ainda neste mês no evento Install Fair. Como os prazos não são muito o forte da Microsoft, pode ser que fiquem com a versão insipiente mesmo (lol). Digo isso porque, no ano passado a empresa realizou o seu primeiro Install Fair, na California. Na época foram instaladas versões betas do Windows Vista Ultimate. Foi quando a Microsoft prometeu dar uma cópia final do software aos participantes que testassem a tecnologia e contribuíssem para a sua melhoria. Entretanto, muitos dos testadores passaram largos apuros, pois o envio das versões demorou muito tempo a chegar, em alguns casos muitos meses depois que a versão beta já havia expirado a validade e os usuários tinham seus sistemas comprometidos e com uma tremenda dor de cabeça (coisas do Ruindows).
Agora a questão que me coloco é que, em plena época de troca de farpas entre a Microsoft e empresas que utilizam bases GNU/Linux, como o caso com a RedHat, em que a primeira acusa a segunda de ter copiado idéias da primeira, copiar uma idéia tão original como a dos IstallFests do Movimento Software Livre não me parece cair bem. Mas isso é apenas mais uma. A mais expressiva é a cópia por parte da Microsoft de padrões do Firefox, o principal concorrente do Internet Explorer. A versão 7.0, recentemente liberada é praticamente em tudo idêntica ao Firefox, excetuando-se as cores e disposições dos ícones. Inclusivamente o Internet Explorer passou a utilizar o sistema de “abas”, que fora uma das primeiras inovações do Firefox. E depois ficam nessa pendenga de saber quem nasceu primeiro: o ovo, ou a galinha.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

I Forum Software Livre Lisboa


Não poderia deixar de registrar, com muita satisfação que hoje (12/10/2006), dia das crianças no Brasil, nasce uma brilhante iniciativa que estava a ser gestada a muito tempo em Portugal. Durante dois dias, Lisboa sediará o seu precioso I Fórum Software Livre. Uma iniciativa muito almeijada pela comunidade software livre lusitana. Constam na lista de oradores e palestrantes inúmeros nomes de peso. O evento pretende divulgar e ampliar as ações de luta do movimento neste país que, infelizmente, tem um governo que assina acordos com a maior empresa de softwares americana, incluindo acordos de cooperação e investigação que a favorece.

Vale a pena conferir a programação que está muito bem recheada.

Infelizmente, por vários moivos, não poderei participar deste evento, com muito pesar, mesmo estando nestas terras de Cabral. Entretanto, vou estar acompanhando tudo pela Internet e pelos meios possíveis.

Confira a página do evento, que terá informações atualizadas constantemente, da ANSOL (Associação Nacional para o Software Livre) e tome conhecimentos das iniciativas do movimento em Portugal. Se puder, dê uma passada por lá e some esforços nesta maravilhosa empreitada.

Saudações luso-brasilieras a todos os colegas que promoveram este evento.

Sopa de letrinhas e "Open Document Format Alliance"

