terça-feira, 29 de abril de 2008

Ubuntu: Tecnologia para Seres Humanos


Muita gente reclama que gostaria de experimentar a usar Software Livre, ter um computador livre, mas não sabe por onde começar. Assustam-se com o medo antecipado de deparar-se com uma plataforma que não esteja totalmente gráfica. Isso é coisa do passado. A última versão do Ubuntu está tão boa e gráfica, quanto muitos softwares proprietários disponíveis no mercado. Ah! E não se pode esquecer de salientar o detalhe, não está no "mercado", pois é completamente gratuíto.

Uma dica, para quem quer começar a trabalhar com o Linux, e operar com um sistema operativo totalmente livre e com uma filosofia maravilhosa, pode iniciar com o Ubuntu. Eu, particularmente iniciei e continuei. Até hoje uso o Ubuntu, promovo, divulgo e recomendo.

O que é o Ubuntu?

"Ubuntu" é uma antiga palavra Africana, cujo significado é "humanidade para todos". Ubuntu também quer dizer "E sou o que sou devido ao que todos nós somos". A distribuição Ubuntu Linux traz o espírito do Ubuntu ao mundo do software. O Ubuntu é um sistema operativo completo baseado em Linux, livremente disponível, com suporte tanto da comunidade quanto profissional. É desenvolvido por uma vasta comunidade e nós convidamo-lo a participar também!




A comunidade Ubuntu está fundada nos ideais consagrados no manifesto Ubuntu segundo o qual: .
as aplicações informáticas devem ser disponibilizadas de forma gratuita, que as aplicações deverão ser usadas por qualquer pessoa independentemente da sua linguagem materna e todas as pessoas devem ter a liberdade de alterar e personalizar qualquer aplicação de modo a obterem o que elas necessitam.
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Por estes motivos:
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  • O Ubuntu será sempre gratuito e não existe custo extra para a "edição empresarial" nós disponibilizamos o nosso melhor produto sob os mesmos termos de Liberdade.

  • O Ubuntu vem com suporte profissional em termos comerciais de centenas de companhias em todo o mundo, se precisar desses serviços. Cada versão do Ubuntu recebe actualizações de segurança durante 18 meses depois de cada lançamento, algumas versões são suportadas por mais tempo.

  • O Ubuntu inclui a melhor infra-estrutura de suporte a traduções e acessibilidade que a comunidade de aplicações informáticas livres ("Free Software") tem para oferecer, de modo a tornar o Ubuntu utilizável pelo maior número possível de pessoas.

  • O Ubuntu é lançado de modo regular e previsível; todos os seis meses é lançada uma nova versão. Pode utilizar a versão estável corrente ou a versão que está actualmente em desenvolvimento. Cada versão é suportada, pelo menos, durante 18 meses.

  • O Ubuntu é totalmente aderente ao princípio do desenvolvimento de aplicações informáticas livres; encorajamos as pessoas a usar aplicações informáticas de código fonte aberto, a melhorar essas aplicações e a disponibilizarem-nas a outras pessoas

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Saiba mais visitando as páginas do Ubuntu Brasil e Ubuntu Portugal

Se depois de ler, inteirar-se e ficar convencido que vale la pena testar o Ubuntu, faça pela maneira mais simples`, utilize um CD-Rom, conforme as instruções e dê boot no sistema pelo CD-Rom Drive e utilize as principais funcionalidades de todo o sistema operacional.

Se resolver instalar o Ubuntu no seu computador, num sistema dual-boot, ou seja, de duas inicializações, para ter o Windows e o Linux, minha sugestão é instalá-lo à partir do Windows, se este já estiver a operar, através de um programinha que pode ser baixado, muito leve, e que faz todo o processo em modo gráfico, cria uma nova particão de forma segura no seu disco rígido para alojar o Ubuntu, e instala o sistema reconhecendo todos os perifèricos de seus computador. Utilize para isso o WUBI.




Esse dispositivo tem suporte de idioma para Português Standard (Portugal) e Português Brasileiro. Escolha o idioma, identifique um utilizador (tudo em minúsculas), introduza uma senha e depois o instalador fará tudo sozinho. Fique tranquilo, é estremamente seguro. Caso se arrependa (que espero nãoa contecer), poderá sempre desinstalar o Ubuntu pelo Windows no menu Adicionar/Remover programas.

