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terça-feira, 2 de junho de 2009

Cegueira metafórica, realidade social concreta!


Saramago, em seu livro “Ensaio Sobre a Cegueira” descreve uma metáfora bastante lúcida da incapacidade humana em construir laços de solidariedade, mesmo diante de uma tragédia comum. O escritor português relata com bastante sensibilidade como as pulsões mais instintivas e/ou bárbaras corroem uma sociedade pautada no desprezo à vida e ao seu semelhante. Uma explosão anômica sem precedentes, que não escolhe grupo social, gênero ou etnia.

A lógica da cegueira humana se configura, nesta direção, na incompreensão coletiva de como se engendram todas as formas de exploração de homens, mulheres e crianças; o porquê de existir tanta desigualdade social e concentração de renda; e a naturalização da violência e suas dimensões físicas e simbólicas. É esta mesma cegueira que inviabiliza lutas sociais mais conscientes; que lança à margem aqueles que nunca terão acesso ao processo de escolarização e que, por esta mesma razão, correm o risco de serem inempregáveis e mais propensos à indigência.

Contraditoriamente, combatemos exaustivamente, nossos pares. Plantamos e semeamos a discórdia e nos vangloriamos de representarmos lideranças desagregadoras. Sabotamos projetos alheios e nos aliamos a determinadas concepções políticas que favorecem a acumulação do capital privado à custa da produção coletiva pública. Nossos interesses se definem tão-somente naquilo que é mais mediato e, portanto, totalmente descolado dos nexos históricos que medeiam nossas relações laborais e afetivas.

Uma sociedade sitiada pela cegueira metafórica é promotora de todos os desmandos nas realidades políticas, econômicas e cultural; não por acaso, o mundo está em crise pela arrogância dos “mercadores de almas”, que decidem quem poderá comer hoje e amanhã. Os danos são irreparáveis e inconseqüentes. E enquanto isso, os cegos marcham incólumes, embrutecidos, esperando quem sabe, uma redenção metafísica atemporal, anistórica, desprovida de toda e qualquer materialidade.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Chamada para o Dia da Blogagem Política

Estou aderindo a campanha da Blogagem política promovida pelo Blogue: http://xocensura.wordpress.com/.
Vou participar da iniciativa e convido meus amigos e leitores a fazerem o mesmo.
Leiam abaixo a chamada e a proposta:





Por quê uma blogagem politica?


Quem já passou dos trinta conheceu a truculência da censura no Brasil, desde 1964, na época do Golpe Militar, até o final dos anos 80 vivemos um regime de ditadura e censura. A censura não é racional, não respeita os direitos individuais e nem a privacidade.
A Internet tem se mostrado um grande meio democrático e propício a liberdade de expressão, mas parece que isto não tem agradado á todos:
O Minstério Público de tanto pressionar o Orkut conseguiu uma ferramenta de acesso, e quem sabe de censura, e isto pode explicar o desaparecimento de posts e comunidades;
No Senado, o projeto de Cibercrimes, liderado pelo Senador Azeredo, pretende implantar abusos e absurdos que criminalizam grande parte dos cidadãos conectados.
A CPI da pedofilia parece ter outra intenção, afinal se se trata de prender pedófilos, porque divulga na Imprensa que vai efetuar ações no Orkut?
O espetáculo midiatico esta formado, as TVs populares estão exibindo casos pontuais envolvendo a Internet, é Deputado da CPI da pedofilia chorando lágrimas de crocodilo, é modelo que teve suas fotos intimas divulgadas na Internet, é o Ministério Público proibindo jogos e mais projetos terriveis tramitando


Perai! Isto esta parecendo um complô orquestrado ! Pode ser, não se pode afirmar, mas parece. E com diz Manoel Castells em seu livro a Galaxia da Internet, os motivos são os mais diversos e insensatos, mas tudo que importa é que o Estado coloque mais uma camada na Internet, a camada do controle, pois nações não suportam o fato de não terem controle sobre ela. As nações querem transformar nossas vidas online em uma casa de vidro, quando deveria ser o contrario, nos cidadãos é que deveriamos ver o Estado dentro de uma casa de vidro.


A proposta


Nossa proposta é que você poste no dia 19 de julho de 2008 um post politico, uma critica aos fatos citados acima, o alvo principal é o projeto de Cibercrimes, mas se desejar você pode falar de outra coisa. Não esqueça de nos avisar da postagem, seja por um ping ou comentário para que possamos incluir seu blog na lista dos blogs participantes. O dia 19 de julho foi escolhido por representar o dia em que o jornal O Estado de São Paulo publicou receitas e poemas de Luiz de Camões no lugar das matérias censuradas no ano de 1972.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Campanha: Eu quero um banner do Senado Federal no meu blog!


Estou aderindo a campanha “Eu quero um banner do Senado Federal no meu blog”, criada pelo amigo Cardoso. Vejam se não é um absurdo!!!!