No início da revolução informática, mais precisamente na década de 1960, alguns estudiosos mais otimistas apostavam na substituição gradual do uso de papel (matéria física) pelo conteúdo digital (matéria virtual). Esta profecia, que parece bastante racional, acabou por não se concretizar na prática, pois os meios de impressão foram facilitados e a falta de confiança nos meios virtuais não permitia que a substituição fosse completa. Neste segundo caso, além dos arquivos digitais, é regra, ainda nos dias de hoje, manter um arquivo físico (de papel) como segurança.
É sobre esta questão da segurança que quero falar hoje. Uma das razões para as empresas e órgãos do governo (principalmente eles) ter medo de manter apenas arquivos digitais é a vulnerabilidade dos sistemas em que os documentos são produzidos e pela inacessibilidade da maioria deles em poder adaptar tais sistemas consoantes seus interesses e necessidades. Isso porque a maioria utiliza software proprietário, com código-fonte fechado, sem a possibilidade de adaptar os sistemas sem a autorização expressa da empresa fornecedora, mesmo que em alguns casos existam cláusulas contratuais que garantam que a empresa detentora do código tenha de efetuar este procedimento. Entretanto, neste último caso, se não for necessário um embate judicial para garantir o cumprimento desta cláusula, no mínimo o interessado teria de pagar para a empresa realizar o serviço, pagando o que ela pedir e sem ter a liberdade de optar escolher uma concorrente com melhor oferta.
Todo tem assistido anualmente uma atualização freqüente dos sistemas operativos e dos pacotes de aplicativos que nele funcionam. Muitos já se debateram com a inoportuna tarefa de tentar abrir um documento que foi feito num sistema anterior e ter a formatação toda baralhada, ou abrir um documento produzido num sistema operacional “X” num outro sistema operacional, e abrir uma imensidão de números e caracteres desconexos e sem formatação nenhuma. Foi por este motivo que se criou a Open Document Format Alliance, uma organização plural, internacional, que luta, segundo seus objetivos para “(...) educar os elaboradores de políticas, administradores de TI e o público em geral sobre os benefícios e oportunidades do Open Document Format, visando garantir que as informações, registros e documentos governamentais sejam acessíveis através de diversas plataformas e aplicativos, mesmo quando a tecnologia se altera hoje e no futuro”. (Fonte: http://www.br.odfalliance.org/). E seguem com a seguinte explicação: “Conforme os documentos e serviços têm, de forma crescente, se transformado de papel para um formato eletrônico, surge o problema de que os governos e seus constituintes podem não ser capazes de acessar, recuperar e utilizar registros críticos, informações e documentos no futuro. Para permitir ao setor público um maior controle e o gerenciamento direto de seus próprios registros, informações e documentos, a ODF Alliance busca promover e expandir a utilização do Open Document Format (ODF)” (Fonte: Idem).
A Alliance foi lançada em 3 de Março de 2006 com mais de 36 membros de diversos países (veja a lista de membros por regiões). A filiação é aberta a todas as organizações que estiverem comprometidas com os objetivos da Alliance. Atualmente este número aumentou muito e já se contam nas centenas de membros espalhados nos cinco continentes. O Brasil já tem 29 empresas privadas e instituições públicas e não-governamentais como membros do projeto e a trabalhar na produção e discussão e promoção do ODF. Portugal tem 16.
Esta é uma iniciativa que me parece legítima, que deve ser apoiada, divulgada e promovida, principalmente nas esferas governamentais, públicas, universidades, etc., onde os conteúdos e conhecimentos devem estar disponíveis hoje e amanhã, e não podem estar à mercê da boa vontade (se é que existe) de mega corporações que só visam interesses econômicos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Você conhece a iniciativa Creative Commons? Não????


O Creative Commons Brasil disponibiliza opções flexíveis de licenças que garantem proteção e liberdade para artistas e autores. Partindo da idéia de "todos os direitos reservados" do direito autoral tradicional a licença foi recriada e transformada em "alguns direitos reservados".
Existe um site específico com todas as informações necessárias para proteger o seu trabalho, a sua tese, os seus poemas, os seus vídeos, a suas músicas, e até mesmo os textos do seu blog (o meu já está protegido! Veja na coluna ao lado), dentre outras criações. Visite e divulgue essa iniciativa que quer garantir a liberdade de acessos e de produção, protegendo direitos autorais. Um exemplo de peso que gostaria de citar é a Biblioteca Digital Jurídica do Superior Tribunal de Justiça, a mais nova iniciativa disponibilizada em Creative Commons. Segundo informações do próprio site da Creative Commons, a BDJur/STJ é uma iniciativa de acesso livre à informação. Integra o Consórcio BDJur, uma rede de bibliotecas digitais formada pelo Poder Judiciário e órgãos essenciais e auxiliares da Justiça. Sua missão é prover o acesso gratuito a informações jurídicas de interesse à sociedade, em formato digital e inteiro teor. No repositório é possível encontrar doutrina, legislação e jurisprudência, assim como palestras, discursos, teses e outros materiais pertinentes à atividade judicante.Com este espírito, todo o material do website está disponível ao público sob uma licença Atribuição - Uso Não Comercial - Compartilhamento pela mesma Licença do Creative Commons.

Tux de jangada: os cearenses dando bom exemplo!