Experimente!

Rapidinha! UNESCO e FSF


A UNESCO tem um portal sobre Software Livre, onde estão disponíveis vários relatórios e estudos relevantes para quem tem interesse pela questão.

Os aderentes do movimento software livre tem neste sítio um excelente acervo de dados e links úteis.

A ver:

e também:

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Prioridade para inclusão digital: os parlamentares brasileiros a apostar na Sociedade da Informação

[Inclusão digital de crianças através dos Telecentros - Foto: Adalto Guesser]

Outro dia, ao ouvir noticias da Câmara dos Deputados, através da Rádiobras, pela Internet, ouvi que deste mês em diante, projectos que tratem da inclusão digital e da convergência tecnológica estarão entre as prioridades da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, do Congresso brasileiro, que desde 4 de Março tem novo presidente, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA). Para mim, que luto constantemente com relação a estas questões, foi uma notícia reconfortante, afinal, parece que nossas pressões estão a começar a surtir algum efeito.

A notícia adiantava que o novo presidente da Comissão C&T, Deputado pelo Partido dos Trabalhadores do Estado da Bahia, Sr. Walter Pinheiro, considera que é preciso levantar e discutir quais são as ferramentas de inclusão digital disponíveis no país e trabalhar pela democratização do acesso a esses recursos. Para levar adiante esses projectos, ele considera fundamental a liberação de recursos de fundos como o Funttel (Fundo Tecnológico das Telecomunicações), o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações e também o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), na expectativa de permitir a consolidação de serviços essenciais, como o e-gov (governo electrónico). Aliás, sempre é assim, uma vez que existem fundos, levantam-se sempre ardilosos arquitectos a planear formas de gastá-los. Vamos a ver se de forma justa e digna, de acordo com os princípios para os quais foram criados, ou para atender interesses particulares, como tem ocorrido com frequência.

De qualquer modo, toda essa movimentação já não era sem tempo. Parece que finalmente o Congresso brasileiro começa a acordar para uma urgência urgentíssima de nosso tempo actual. De facto, hoje quase todos os lares brasileiros têm televisão, mas não têm computador. Mas também não adianta ter computador se ele não tiver uma conexão à Internet. É a Internet que permite a conexão com o mundo cibernético, com os conteúdos digitais, com os serviços, com as informações, etc. O Brasil já é um dos países que mais acede à rede Internet no mundo, porém é um dos países com a menor malha de rede per capta e com uma largura de banda muito baixa, impondo dificuldades para a exploração de grande parte dos recursos disponíveis no ciberespaço. Portanto, disponibilizar os recursos dos fundos é uma medida importantíssima, desde que seja para, de facto, promover o acesso às tecnologias e aos meios de mediação (computadores, infra-estruturas de redes, brateamento de custos, etc.).

A sociedade brasileira, através dos movimentos sociais e da articulação da sociedade civil organizada, deve ficar de olho, controlar e fiscalizar os recursos desses fundos e ver se a aplicação desse dinheiro público não está sendo canalizada para os interesses de grandes corporações e lobbies que utilizam as demandas sociais como fachada para arrecadar rendimentos garantidos. No passado, grande parte dos recursos do Fust foi desviado para actividades duvidosas, embora tivessem uma roupagem de desenvolvedoras de tecnologia. Enquanto o governo lançava editais dirigidos e queimava recursos, empresários ligados aos governistas se apropriavam de somas consideráveis para alavancar seus projectos empresariais, sem a mínima preocupação de
conjunto, sem ter por trás um grande projecto articulado e orientado para um fim determinado que pudesse ser controlado. O risco desse erro, não podemos mais correr.

Vamos acreditar que as intenções do Deputado Walter Pinheiro sejam, de facto, as melhores e que estejam a caminhar de encontro com as expectativa da sociedade brasileira e suas necessidades prementes de ingresso nessa era digital. Entretanto, vamos nós, cidadãos brasileiros, interessados e preocupados com essas questões fundamentais para a educação e para o desenvolvimento cultural de nosso país, marcar bem esse nome, acompanhar as decisões desta comissão parlamentar e estar atentos aos avanços desses projectos no futuro breve.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Transgénicos: Portugal na linha do terrorismo

[Milho transgénico: grãos uniformes, coloração uniforme, lucro uniforme, saúde (???)]