O Senado Federal do Brasil fechou um contrato com o site www.paraiba.com.br para veiculação de um banner de 120×60 pixels por um período de 1 ano. O valor pago pelo banner? A bagatela de R$ 48.000,00 reais por mês. Isso mesmo, um contrato de R$ 576.000,00 (ano)! Não acredita? Comprove nesta screenshot tirada no site do Senado:



Ainda não acredita? Então veja com seus próprios olhos no site do senado: CLICANDO AQUI.

Obs.: O site do Senado foi alterado após a publicação deste post,sugiro ler meus comentários no post seguinte: Parece uma gota no oceano, mas resulta!


Agora se você está preocupado com a diagramação do seu blog ou site, não se preocupe, confira na screenshot abaixo o TAMANHO do banner que vale 576 mil reais:


*Tamanho real

Agora vem a pergunta: quantas visitas o site Paraiba.com.br tem pra valer tanto assim o espaço?

Qual a mágica? Não sei, mas o Blog de Aluguel chamou bem a atenção para os domínios registrados pelo mesmo dono do paraiba.com.br. Existem 2 no mínimo interessantes:

domínio: correspondentejuridico.com.br
domínio: eduardomedeiros.com.br
domínio: efraimmorais.com.br
domínio: efraimorais.com.br
domínio: eradigital.com.br
domínio: falcoesdaserra.com.br
domínio: paraiba.com.br
domínio: ronaldocunhalima.com.br
domínio: william.com.br

Quem é Efraim Morais? Nada de mais, apenas um senador eleito pela… … Paraíba: http://www.efraimmorais.com.br/

ALGUÉM POR FAVOR AVISE O CQC???

Fonte: Blog de Aluguel

Aí vai o banner oficial para aqueles que quiserem aderir à campanha!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Duas mil janelas para a cidadania e inclusão digital

Engraçado, não entendo por qual motivo notícias como a que transcrevo abaixo não são manchetes do grandes telejornais. Ainda bem que temos nossas mídias alternativas, nossos blogues, nossas redes.

Duas mil janelas para a cidadania e inclusão digital
02/Jul/2008 - 11:45
Enviado por Redacao SERPRO ao PSL-Brasil, publicado em http://www.softwarelivre.org/news/11681

O Programa Serpro de Inclusão Digital alcança a marca de 2.111 microcomputadores doados. As máquinas estão distribuídas nos 193 telecentros comunitários instalados pela Empresa no Brasil e no exterior.
No mês de junho, foram implantados dez telecentros. Três deles no estado de São Paulo, três na Bahia, dois em Tocantins, um no Ceará e um no estado do Rio de Janeiro. Somente em 2008, foram inauguradas 37 unidades e a expectativa é que, até o final do ano, mais 175 estejam em operação.


Janelas livres para o universo da informação Os telecentros são unidades equipadas, geralmente, com 11 microcomputadores, todos rodando software livre e com acesso gratuito à internet. Sua instalação é sempre realizada em parceria com a comunidade local, prefeituras e instituições da sociedade civil, o que vem garantindo sua sustentabilidade.

O combate à exclusão digital é o objetivo central de um Telecentro, que passa a ser ponto de referência da comunidade: um espaço onde as pessoas podem reciclar o conhecimento com cursos, navegar na rede mundial de computadores e, acima de tudo, produzir e difundir sua cultura.

Como deve proceder uma comunidade que deseja receber um telecentro? A instituição deve enviar ofício à unidade do Serpro mais próxima de sua localidade, solicitando a doação dos equipamentos para a formação do telecentro. O Serpro analisará o pedido e atenderá de acordo com a sua disponibilidade. Observa-se que a entidade deve ser reconhecida como de Utilidade Pública Federal ou uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.

Programa Serpro de Inclusão Digital - PSID Implantado em 2003, o PSID é uma das ações amparadas pela política de Responsabilidade Social e Cidadania da Empresa, e está em sintonia com o Programa Brasileiro de Inclusão Digital do Governo Federal, que busca promover inclusão digital e social das comunidades mais carentes.

Trata-se de um projeto de uso intensivo da tecnologia da informação para ampliar a cidadania e combater a pobreza, visando garantir a inserção do indivíduo na sociedade da informação e o fortalecimento do desenvolvimento local. A iniciativa já chegou com sucesso inclusive no exterior, com a implantação de dois desses centros comunitários em Cuba, três no Haiti, um em São Tomé e Príncipe, um em Angola e outro em Cabo Verde.

Comunicação Social do Serpro - Belo Horizonte, 2 de julho de 2008


Fonte: SERPRO

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cooperação Sul/Sul: Brasil e Angola pelo Software Livre


A experiência do Software Público Brasileiro (http://www.softwarepublico.gov.br/) será apresentada no continente africano durante o 1º Fórum de Software Livre de Luanda http://www.fsl-luanda.com/, que ocorre entre os dias 26 e 27 de junho, em Angola.

Além da apresentação sobre a organização e o funcionamento dessa iniciativa, prevista para o primeiro dia do evento, também serão realizadas reuniões entre o governo brasileiro e o angolano para tratar de ações de compartilhamento e colaboração de soluções entre os dois países.