Fiquei feliz com a notícia que li no Site do Projeto Software Livre Brasil sobre a iniciativa do governo do Ceará. Depois do post desalentador do dia 10/10, esta é uma ótima notícia. É o seguinte, o governo do estado do Ceará planeja trocar os sistemas proprietários por sistemas de software livre. É a primeira vez que o governo do Ceará faz uma ação forte para usar software livre — hoje, o governo do estado cearense gasta R$ 12.834.000,00 com licenças de software proprietários. A idéia é cortar os custos e revertes os recursos em projetos de educação e de inclusão digital e de aperfeiçoamento do parque tecnológico da máquina estadual e, conseqüentemente, gerando tecnologia local com o financiamento de pesquisa e desenvolvimento no estado para suprir as suas necessidades. Sem falar de que ficarão livres e independentes de oligopólios internacionais que cobram em dólar. Para coordenar a mudança, Lícia Viana Bezerra, assessora de estratégias de TI da Secretaria de Planejamento e Gestão, montou um grupo de trabalho com 15 técnicos de vários setores e órgãos do governo. Este primeiro passo já garante trabalho para especialistas cearenses e não lá de fora.

(A secretaria publicou os detalhes na portaria 316/2007.) Nos últimos dois meses, eles se reuniram semanalmente para criar políticas, normas e padrões de uso do software livre. Usando as normas como referência, as secretarias e os órgãos do governo devem organizar a migração, o treinamento e as atividades de suporte. Os técnicos da empresa de TI de Ceará, a Etice, também ajudarão na migração. Lícia pretende começar as mudanças nos sistemas de administração, de workflow, de escritório, além de e-mail, colaboração e gestão de conteúdo para a Internet. “Nessas áreas, podemos mudar sem trauma, sem mexer nos sistemas legados.” Até dezembro, Lícia e equipe pretendem instalar software livre em 12 mil máquinas — ou 30% das 40 mil máquinas do estado. No próximo ano, além de terminar a migração das máquinas administrativas, Lícia também pretende migrar o banco de dados e outros sistemas de gestão. O projeto de software livre tem o apoio do governador Cid Gomes (PSB). Quando Cid Gomes foi prefeito de Sobral, tocou um projeto de apoio ao software livre, e resolveu repetir a experiência no Ceará inteiro.

Achei muito importante ressaltar esta experiência que não é de toda nova no Brasil. Outros estados já iniciaram projetos similares como o pioneiro Rio Grande do Sul, partes de órgãos governamentais de Santa Catarina e outros.

Sucesso e vida longa ao projeto cearense. Espero poder conhecê-lo na minha viagem de campo no início do próximo ano.
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E tem mais coisa boa acontecendo no Ceará:

Fortaleza sedia o maior evento de Software Livre do Nordeste
O Ceará Terra da Luz se transforma na Terra do Software Livre entre os dias 19 e 21 de outubro, quando abre as portas do III Fórum Cearense de Software Livre.Na programação do evento, 43 palestras, 28 seminários e 8 minicursos aguardam o público estimado em mil e oitocentos participantes. O evento também apresenta um install fest, ação em que instalações gratuítas de software livre são oferecidas aos visitantes que levam os seus computadores ao FCSL nos dois últimos dias. Veja mais no site do evento.
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P.S.: Este post é em homenagem a minha amiga Meire, que estuda o SUL dentro do Nordeste Brasileiro, é usuária de tecnologia livre, e é da terrinha.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Software livre pode ajudar a combater a fome no Brasil ????