Tempos atrás, o sociólogo e, por acaso meu orientador de tese, Boaventura de Sousa Santos, ao escrever um artigo de opinião, tratou da questão do terrorismo, delineando que, sobre ele, existem dois discursos, um conservador, e um progressista. De certa forma, a ambiguidade dos termos e conceitos é uma característica típica das sociedades democráticas, onde a aceitação e o favoritismo de determinada questão é confrontada com a sua oposição e desprestígio. Isso, não é de todo uma coisa ruim, uma vez que vivemos em sociedades plurais e o onde é almejado o respeito pela diversidade intercultural, ideológica, política e religiosa como fundamentos limítrofes entre a democracia e as suas antíteses.
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A questão colonial mal resolvida do problema da pluralidade, ainda existente em nossas sociedades democráticas, é o peso opressor da versão dominante. Em geral, o pensamento hegemónico costuma-se impor de forma violenta, produzindo cosmologias justificadoras, não-existências(1), naturalizações e generalizações. No caso do terrorismo, como afirma Boaventura, o que é específico é “apenas o facto de o discurso conservador ser completamente dominante” (2).
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Acontece que, ao produzir uma cosmologia dominante e generalista, esta forma tipicamente colonial de produção de ideias nega o debate acerca dos temas de interesse colectivo, impondo perspectivas unilaterais, via de regra utilizadas como argumentos para justificar interesses específicos dos poderes dominantes. Isso acontece actualmente com a definição de terrorismo.
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Corre solto nos meios de comunicação hegemónicos a promoção de definições frouxas, pouco elaboradas de terrorismo, presentes nos discursos de líderes políticos, intelectuais, analistas políticos, etc. Nas palavras de Santos,

“Eis os traços principais deste discurso: “terroristas” são terroristas, ou seja, as definições oficiais de terrorismo são as definições “naturais”, óbvias; o terrorismo nunca teve êxito; os terroristas são nossos inimigos e como tal devem ser tratados: a sua violência deve ser enfrentada com a nossa violência; tentar compreender o terrorismo para além deste quadro é ser cúmplice com ele” (idem, 2).

Raramente acontecem análises bem fundamentadas, onde uma reflexão jurídico-política sobre a natureza do que é o terrorismo é avançada como critério primeiro para a posterior utilização da definição. Conforme estabeleceu o próprio Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o país que se especializou em definir este termo, o terrorismo é:

“um tipo muito específico de violência, apesar de o termo ser usado para definir outros tipos de violência considerados inaceitáveis. Acções terroristas típicas incluem assassinatos, sequestros, explosões de bombas, matanças indiscriminadas, raptos, linchamentos. É uma estratégia política e não militar, e é levado a cabo por grupos que não são fortes o suficiente para efectuar ataques abertos, sendo utilizada em época de paz, conflito e guerra. A intenção mais comum do terrorismo é causar um estado de medo na população ou em sectores específicos da população, com o objectivo de provocar num inimigo (ou seu governo) uma mudança de comportamento" (3).

Outras definições clássicas avançam no mesmo sentido. Porém, uma linha atravessa todas essas versões: a ameaça à integridade da vida e da pessoa humana. Um acto terrorista é sempre uma violência contra a integridade e à vida das pessoas. Uma intimidação a partir de uma violência contra a pessoa humana.

No último no "Relatório sobre a Situação e Tendências do Terrorismo na União Europeia" (UE), publicado pelo Gabinete Europeu de Polícia (Europol), relativo a 2007, uma acção ambientalista contra a produção de alimentos geneticamente modificados (transgénicos), no Algarve português, em Fevereiro do ano passado, foi classificada como acção terrorista [ver notícia]. De facto, existe uma preocupação larga em difundir um conceito específico de terrorismo, o “terrorismo ecológico”, e isso não é novidade. Acontece que, segundo as definições acima apresentadas, a acção ecológica de Silves, em Portugal, não teve nada próximo a um acto terrorista, por não ter executado nenhum tipo de atentado e uso de violência física, e sim uma manifestação de carácter ideológico (ecológico) e político (contra monocultura agrícola monopolista). Ocorreu sim, a destruição de uma plantação agrícola e isso pode ser entendido como atentado violento contra a propriedade, não contra o proprietário ou grupo de pessoas. Foi, portanto, um acto civil que lesou uma propriedade civil e como tal, pode ser julgado. É, no mínimo ridícula a alegação de terrorista, descartada até mesmo pela avaliação do próprio agricultor afectado.