O Portal do Software Público é coordenado pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento. Na avaliação do coordenador do portal, Corinto Meffe, a experiência de compartilhamento inaugurada pelo governo brasileiro tem chamado atenção de outros países. “Não se trata somente de disponibilização de soluções, mas de uma preocupação com o todo o ecossistema que envolve a produção de softwares, ou seja, com a demanda por soluções, por prestadores de serviço e pela cadeia de desenvolvimento”, destacou Meffe.

A experiência do Portal do Software Público Brasileiro também será apresentada neste ano em eventos na Argentina, Peru e Venezuela. A iniciativa conta com mais de 22 mil usuários, 15 soluções disponibilizadas e mais de 110 prestadores de serviços já cadastrados.

Outra iniciativa brasileira que estará em destaque no Fórum em Luanda é do Mercado Público Virtual (http://www.mercadopublico.gov.br/).
<http://www.mercadopublico.gov.br/> O espaço é coordenado pelo Programa das Nações Unidas (PNUD), em parceria com a SLTI, e foi organizado para facilitar o acesso aos prestadores de serviço para as soluções públicas e livres que se encontram no Portal do Software Público. A intenção é fortalecer o contato entre o usuário que demanda por determinada solução e a oferta de serviços.

Fonte: http://www.softwarepublico.gov.br/

terça-feira, 10 de junho de 2008

Para os incrédulos verem: exemplo de alfabetização com Software Livre

Este "post" eu roubei do Blogue do amigo Sérgio Amadeu. Roubar não é o verbo correcto neste caso, na verdade, eu "partilhei" do seu Blogue.

De facto, no movimento software livre a cultura é essa, a da partilha... segundo um dos princípios da cultura hacker, não se deve refazer o serviço bom que já está pronto, apenas aprimorá-lo, quando necessário. Por isso, permitam-me transcrever este artigo do Sérgio, que tenho prazer em redistribuí-lo como exemplo de atitudes positivas, frutos do uso de tecnologias livres.

Ultimamente o meu empenho tem sido neste sentido, de mostrar aos incrédulos que existe uma mais-valia no uso desse tipo de tecnologias, principalmente para a melhoria da educação nas escolas e universidades.

Leaim, então, com atenção o texto abaixo, confiram o link do projecto da professora Bianca Santana, e certifiquem-se se isso não é o que podemos chamar de "inovação criativa".

ALFABETIZAÇÃO COM COMPUTADORES E COM SOFTWARE LIVRE
Localização original: [http://samadeu.blogspot.com/2008/06/adultos-aprendem-escrever-no-computador.html]

A professora Bianca Santana, jornalista pela Cásper Líbero, ativista de redes sociais, acumulou muita experiência no uso das redes digitais em processos de aprendizagem. Como voluntária do projeto de alfabetização de adultos chamado Ilha de Vera Cruz convenceu a instituição a adquirir 9 laptops EEE PC para alavancar o aprendizado dos seus alunos.

Ela percebeu que muitos adultos tinham medo do papel, demonstravam uma certa vergonha de errar e de apagar várias vezes o seu texto. Com o computador, os estudantes passaram a escrever mais e melhor. Também aprenderam a pesquisar na Internet e a postar seus conteúdos na rede.

O sucesso da experiência foi tão grande que os seus alunos até já criaram um post na wikipedia. Discutiram, pesquisaram e colaboraram com a maior enciclopédia do mundo. Estão mais confiantes e orgulhosos, pois podem ver seu trabalho ajudando outras pessoas.

Veja o blog do projeto AQUI. [http://portuguesilha.wordpress.com/2008/06/06/verbete-dos-alunos-na-wikipedia/]

Veja aqui o post na wikipedia. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Tenond%C3%A9_Por%C3%A3]

CONHECIMENTO LIVRE: O EEE PC veio com Gnu/Linux, Firefox e OpenOffice instalados, ou seja, com software livre. Logo em seguida, os técnicos de TI da escola quiseram instalar windows nas máquinas. A prof Bianca mostrou a incoerência de usar software de código-fonte fechado em uma escola. Esclareceu que eles deveriam incentivar o uso de software aberto, uma vez que é baseado no compartilhamento do conhecimento tecnológico. Além disso, os jovens técnicos testaram as máquinas e perceberam que o software livre "dava conta" de todas as exigências do processo de ensino e aprendizado. Então, por que utilizar software proprietário? No início da conversa, um dos técnicos ainda falou: "posso ligar para um programa escola aberta da micro$oft e pedir licenças gratuitas". A professora Bianca mostrou que não existe escola aberta com conhecimento fechado. Parabéns ao Ilha de Vera Cruz. Parabéns para a professora Bianca.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Redes Sociais no ciberespaço: novos tempos, novas exigências

Quem diria… a alguns anos atrás, grande parte das pessoas que tinham acesso ao mundo do ciberespaço, recusavam pertencer a alguma comunidade de “rede social”, tais como o Orkut, o Hi5, LinkedIn, MySpace, etc., por dizerem se tratar de um universo de adolescentes, propício apenas para a invasão de privacidades, fraudes e crimes (pedofilia, pornografia e pirataria).
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Hoje a realidade é outra. A edição de Junho da revista INFO, que já está nas bancas no Brasil, traz uma questão polémica: o uso das redes sociais ajuda ou atrapalha sua carreira profissional? Existem truques e dicas para usar essas redes a seu favor e crescer profissionalmente no mercado de tecnologia (além de fugir de eventuais gafes)?