Quando iniciei minha incursão de investigador sobre a temática do Software Livre uma das primeiras questões que me chamou a atenção foi o valor exorbitante de recursos que são gastos no pagamento de licença de softwares pelo governo federal brasileiro por ano. Naquele ano, iniciava-se o primeiro mandato do governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. O presidente-operário que durante anos de campanha havia prometido combater a fome da população empobrecida brasileira lançou logo nos primeiros meses de mandato o famoso “Projeto Fome Zero”. Segundo os princípios mais gerais, o objetivo deste programa era garantir que cada cidadão brasileiro, mesmo aqueles que estão em pobreza extrema, tivesse no mínimo três refeições diárias dignas e consistentes. Lembro-me que na época ocorreram várias movimentações e campanhas para angariar os fundos necessários para o objetivo ser alcançado, pois segundo o Orçamento Geral da União, o país não possuía fundos próprios para custear o programa com recursos próprios. Levantaram-se economistas a fazer cálculos do valor necessário para garantir as tais refeições mínimas, calculando o número de “pobres” (ou miseráveis) e multiplicando pelo valor diário per capita dos miseráveis brasileiros; levantaram-se também muitos sociólogos engajados de plantão a promover campanhas de adesão da população que se encontra acima da linha da pobreza, na esperança de sensibilizar a “classe média” (ou as intermediárias – não as ricas) a fazerem doações numa conta bancária específica que concentraria os recursos; também se levantaram os bons artistas e desportistas famosos do país a doar lingeries, camisas suadas em jogos da seleção, etc., para serem realizados leilões para angariar o dinheiro necessário. Nada foi suficiente. Somando-se os recursos de doações de empresas, doações de pessoas singulares, renda dos tais leilões, recursos de projetos governamentais que foram canalizados para o projeto, e nada conseguiu resolver o problema da fome no país.
Então os “especialistas” do governo resolveram apostar na continuidade dos subsídios das famigeradas “bolsas isso”, “bolsas aquilo” implementadas no governo anterior de Fernando Henrique Cardoso. A desculpa era que "o que é bom tem de ser continuado". Em tese foram uma infinidade de migalhas distribuídas sob a forma de Bolsa Escola, Bolsa Família, Bolsa Alimentação, Bolsa Saúde, etc... Bolsas quase "vazias", nada comparadas às fartas mesadas que os políticos ganhavam sob o título de “mensalão”, volumes tão vultuosos que alguns chegaram a ter de carregar uma parte dentro das cuecas, pois a bolsa em si era pequena para conter tanta quantidade de dinheiro.
Outro dia, Everton Rodrigues, um militante do movimento software livre denunciou que, de acordo com o Demonstrativo - Resumo Bolsa Família por Unidade da Federação (Estados + Distrito Federal) de Julho/2006 o governo federal atendeu 11.120.353 famílias no país e para isso, gastou R$ 683.130.503,00. No dia 30/08, a Receita federal gastou R$ 40.898.480,00 em licenças de software proprietário. Essa decisão não tem nenhuma justificativa plausível, apenas política. Segundo este militante, a Associação software livre pediu esclarecimentos, mas estes ainda nunca vieram. A comunidade BR Office (pacote de aplicativos muito similar ao Office da Microsoft, porém livre e gratuíto), mandou documento comparando funcionalidades do BR Office e Microsoft Office onde fica evidente que BR Office satisfaz todas as necessidades da Receita assim como as inúmeras esferas governamentais que já usam BR office, veja material publicado pela Associação Software Livre: http://www.softwarelivre.org/news/9827.
Está decisão parece apenas uma questão técnica, para a qual nós, pobres mortais não temos nada que ver. Porém a coisa não é bem assim, ela tem inúmeras conseqüências e nos apresenta algumas questões. Com esses 40 milhões que serão entregues à Microsoft, uma das empresas mais lucrativas do planeta, o governo federal poderia atender aproximadamente 1 milhão de pessoas por um ano no programa bolsa família. Por isso, fica a pergunta central na controvérsia toda: Qual devem ser nossas prioridades? E dela seguem-se outras, porque devemos aceitar a aplicação de recursos públicos para empresas multinacionais ao invés de usar software livre?, Porque não economizar 40 milhões que podem atender pessoas que passam fome as quais encontramos todos os momentos de nossas vidas? Porque não desenvolver tecnologia nacional com software livre ao invés de patrocinar uma mega empresa americana? Porque não apoiar o desenvolvimento de conhecimento no país com o financiamento de investigação e produção de tecnologia nacional? Porque não democratizar as tecnologias promovendo maior inclusão digital com apropriação, e não apenas com adestramento? Alguém consegue ajudar-me a responder estas questões? Estou enlouquecendo, pois percebo que a minha tese teria de encontrar respostas para todas elas... mas as vezes tenho a sensação que a resposta é uma só: falta de vontade política!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

O que é bom é para ser partilhado...