Enfim, independente dos contornos definitórios ainda em aberto, o termo terrorismo está cada vez mais sendo utilizado como meio de justificação de interesses hegemónicos, com o auxílio dos meios de comunicação comprometidos com tais interesses. Em geral, jamais é admitido a possibilidade de considerar como terrorismo o acto da manipulação biológica efectuado indiscriminadamente por grandes empresas de produção de sementes, os riscos e a ameaça para o ecossistema, nada disso é entendido como terrorismo, apesar de ser violência “imposta” a toda uma sociedade. Já a acção de resistência dos povos sim, que em qualquer teoria democrática legítima figura como um direito natural a ser respeitado, este sim, é transmutado numa violência inconcebível e inquestionável, pois viola o direito “naturalizado” da propriedade individual. Muitas críticas aqui poderiam ser feitas, mas apenas para terminar, ratifico minha opinião que, nas democracias ocidentais modernas, o povo tem o único direito reservado de “obedecer”, e quando isso não ocorre por meio da resistência, em seguida formula-se um meio de opressão. Na actualidade, o terrorismo justifica a opressão policial legítima. Dá o que pensar!


Notas:

(1) Entendo por “não-existência” todo processo que oculta realidades consideradas irrelevantes ou que são contrárias aos interesses hegemónicos. Na questão colonial, a produção de não-existências deu-se de forma deliberada e frequente, negando,ocultando e ignorando a existência do “outro”, do diferente, do subalterno como actores e factos dignos de serem considerados, reconhecidos e respeitados.
(2) SANTOS, Boaventura de Sousa. Terrorismo: dois discursos. Artigo de opinião publicado na Revista Visão, em 21/07/05, acedido em 13/04/2008, in: http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/135.php.
(3) Fonte: Wikipédia, acedido em 14/04/2008, in: http://pt.wikipedia.org/.

domingo, 13 de abril de 2008

O país que se considera o mais livre do mundo é o recordista em prisões (e prisões Negras)

É estarrecedor o dado de que a população de presidiários dos EUA chega a uma proporção de praticamente 1 a cada 100 habitantes. Segundo dados publicados pelo The New York Times, resultados de um estudo realizado pelo Pew Researcher Center, a população dentro das prisões cresceu em 25 mil no ano passado, criando um total de 1.6 milhão. Outras 723 mil pessoas estão em cadeias locais. O número de adultos americanos é de cerca de 230 milhões, ou seja, precisamente, um em cada 99,1 adultos está preso.

Os índices de prisão são ainda maiores para alguns grupos, reflectindo uma realidade que vai além da questão criminal, açambarcando um campo delicado para o "país das liberdades e da igualdade". Um em cada 36 hispânicos adultos (os imigrantes mais comuns nos EUA) está atrás das grades. Entre os homens, um em cada em cada nove negros entre 20 e 34 anos está preso.

O relatório, feito pelo Pew Center, também descobriu que apenas uma em cada 355 mulheres brancas entre 35 e 39 anos está presa, assim como uma em cada 100 negras também.

A metodologia do relatório se diferenciou do usado pelo departamento de Justiça, que calcula o índice de pessoas presas usando a população total ao invés da população adulta como denominador. Com a metodologia do departamento, cerca de um em cada 130 americanos está preso.

Esses números alarmantes são o resultado da guerra às drogas dos anos 80. Em 1988, uma pesquisa mostrou que dois terços dos americanos aceitavam abrir mão de parte de sua liberdade se fosse esse o preço da vitória contra o crime. De lá para cá a criminalidade caiu rapidamente. Em todo o país, os índices de criminalidade voltaram aos números dos anos 60. Mas, nem por isso a população carcerária tende a cair. Como o uso de drogas cresce entre os jovens, e com as penas de prisão obrigatórias para quem é pego com drogas, a a superlotação das cadeias está garantida.