Com as transformações sociais, ocorridas pela inserção de novas tecnologias de informação e de comunicação mediadas por computador, o “mercado” forçou-se a adaptar-se aos novos tempos. De facto, o “mercado” é sempre o primeiro ramo da sociedade que se adapta às transformações, uma lição que as demais áreas deveriam começar a aprender urgentemente. Não que eu faça apologia ao mercado, porém muitas vezes a guerra é vencida justamente ao se estudar as estratégias do adversário, não é verdade?

As “redes sociais” hoje fazem parte do quotidiano das pessoas, só no Brasil a popularidade do Orkut é tão grande que tornou-se quase um novo documento de identidade. É como se fosse o Currículo individual do cidadão no ciberespaço. Antes, um seleccionador de empregos tinha a necessidade de buscar informações sobre o seu candidato através de cartas de recomendações, de longas entrevistas com o mesmo, a fim de sacar deste os seus interesses, o seu universo criativo, a sua rede de relações… hoje, gradativamente, essa realidade vem sendo alterada com o uso dos computadores.

No começo deste ano eu assisti a uma reportagem numa emissora brasileira com uma psicóloga que trabalha justamente neste campo da selecção de pessoal de uma grande empresa. Segundo ela, o primeiro passo, após escolher entre os inúmeros currículos profissionais apresentados pelos candidatos é fazer uma varredura na Internet do sujeito. Com uma simples pesquisa pelo nome é possível descobrir muita coisa sobre o cidadão, através dos dados disponibilizados pelas entidades governamentais, etc. Sabe-se, por exemplo, se o candidato é um bom pagador, se não tem dívidas no mercado, se é estudioso e se faz concursos como vestibular e empregos, quais são suas ideias, se tem um blogue onde expõe seus interesses, sua visão de mundo. Que tipos de ambientes frequenta, em que festas e com que amigos costuma andar, quais comunidades de interesse na Internet participa, se são também profissionais ou somente lúdicas, etc.

Uma série de questões poderiam ser levantadas quanto à privacidade e a individualidade das pessoas nesta era das intrusões. No entanto, facto é que essa realidade existe e está acessível cada vez mais a um número maior de pessoas, não por uma imposição directa de uns sobre outros, mas pela própria adesão dos indivíduos voluntariamente. Portanto, antes de sair escrevendo qualquer tipo de besteira nos Blogues, e sites sociais e de relacionamento, tenha em atenção as consequências dessas atitudes para o restante de suas vidas, incluindo os campos profissionais, morais e cívicos, pois a responsabilidade criminal hoje também é acompanhada pela ciberinvestigação. Muitas redes de burlas e crimes, tais como tráficos, pedofilia e fraudes estão sendo desmanteladas com a ajuda da ciberinvestigação.
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Como defendo, a Internet não é uma rede de computadores, mas de pessoas. Ela é o espelho recriado e virtual da sociedade. Não é um mundo imaginário e fictício. Pensemos nisso!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Stellarium: um planetário no seu PC!

Bom, quem me conhece minimamente sabe que eu sou um namorador de estrelas.
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Existem coisas que um ser-humano contemporâneo perdeu o hábito de fazer, mas como sou meio humano e meio não-humano, permito-me esses desvios. Outro dia, navegando pela Internet na minha aventura de escrever uma tese, descobri um software simplesmente fantástico. Chama-se Stellarium.
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Este software permite uma visão do céu em três dimensões (3D) de uma forma bastante realista. Sempre fiquei fascinado ao visitar os Planetários, mas encantei-me de poder ter um planetário dentro de casa. São essas coisas que me fazem lutar tanto pela democratização das tecnologias de informação e de comunicação. Fico a pensar que a uns anos atrás só tinha acesso a esse tipo de encantamento alguns poucos cidadãos que moravam nas proximidades das Universidades, ou em grandes cidades, pagando sempre um bilhete de ingresso, as vezes inacessível para todos.
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Hoje, com a Internet e com os recursos tecnológicos, um professor de Geografia a lecionar em Quixelô (CE), ou em Anta Gorda (RS), pode levar esse recurso para seus alunos em sala de aula. Todo o céu estrelado, os planetas, as galáxias… Isso é revolução por justiça cognitiva.
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Mas, tenho de ressaltar um detalhe importantíssimo, pois diriam os desconfiados e descrentes… e quem tem acesso a esse tipo de tecnologia? Será que não sai mais barato pagar o tal bilhete de ingresso para ver as estrelas? Para esses, tenho a dizer que o Stellarium é um Open Source, é gratuito e está disponível na Internet para ser utilizado por qualquer pessoa que tenha acesso à rede. Está licenciado em GPL, isto significa que qualquer pessoa tem o direito de fazer o download e usá-lo, e também fazer modificações.
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O Stellarium é fácil de usar, seu interface é amigável e é uma boa oportunidade para estudantes e professores se aprofundarem no estudo da astronomia. E, para os amantes das estrelas, de sonhar e fazer poemas com elas (lol).
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Ah! E está todo em português!!!!
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E os descrentes e pessimistas continuam... "Ah! e desde quando todas as escolas têm acesso à Internet no Brasil. Quem disse que em Quixeló ou Anta Gorda já chega banda larga?"
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E eu respondo: Você, cheio de dúvidas e certezas... está fazendo o que para que a banda larga chegue logo a todo canto do Brasil????? Ao invés de ficar aí a lamentar-se, porque não se junta nas fileiras do "movimento software livre" e engrossa a luta pela democratização das tecnologias???? Quer saber como??? Pergunte-me!!!! mas... cuidado; vou responder rápido demais e vais ter muito trabalho para fazer. Aceitas o desafio??? Senão... para de agorar, pois como já dizia o poeta Vandré: esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!!!!!