O Campus Party é o maior encontro presencial da cibercultura


“Onde é possível encontrar um jogador de Counter Strike e um astrônomo? Um aficcionado por modding e um desenvolvedor de software livre? Um professor de robótica e um músico tecno? Um produtor de microdocumentário e um roteirista de games? Será possível encontrar todas as comunidades que respiram tecnologia e partilham a cultura digital no Campus Party. É um evento típico de compartilhamento da nossa sociedade mediatizada”, é mais uma vez, a afirmação do nosso lema: “A Internet não é uma rede de computadores, é uma rede de pessoas”! Por isso, o que é bom é para ser partilhado... visite o site, se estiver no Brasil, visite o Campus Party, divulge aos amigos, seja parte real, virtual dessa brilhante iniciativa.

Apoio e assino embaixo desta equipe de criativos hackers e atores sociais.

Saiba mais sobre o evento:

A Campus Party é o maior encontro de comunidades da Internet do mundo. É um espaço pensado para incentivar o compartilhamento, a aprendizagem e a transferência de conhecimentos. Nele, durante 7 dias e 7 noites, milhares de participantes acampam em suas barracas, com seus computadores a tira-colo trocando momentos, idéias e experiências.É com esse mesmo espírito que carrega a Campus Party da Espanha, que de 11 a 18 de fevereiro de 2008 a Bienal do Ibirapuera será transformada numa grande cidade tecnológica.

Maiores informações:

http://www.campus-party.com.br/index.php3?SEC=15&action=HOME&SELECCIONADO=1&checksum=5b4123098b0c0db83c643064c59c9d42

Entrevista ao Coordenador do Campus Party Brasil 2008:

Assista a entrevista com Marcelo D'Elia Branco, coordenador do projeto Campu Party Brasil 2008, concedida ao Blog do El País, na Espanha, no encerramento do evento espanhol. Basta clicar no vídeo que encontra-se na coluna azul escura, na direita deste Blog, abaixo do perfil do autor.

domingo, 7 de outubro de 2007

O poder nas pedras e das pedras!


As pedras sempre foram entendidas como sinônimo de poder. Cristo virou-se para aquele a quem outorgaria o futuro de sua empreitada neste mundo dizendo: "Simão, tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja". Tenho percorrido algumas cidades de Portugal e da Europa e grande parte dos monumentos que resistiram aos tempos e que demonstram o grande poder destas cidades e regiões são monumentos de pedras: castelos, fortificações, edifícios, conventos, mosteiros, catedrais, tribunais, pelourinhos, cruzes, tudo de pedra. Símbolos da autoridade e da resistência do poder. Um poder que esmaga pelo peso e pela densidade.Alguns muitos deste monumentos hoje encontram-se cobertos de limo empretecido e desgastados pelo tempo, pois mesmo as pedras um dia viram areia. De fato, um dos grandes intelectuais já apregoava que "tudo o que é sólido se desmancha no ar". O engraçado é que os elementos que desgastam estas grandes e opulentas obras são muito menos densos que elas. O vento e a água são as armas destrutíveis fluídas que mais atacam a firmeza de uma rocha sólida. Entretanto não se bastam por si só, precisam estar aliados a outro elemento não palpável e muito mais fluído e etéreo, o tempo. Esta combinação torna-se implacável: vento, água e tempo põe a baixo qualquer castelo de pedra. Mais cedo, ou mais tarde, um dia são vencidos.
Fazem já alguns anos que venho a sentir o poder das pedras sobre mim. Nas minhas últimas análises uma ecografia revelou que tinha uma coleção privada delas. Meu médico disse-me que sou uma fábrica humana de pedras (antes fosse de poder, mas nesse caso sou eu o dominado). Atualmente são quatro no rim esquerdo, três no direito e uma na bexiga, a marcar presença forte e determinar o seu poder forte e denso sobre mim. Ontem e hoje tenho estado sob a égide do lito-poder (no linguajar médico, a sofrer de cólicas renais agudas). Graças a boa ciência moderna ocidental, existem fármacos líquidos, injetáveis e bastante fluídos que conseguem minimizar os efeitos tortuosos do lito-poder e a eles tenho recorrido na esperança de não ser oprimido até o limite do insuportável. E a receita para evitar o lito poder ainda continua a ser a mesma: água e tempo (ou seria melhor dizer, água e paciência?).