Nos anos 80 acreditava-se que o Crack era uma epidemia que ameaçava o país. Entre 1985 e 1995, o número de negros presos por drogas cresceu 707% contra 306% entre os brancos. Segundo o departamento de Justiça, 8,3% dos jovens negros entre 25 e 29 anos estão na cadeia contra 0,8% de brancos da mesma faixa etária. O encarceramento dos jovens negros agrava o problema do desemprego crónico nos guetos. Dificilmente um jovem que passou alguns anos na cadeia consegue emprego.

Os negros são apenas 12% da população americana, mas representam 60% dos condenados por uso ou tráfico de drogas. O departamento de Justiça prevê que no ano que vem os negros presos serão 1,43 milhão, ou seja, 70% de toda a população carcerária. As penas de prisão para os negros são mais longas. Nos crimes de estupro, por exemplo, verificou-se que em média os presos negros cumprem penas de 70 meses contra 56 para os estupradores brancos. Por qual motivo objectivo? Por serem negros! Está na pele.

A guerra às drogas iniciada nos anos 80 multiplicou os presídios, mas não reduziu o uso das drogas. Da população acima de 12 anos, 33% já usou Cannabis, a droga mais popular. Entretanto, o consumo dessa droga nunca ultrapassou 0,5% da população. Agora os governantes reconhecem o fracasso dessa guerra e buscam novas alternativas. Mas o encarceramento maciço da população dos guetos continua e ameaça agravar os problemas sociais das grandes cidades americanas.

Esta não é uma questão que pode ser lida apenas pelo vies da criminalidade. Este factor serve apenas para justificar interesses escusos que nunca são claramente apresentados. A crescente privatização do sistema prisional americano faz com que interesses lobistas de empresários do sector não permitam que os Senadores Congressistas americanos aprovem leis mais brandas e políticas alternativas para o combate ao uso de drogas e a criminalização no país. Para estes, o inchamento dos presídios é sinal de lucro garantido, uma vez que o custo é pago pela população, através do governo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Mimo Pernambucano: A prova!


Outro dia postei neste blog um comentário intitulado “Mimo pernambucano” [ver post]. Falava de um tal “Bolo de rolo”, uma iguaria de doçura incomparável, simplesmente divino, tipicamente daquela região deste Brasil enorme e cheio de especificidades.

Falei do povo que não se cansa de oferecer mimos, que é receptivo, carinhoso, amável, zeloso... e, passado alguns dias, recebi hoje, pelo correio, a prova de que não estou a apenas falar por falar. Recebi uma caixa pelo correio, vinda directamente do Recife, cheia deste bolo de rolo. Um presente significativo e sem igual. A originalidade da surpresa diz mais do que o conteúdo, que por si só, dispensa qualquer comentário adicional.

Foi tão bom ver, no meio de tantas correspondências de trabalho, contas a pagar, extratos de banco, etc, um carinho tão especial como este, tornou-me o dia mais gostoso, mais doce. De facto, o amor transforma as coisas e o mundo. Na minha experiência de vida quotidiana, tenho sentido a transformação operada por estes pequenos e significativos "atos de amor".

Eu, de minha parte, como sou dengoso e adoro receber mimos, vou continuar a postar a minha série gastronómica e esperar ver se recebo também os acarajés da Bahia, os pasteizinhos de angu, de Minas Gerais, o strudel de Santa Catarina, etc...

É preciso prova maior que esta????

Obrigado pernambucanos maravilhosos, é desta cultura da partilha e do cuidado que o mundo necessita para superar esta decadente e desumana ordem capitalista.

Beijo no coração de todos vocês, em especial do Nilton e da Dona Luci.


terça-feira, 8 de abril de 2008

Malicious Software: hoje foi o dia do caçador!

[Há que se inventar um preservativo eficaz]

Hoje, passei o dia quase inteiro em função de dar manutenção ao meu computador. Apesar de todos os cuidados e dos conhecimentos que tenho, pois frequentemente estou a dar cursos para difundir a “Cartilha de Segurança para a Internet”, produzida por nós no Comité Gestor da Internet do Brasil, fui pego de sobressalto com a infecção do meu portátil com um malware.