terça-feira, 3 de junho de 2008

O que é o Virtu@l (???)

Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são.
Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga, uma salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
-Tio, dá um trocado?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, compro um para você.
Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e a boas lembranças de tempos idos.
- Tio, pede para colocar margarina e queijo também?
Percebo que o menino tinha ficado ali. - OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá?
Chega a minha refeição e junto com ela o meu constrangimento. Faço o pedido do menino, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir. Meus resquícios de consciência me impedem de dizer. Digo que está tudo bem.
- Deixe-o ficar. Traga o pão e mais uma refeição decente para ele.
Então o menino se sentou à minha frente e perguntou:
- Tio, o que está fazendo?
- Estou lendo uns e-mails.
- O que são e-mails?
- São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet.
Sabia que ele não iria entender nada, mas a título de livrar-me de maiores questionários disse:
- É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- Tio, você tem Internet?
- Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.
- O que é Internet, tio?
- É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual.
- E o que é virtual, tio?
Resolvo dar uma explicação simplificada, novamente na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha refeição, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transforma- mos o mundo em quase como queríamos que fosse.
- Legal isso. Gostei!
- Mocinho, você entendeu o que é virtual?
- Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual.
- Você tem computador?
- Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia.
- Isto não é virtual, tio?
Esperei que o menino terminasse de literalmente 'devorar' o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na vida, e com um 'Brigado tio, você é legal!'. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Falando, falando, e tentando ser compreendido: continuando o diálogo

Abaixo, transcrevo a resposta que formulei ao amigo Nilton ao seu comentário do post "Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!"


Caro (professor) Nilton:

Concordo consigo em considerar um texto um evento comunicativo. Meu interesse pelo “texto” é o de utilizá-lo como dado para análises sociais de factos concretos. Procuro compreendê-lo dentro deste universo de produção, transmissão e registro de comunicações, com a finalidade de obter, no conjunto de um discurso (conteúdos e continentes) extremamentes diversificados, não só os significados, mas, sobretudo, os significantes de uma comunicação. Neste sentido, o meu interesse pelos textos é conseguir retirar as mensagens nesta conjunção de significados e significantes, procurando inseri-las num contexto social, como produto/produtora de acções (ou factos) sociais.

Para tanto, não me prendo essencialmente às preocupações específicas da lingüística enquanto interesse científico determinado. Utilizo a lingüística de modo transversal. Poderia dizer, utilizando a sua preferência epistemológica, que parto de uma abordagem de cunho transdisciplinar. Digo isso, porque muito mais do que realizar uma colaboração interdisciplinar de áreas de conhecimentos distintos, acabo por realizar uma coisa nova, uma nova disciplina, se bem desejarmos denominá-la. Se assim for, denominá-la-ia de “análise de conteúdo”, uma área de produção de estudos com certo acúmulo de produção e que hoje serve como ferramental metodológico para diferentes ciências que estudam campos sociais e suas interacções sociais baseadas na comunicação. Posso destacar, desde as ciências sociais, as ciências da comunicação, as ciências políticas, bem como determinadas áreas das ciências médicas, tais como a saúde colectiva, saúde pública, administração pública de saúde, etc., áreas da psicologia clínica e principalmente social, e, acredito que também o seu campo específico particular, o da Terapia Ocupacional, dentre muitas outras.

Tais disciplinas relacionadas com a linguagem, que me citas no teu texto, encontram-se presentes em meu trabalho, em determinados momentos, pois o conteúdo envolve, indirectamente, uma análise do discurso. Entretanto, não é a linguística em si, nem a lexicologia, nem a semântica, nem a análise do discurso que me interessam separadamente. Todos esses campos são importantes e estão presentes de alguma forma, utilizados como meios de atingir uma análise mais ampla, a que chamo de análise de conteúdo.