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Difícil falar com pingüins sobre Pingüins!


Hoje tive um dia mergulhado na douta ignorância daqueles que sabem muito de algo, e muito pouco de tudo. Foi mais uma das muitas experiências que tenho feito diariamente na minha empreitada de fazer sociologia da técnica, da ciência e do conhecimento tecnocientífico. Estive numa reunião com “professores doutores engenheiros” da mítica academia conimbrissense. Foi uma reunião difícil, pois falar de pingüins para pingüins é algo presumivelmente complicado, principalmente quando os pingüins não sabem exatamente o que é ser Pingüim, mas mesmo assim tem orgulho em o sê-lo e acreditam saber tudo sobre eles – os pingüins.
A primeira dificuldade, uma barreira quase intransponível, ou, um fosso abissal para parafrasear o meu guru, foi a de tentar demonstrar que o conhecimento do mundo é muito mais do que o conhecimento científico do mundo. Era como querer provar que água é vinho, ou que a terra é redonda (ou seria oval???). Antes mesmo do meio da reunião já não conseguia saber se estava imerso num universo eurocêntrico, ocidentalocêntrico, egocêntrico ou esquizofrênico. Mas resisti bravamente a toda sorte de ataques, tomava como uma prévia do que me espera na “Sala da Santa inquisição”, atualmente designada de “Sala dos Capelos” (antes fosse a “Sala dos Caramelos”, como denomina uma menina moçambicana que conheço). Aqui, gastei dois terços da reunião, que inicialmente, e por iniciativa “deles”, seria dividida em 3 partes de igual tempo e conteúdo. E eu que pensei que seria eu o interveniente principal da reunião, que seria eu a fazer perguntas e receber respostas... oh, doce ilusão que nos criam nas aulas de metodologia!!!!
A segunda dificuldade, e conseqüentemente herdeira desta primeira mais geral, foi a de tentar demonstrar que eu, um não pingüim, podia estudar os pingüins. Ai que foram elas... mais um terço da reunião a tentar convencê-los que o que eu faço não é produção literária, nem jornalística, nem alquimia. Sim, foi inclusivamente nomeado “alquimista” por um deles. Mas não pensem que fiquei ofendido, ao contrário, fiquei foi orgulhoso, pois convencer aquelas cabeças doutas era quase tão impossível quanto transformar pedra em ouro. Embora eu acredite que isso seja possível, portanto, não desisti, mais uma vez.Como a reunião fora programada para três atos, e as questões acima tomaram todo o tempo de palco, fiquei eu, mais uma vez, com todas as minhas questões por responder e a minha pesquisa por fazer. Quem sabe na próxima reunião de três partes, todas iguais em tempo (mas não em conteúdo), consiga salvar uma terça parte para falar deles, os pingüins, e consiga colher alguma coisa para o meu trabalho alquímico-jornalístico-literário. Infelizmente, não foi desta vez!

Um título "pós"

Faz tempo que tento resistir em escrever um blog. Acho bem que nem deveria ter iniciado, mas vamos lá ver o que sai daqui. Foi por insistência das feministas de plantão do CES que tive de ceder. Que saco essas mulheres, o pá! Elas determinam esquemas e padrões para tudo... e a liberdade?: fooooogo! Tô a brincar, e a Eury sabe disso (não sabe neguinha?). Xiii... usei palavra politicamente incorreta num blog pós-colonial, vai dar “pobrema”!
A brincadeira acima foi apenas para introduzir a perspectiva deste blog e justificar o seu nome. Eu, homem, branco, de olhos azuis, do Sul do Brasil (Norte dentro do Sul boaventuresco) quero ousar poder exprimir o meu lado “pós”: pós-colonial, pós-moderno, pós-abissal, pós-real, qualquer tipo de pós, tudo que fique além do que é tido como dado. Por isso dei este título de “Para além das lentes azuis”, na tentativa de exprimir a minha intenção e o esforço cotidiano de querer ir ao menos um passo além da linha marginal que aproxima do abismo ainda intransponível (que medo!). Vamos a isso!