Código malicioso, em português, ou malware (malicious software), em inglês, é um termo genérico que abrange todos os tipos de programas especificamente desenvolvidos para executar ações maliciosas em um computador. Alguns exemplos de malware são os vírus, os worms (vermes) e bots, os backdoors, os cavalos de tróia (trojans), os keyloggers e spywares, e, os rootkits.

No meu caso particular, o malware que infectou a máquina é conhecido por muitos nomes. O nome do ficheiro principal é wintems.exe e tem os "auxiliares" hidr.exe e srosa.sys (possivelmente outros mais). Ele também é chamado de Bagle, ou Beagle.

Este simples código, que entrou em meu computador por alguma vulnerabilidade de segurança que ainda não consegui identificar, pode roubar senhas e informações pessoais, desabilita quase todos os antivírus e anti-spywares e impede que o sistema reinicie em Modo Seguro. Ele infecta a máquina com 4 ou mais arquivos e causa uma dor de cabeça sem tamanho. Deixa a máquina super lenta, desconfigura a função wireless e uma série de outros estragos que vão se acumulando, até o ponto de não ser mais possível recuperar os ficheiros e sermos obrigados a reinstalar o sistema. Não, sem antes ter causado danos, inclusivamente, ao hardware, danificando clusters do HD. Não é à toa que é chamado no ciberespaço de “praga”.

Bom, como é um problema muitas vezes silencioso, e como a maioria dos usuários comuns não consegue detectar este tipo de problemas no início, resolvi partilhar a solução, uma vez que, como disse anteriormente, perdi quase um dia inteiro na tarefa complexa e morosa de tentar reparar a máquina, e quase ficava sem sucesso. Graças a cultura da partilha, da Internet, encontrei a solução num fórum em inglês, onde um colega espanhol apresenta um programa bastante leve, capaz de remover o malware sem a necessidade de maiores danos para a máquina.

Descrevo abaixo os passo a serem seguidos:

  1. Baixe o programa (em espanhol) chamado EliBagle (possui apenas 45 KB)
  2. Instale-o no HD (hard disc – disco rígido). Demora pouquíssimos segundos.
  3. Rode o programa e verifique os HD´s de sua máquina em busca de spywares. Pode ser que ele peça para reiniciar o sistema, dependendo do caso. Reinicie e deixe o programa escanear o HD.
  4. Reinstale os sistemas de segurança que foram avariados, o anti-vírus, o anti-spyware, o firewal. Você pode testar e verá que o sistema Windows voltará a funcionar em Modo Seguro.

Falando, falando, e tentando ser compreendido: continuando o diálogo

Abaixo, transcrevo a resposta que formulei ao amigo Nilton ao seu comentário do post "Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!"


Caro (professor) Nilton:

Concordo consigo em considerar um texto um evento comunicativo. Meu interesse pelo “texto” é o de utilizá-lo como dado para análises sociais de factos concretos. Procuro compreendê-lo dentro deste universo de produção, transmissão e registro de comunicações, com a finalidade de obter, no conjunto de um discurso (conteúdos e continentes) extremamentes diversificados, não só os significados, mas, sobretudo, os significantes de uma comunicação. Neste sentido, o meu interesse pelos textos é conseguir retirar as mensagens nesta conjunção de significados e significantes, procurando inseri-las num contexto social, como produto/produtora de acções (ou factos) sociais.

Para tanto, não me prendo essencialmente às preocupações específicas da lingüística enquanto interesse científico determinado. Utilizo a lingüística de modo transversal. Poderia dizer, utilizando a sua preferência epistemológica, que parto de uma abordagem de cunho transdisciplinar. Digo isso, porque muito mais do que realizar uma colaboração interdisciplinar de áreas de conhecimentos distintos, acabo por realizar uma coisa nova, uma nova disciplina, se bem desejarmos denominá-la. Se assim for, denominá-la-ia de “análise de conteúdo”, uma área de produção de estudos com certo acúmulo de produção e que hoje serve como ferramental metodológico para diferentes ciências que estudam campos sociais e suas interacções sociais baseadas na comunicação. Posso destacar, desde as ciências sociais, as ciências da comunicação, as ciências políticas, bem como determinadas áreas das ciências médicas, tais como a saúde colectiva, saúde pública, administração pública de saúde, etc., áreas da psicologia clínica e principalmente social, e, acredito que também o seu campo específico particular, o da Terapia Ocupacional, dentre muitas outras.