Neste sentido, quero apenas ratificar a distinção fundamental proposta pelo pai da linguística, F. Saussure, entre língua e fala, pois vejo que marca a diferença e torna minha explicação compreensível. Para este autor, o objecto da lingüística é a língua, ou seja, o aspecto colectivo e virtual da linguagem, enquanto que o da análise de conteúdo é a fala, isto é, o aspecto individual e actual (em acto) da linguagem. A linguística é um estudo da língua, a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades através das mensagens.

Trocando em miúdos e utilizando uma metáfora do próprio
Saussure, a do jogo de Xadrez, segundo ele, a linguística não procura saber o que significa uma parte, ao contrário, tenta descrever quais as regras que tornam possíveis qualquer parte. Nesse sentido, podemos dizer que, enquanto a linguística estabelece o manual do jogo da língua, a análise do conteúdo tem o objectivo de compreender os jogadores ou o ambiente do jogo num momento determinado, com o contributo das partes observáveis.

Ufaaaaa! Nossa, não contei as palavras das minhas frases. Será que ultrapassei demais as 15? Será que falei, falei, e não disse nada? Bom, isso é só um treino. "Quem não começa perdendo, não termina vencendo".

domingo, 6 de abril de 2008

Construindo um hipertexto sobre Ciência e Modernidade

[Praia de Vigo, Espanha - Pôr do Sol 25/09/2004 - Foto by: Adalto Guesser]

Nos últimos dias tenho procurado refletir sobre um tema cada vez mais presente em minha vida. A Ciência, a Modernidade, e suas relações com o mundo das coisas e dos seres. Depois de ter aceitado voluntariamente e conscientemente que o mundo é constituído por seres humanos e não-humanos, cabe refletir sobre algumas questões. Não consigo formular, ainda (nem sei se um dia conseguirei), uma teoria capaz de dar sentido geral para tantas incertezas. Do que estou a ler e reler, proponho o hipertexto que se segue, feito pela junção de pensamentos racionais de homens de realidades e ocupações diferentes, cujo final, ..., ah, sim, o final... esse, fica em aberto, pois como digo frequentemente, quando não consigo explicações racionais para o mundo em que vivo, fujo para as artes, para a literatura, a música, os poemas, as cores, os sons.

Sciencia

Considerar a sciencia como valendo em si alguma cousa é fazer metaphysica.
A sciencia só vale humanamente, só como útil para a vida humana. Em si (por razões já expostas) não vale nada porque o conhecimento scientífico é puramente relativo[.]
(Fernando Pessoa [*1])

Ciência moderna

Os pressupostos metafísicos, os sistemas de crenças, os juízos de valor ão estão antes nem depois da explicação científicada natureza ou da sociedade. São partes integrantes dessa mesma explicação. A ciência moderna não é a únicaexplicação possível da realidade e não sequer qualquer razão científica para a considerar melhor que que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte ou da poesia. A razão por que privilegiamos hoje a forma de conhecimento assente na previsão e no controle dos fenômenos nada tem de científico. É um juízo de valor. A explicação científica dos fenômenos é a auto-justificação da ciência enquanto fenômeno central da nossa contemporaneidade. A ciência é, assim, autobiográfica. (Boaventura de Sousa Santos [*2])

Ruptura moderna

A ciência moderna nasceu de uma ruptura brutal em relação à antiga visão de mundo. Ela está fundamentada numa idéia, surpreendente e revolucionária para a época, de uma separação total entre o indivíduo conhecedor e a Realidade, tida como completamente independente do indivíduo que a observa. (Basarab Nicolescu [*3])

Universalidade da modernidade

A modernidade pertence a essa pequena família de teorias que simultaneamente se declara e se deseja de aplicabilidade universal. O que tem de novo a modernidade (ou a ideia de que a sua novidade é um novo tipo de novidade) decorre desta dualidade. para além de tudo o que criou, o projecto iluminista aspirou a criar pessoas que, post festum, viessem a querer ser modernas. Essa ideia que em si próprias se consuma e se justifica provocou muitas críticas e muita resistência, tanto na teoria, como na vida quotidiana. (Arjun Appadurai [*4])

Jamais fomos modernos

Posso agora escolher: ou acredito na Constituição moderna, ou então estudo quanto o que ela permite quanto o que proíbe, o que ela revela e o que esconde. Ou defendo o trabalho de purificação - e me torno também um purificador e um vigilante da Constituição - , ou então estudo tanto o trabalho de mediação quanto o de purificação, mas então, deixo de ser realmente moderno. (Bruno Latour [*5]).

E agora José, Maria, Boaventura, Latour, Adalto, ...

Et quid nunc, Ioseph?
Festum est finitum,
lumen est exstinctum,
cuncta evanuit turba,
nox est frigefacta,
et quid nunc, Ioseph?
et quid nunc, et tu?
Qui nomen non habes,
qui alios derides,
qui versus componis,
qui amas, reclamas?
et quid nunc, Ioseph?
(Carlos Drummond de Andrade [*6])

[*1] In LOPES, Teresa Rita. Pessoa Inédito. Lisboa: Livros Horizonte, 1993, p. 409.
[*2] In SANTOS, Boaventura de Sousa Santos. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1987, p. 52.
[*3] In NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdiciplicaridade. São Paulo: Triom, 2001, p. 17.
[*4] In APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da Globalização. Lisboa: Teorema, 1996, p. 11.
[*5] In LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2000, p. 50.
[+6] In BÉLKIOR, Silvia. Ioseph. Tradução para o latin de "José", poema de Carlos Drummond de Andrade, disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/drumml07.html, acedido em 06/04/08).

terça-feira, 25 de março de 2008

É mais fácil transformar uma lanhouse em escola do que transformar uma escola em escola


A frase da semana, que está dando o maior debate, foi destacada pelo amigo Sérgio Amadeu, proferida pelo Claudio Prado: "É mais fácil transformar uma lanhouse em escola do que transformar uma escola em escola".

O burburinho de corredor já se formou. De fato, não é uma realidade facilmente aceita por todos, basta lembrarmos de que muitos importantes nomes mundiais da atualidade ainda são bastante temerosos da Internet [veja comentário deste blog, publicado em 27/11/2007].

Eu, particularmente, sempre defendi o potencial emancipatório das redes, e, dentre todas elas, a rede das redes, a Internet. O ciberespaço possui todos os elementos para ser e para fazer-se escola. Não poderia ser diferente, se o virtual é o espelho recriado da sociedade real, torna-se imprescindível torná-lo conhecido, estudado e explorado. Para isso precisamos de infra-estrutura de redes, de tráfego de alta velocidade, de equipamentos modernos e de softwares com filosofias inclusivas, precisamos, em outras palavras, de “inclusão digital”.

É fácil? Não, é! É uma tarefa complexa e cara. Porém, como a primeira, esta segunda frase é simples, dura e plena de significado: “Se você acha a educação cara, experimente a ignorância” (Dereck Bok). Isso apenas para lembrar que, se desejamos justiça cognitiva e justiça social, temos de começar a nos mexer urgentemente no sentido de acelerar o processo de inclusão digital em nosso país. As ações do atual governo estão sendo inovadoras e audases, mas se não houver participação cidadã, poderão ser barradas nas burocracias legislativas, nas corrupções coorporativas, nas preguiças adminsitrativas de nossas escolas de modelo ultrapassado.
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Cada um de nós têm um pouco a fazer. Se alguém ainda não sabe por onde começar, mande-me um e-mail que não tardo em repassar um lista de iniciativas para se começar “ontem”.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Três caminhos, Moisés, Jesus e o Coelho. Existirá um próximo?


[P.S.: Sim, esta estrada existe... está em Portugal. Achou que poderia estar em outro lugar?]


Na América ocidentalizada, europeizada pela modernidade cristã católica, nos acostumamos a celebrar a Páscoa. Embora, hoje em dia a grande maioria das pessoas nem saiba exatamente o significado primeiro desta data milenar. Conhecem apenas o significado último, aquele empregado pelo capitalismo, pela sociedade de consumo e pelos enredos de Walt Disney, do Coelho e dos Ovos de Chocolate. Aliás, quanto mais ovos e chocolates, mais Páscoa. Nem sempre foi assim, e nem para todos é assim. Existe dois grandes agrupamentos civilizatórios que, por caminhos diferentes, celebram a Páscoa num sentido histórico-religioso. Um terceiro agrupamento, hoje globalizado e transnacional, comemora... sem sentido, mesmo. Os dois primeiros, de mesma estirpe, a tradição judaica, o terceiro, não tem estirpe nenhuma, tem apenas conta bancária. De fato, antes da ascensão da Páscoa como Comércio, apenas os Judeus e os Cristãos comemoravam esta data, marco simbólico de sustentação de toda a tradição que compreendem suas cosmologias.

A primeira tradição remonta a milhares de anos, narrada por um povo chamado Judeu. Para estes, a Páscoa simboliza a passagem da escravidão, para a terra prometida, para a libertação. É a história do povo hebreu, que andava torturado e explorado pelos egípcios, e saiu errante pelo deserto sob o comando de Moisés, em busca da terra prometida por seu Deus Único, Jahvé. É, sobretudo, uma história de convulsão social, de revolta, de um grande líder, Moisés. É a história da chegada na terra da liberdade e dos gozos ofertados pela divindade, depois de passadas as agruras do Mar-Vermelho, da fome e da sede no deserto, das provações nas montanhas. Passagem, portanto, de uma vida antiga, para uma vida nova.