Tais disciplinas relacionadas com a linguagem, que me citas no teu texto, encontram-se presentes em meu trabalho, em determinados momentos, pois o conteúdo envolve, indirectamente, uma análise do discurso. Entretanto, não é a linguística em si, nem a lexicologia, nem a semântica, nem a análise do discurso que me interessam separadamente. Todos esses campos são importantes e estão presentes de alguma forma, utilizados como meios de atingir uma análise mais ampla, a que chamo de análise de conteúdo.

Neste sentido, quero apenas ratificar a distinção fundamental proposta pelo pai da linguística, F. Saussure, entre língua e fala, pois vejo que marca a diferença e torna minha explicação compreensível. Para este autor, o objecto da lingüística é a língua, ou seja, o aspecto colectivo e virtual da linguagem, enquanto que o da análise de conteúdo é a fala, isto é, o aspecto individual e actual (em acto) da linguagem. A linguística é um estudo da língua, a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades através das mensagens.

Trocando em miúdos e utilizando uma metáfora do próprio
Saussure, a do jogo de Xadrez, segundo ele, a linguística não procura saber o que significa uma parte, ao contrário, tenta descrever quais as regras que tornam possíveis qualquer parte. Nesse sentido, podemos dizer que, enquanto a linguística estabelece o manual do jogo da língua, a análise do conteúdo tem o objectivo de compreender os jogadores ou o ambiente do jogo num momento determinado, com o contributo das partes observáveis.

Ufaaaaa! Nossa, não contei as palavras das minhas frases. Será que ultrapassei demais as 15? Será que falei, falei, e não disse nada? Bom, isso é só um treino. "Quem não começa perdendo, não termina vencendo".

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!

A capacidade de memorização de um sujeito médio, é, aproximadamente de 15 palavras por frase, num escrito" (*1)

Hoje descobri o “palmo” (empan). É uma medida que determina a capacidade de um sujeito médio memorizar palavras lidas. Segundo os expertos no assunto, um sujeito médio (não especificam o que é esse sujeito médio) consegue memorizar, aproximadamente, 15 palavras por frase. Mais que isso, as ideias começam a ficar baralhadas e a concentração exigida é muito maior.

Por isso, os textos jornalísticos são laboriosamente cuidados para serem escritos de forma a não cansar o leitor, visando à objectividade da mensagem a ser transmitida. As mensagens publicitárias, também. Quanto mais curtos forem os períodos, melhores.

Parece ser uma coisa amplamente difundida no senso comum, um conhecimento que sabem todos. Só não sabem disso os intelectuais. Tenho tido de ler cada texto cansativo, prolixo, confuso. Quando comecei a ler Pierre Bourdieu, detestava-o, pois não o compreendia, perdia-me completamente na leitura. Quando terminava a frase, já não sabia o que a tinha iniciado. Por isso, criei certa resistência a este autor. Passado algum tempo, forçado a lê-lo por conta do curso, comecei a percebê-lo e a “gostar”. Então, passei a culpar a tradutora dos livros do francês para o português. Ao chegar a Portugal, e na ausência de livros traduzidos, tive de recorrer aos originais em francês. Então, percebi a dupla dificuldade. Não era nada por conta de tradução mal feita, era sim pela escrita mal urdida.

Oxalá, eu aprenda a escrever de forma clara e objectiva e que possa ser compreendido pelos meus leitores, sem vir a incorrer no erro da herança intelectual sociológica. Por isso, faço uso desse blogue, para poder treinar a escrita e receber as críticas dos leitores. Não são muitos os críticos, mas, de vez em quando aparecem.

(*1) In BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, p. 79.

domingo, 6 de abril de 2008

Construindo um hipertexto sobre Ciência e Modernidade

[Praia de Vigo, Espanha - Pôr do Sol 25/09/2004 - Foto by: Adalto Guesser]

Nos últimos dias tenho procurado refletir sobre um tema cada vez mais presente em minha vida. A Ciência, a Modernidade, e suas relações com o mundo das coisas e dos seres. Depois de ter aceitado voluntariamente e conscientemente que o mundo é constituído por seres humanos e não-humanos, cabe refletir sobre algumas questões. Não consigo formular, ainda (nem sei se um dia conseguirei), uma teoria capaz de dar sentido geral para tantas incertezas. Do que estou a ler e reler, proponho o hipertexto que se segue, feito pela junção de pensamentos racionais de homens de realidades e ocupações diferentes, cujo final, ..., ah, sim, o final... esse, fica em aberto, pois como digo frequentemente, quando não consigo explicações racionais para o mundo em que vivo, fujo para as artes, para a literatura, a música, os poemas, as cores, os sons.

Sciencia

Considerar a sciencia como valendo em si alguma cousa é fazer metaphysica.
A sciencia só vale humanamente, só como útil para a vida humana. Em si (por razões já expostas) não vale nada porque o conhecimento scientífico é puramente relativo[.]
(Fernando Pessoa [*1])

Ciência moderna

Os pressupostos metafísicos, os sistemas de crenças, os juízos de valor ão estão antes nem depois da explicação científicada natureza ou da sociedade. São partes integrantes dessa mesma explicação. A ciência moderna não é a únicaexplicação possível da realidade e não sequer qualquer razão científica para a considerar melhor que que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte ou da poesia. A razão por que privilegiamos hoje a forma de conhecimento assente na previsão e no controle dos fenômenos nada tem de científico. É um juízo de valor. A explicação científica dos fenômenos é a auto-justificação da ciência enquanto fenômeno central da nossa contemporaneidade. A ciência é, assim, autobiográfica. (Boaventura de Sousa Santos [*2])

Ruptura moderna

A ciência moderna nasceu de uma ruptura brutal em relação à antiga visão de mundo. Ela está fundamentada numa idéia, surpreendente e revolucionária para a época, de uma separação total entre o indivíduo conhecedor e a Realidade, tida como completamente independente do indivíduo que a observa. (Basarab Nicolescu [*3])

Universalidade da modernidade

A modernidade pertence a essa pequena família de teorias que simultaneamente se declara e se deseja de aplicabilidade universal. O que tem de novo a modernidade (ou a ideia de que a sua novidade é um novo tipo de novidade) decorre desta dualidade. para além de tudo o que criou, o projecto iluminista aspirou a criar pessoas que, post festum, viessem a querer ser modernas. Essa ideia que em si próprias se consuma e se justifica provocou muitas críticas e muita resistência, tanto na teoria, como na vida quotidiana. (Arjun Appadurai [*4])

Jamais fomos modernos

Posso agora escolher: ou acredito na Constituição moderna, ou então estudo quanto o que ela permite quanto o que proíbe, o que ela revela e o que esconde. Ou defendo o trabalho de purificação - e me torno também um purificador e um vigilante da Constituição - , ou então estudo tanto o trabalho de mediação quanto o de purificação, mas então, deixo de ser realmente moderno. (Bruno Latour [*5]).

E agora José, Maria, Boaventura, Latour, Adalto, ...

Et quid nunc, Ioseph?
Festum est finitum,
lumen est exstinctum,
cuncta evanuit turba,
nox est frigefacta,
et quid nunc, Ioseph?
et quid nunc, et tu?
Qui nomen non habes,
qui alios derides,
qui versus componis,
qui amas, reclamas?
et quid nunc, Ioseph?
(Carlos Drummond de Andrade [*6])

[*1] In LOPES, Teresa Rita. Pessoa Inédito. Lisboa: Livros Horizonte, 1993, p. 409.
[*2] In SANTOS, Boaventura de Sousa Santos. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1987, p. 52.
[*3] In NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdiciplicaridade. São Paulo: Triom, 2001, p. 17.
[*4] In APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da Globalização. Lisboa: Teorema, 1996, p. 11.
[*5] In LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2000, p. 50.
[+6] In BÉLKIOR, Silvia. Ioseph. Tradução para o latin de "José", poema de Carlos Drummond de Andrade, disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/drumml07.html, acedido em 06/04/08).