A outra tradição é uma versão mais recente, tem apenas pouco menos de 2000 anos e é narrada pelos seguidores de Cristo. Para os Cristãos, a Páscoa também simboliza uma passagem. Reconceitualizado, o enredo agora não fala mais de uma passagem entre mundos neste plano, mas trata da relação deste, com o reino de Deus. Para os Cristãos, não mais de um Deus Único, mas de um Deus mistério, único, mas trino, composto de três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Páscoa marca a passagem da morte, para a vida, da ressurreição deste Deus, feito homem, na pessoa do Filho. É, também, a lembrança do fato histórico da morte do revolucionário homem, Jesus Cristo, um subversivo, agitador social, líder comunitário inconformado, agente político da oposição.

Mistérios, tradições, lembranças, marcos históricos. Seus rituais memorativos são repletos de sinais e símbolos. Tanto numa tradição, como na outra, o caminho para se chegar à Páscoa não é um caminho fácil. Uma fala de escravidão, de cordeiro imolado (pesah), de pães ázimos (matsah), de ervas amargas (maror), do deserto e do longo caminho para ser percorrido até a libertação. A outra, fala de prisões, de açoites, de traições, de cruz, de calvário, de abandonos e da morte, necessária para a ressurreição. A Páscoa, no ocidente ainda deveria ser sinal da passagem de uma realidade desgraçada, para uma plena da graça de Deus.

Mas, existe uma terceira narrativa, muito mais nova, doce e rentável. É uma tradição de pouco menos de 500 anos, surgiu depois da descoberta da América pelos europeus, do encontro com o cacau e da invenção do chocolate. É a narrativa do Coelho que esconde cestas de chocolates. Aqui, a Páscoa é bem mais agradável, compreende um esforço de suportar maratonas, às vezes tortuosas nos supermercados, na busca dos melhores produtos e preços, na ansiedade de vencer a espera da manhã do dia de domingo, de poder consumar a Páscoa. A recompensa é doce, gostosa, reconfortante. Nada de jejuns, ázimos, cruzes ou desertos, aqui temos Coelhos felpudos que falam e cantam, temos ovos de chocolate de todo tamanho, bacalhau e vinho importado, as amêndoas açucaradas, os caramelos de todos os formatos, os bombons com todos os recheios. E lucros! Claro, temos a passagem da baixa de vendas do natal, para o superávit da Páscoa. Esta é a Páscoa da tradição Capitalista contemporânea.

Em todas as três narrativas, tivemos a presença de uma figura de liderança carismática, Moisés, Jesus e o Coelho. Fico a pensar na velocidade de transformação da nossa imaginação social, na capacidade que temos hoje de criar enredos coletivos, de incitarmos massas para fazerem passagens, e fico curioso por saber quem será o novo líder da nova narrativa da Páscoa. Que rituais, reais, ou virtuais, eles nos apresentará para a sua memória? Que tipo de passagem deveremos fazer? Não sei, mas não me animo a pensar. Deixo para que o tempo escreva a sua história. Será que ainda farei parte dela?

quarta-feira, 19 de março de 2008

Se um país se faz com homens e livros, o Brasil é feito de quê?

[Biblioteca Joanina, Universidade de Coimbra, Portugal]



Outro dia, ao ver uma reportagem sobre a comemoração dos 200 anos da vinda da família Real Portuguesa para o Brasil, com D. João VI, fiquei surpreso ao tomar conhecimento de alguns dados estatísiticos. Foi D. João quem trouxe a primeira biblioteca para este país e deixou-nos um grande legado cultural, mesmo depois de sua partida. A Biblioteca Nacional conta com um precioso acervo Real, que foi deixado em terra brasileiras como parte do acordo estabelecido entre Brasil e Portugal, na época da Independência. Isso, por si só, já bastaria para transferir ao Brasil uma vocação de povo leitor, com gosto pela leitura... mas, não é bem assim.
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Li uma reportagem publicada na “Tam nas Nuvens” (Revista de bordo da TAM), que dizia que no Brasil existem atualmente apenas 2008 livrarias, para uma população de 186 milhões de habitantes. Isso equivaleria dizer que cada livraria deve atender uma média de 90 mil brasileiros. Isso é um caos, se compararmos Paris, que sozinha tem 2000 livrarias, para uma população de pouco mais de 3 milhões. Ou do país vizinho, igualmente pobre, a Argentina. Só a Argentina, bem menor em território e em população (cinco vezes menos), tem metade das livrarias existentes no Brasil. Essa reportagem ainda cita dados da Câmara Brasileira do Livro que diz que no raio X do Amapá, segundo pesquisas recentes, aparecem apenas duas livrarias, e no Tocantins inteiro, apenas uma está registrada na capital, para servir (???) ao Estado inteiro.
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Decididamente, como cientista, professor, educador, formador, não consigo imaginar desenvolvimento pleno sem leitura, sem escrita, sem livros. O meio não é mais importante, pode ser meio físico, pode ser digital, é preciso escrever, e para escrever, é preciso ler... e ler muito. Outro dia escutei uma desculpa super furada de um preguiçoso a dizer que não tinha o hábito de ler livros, pois nasceu na era digital. Nascer, ele até pode ter nascido, mas será que de fato está incluído nesta era? Uma era onde o conhecimento é o elemento principal, onde as informações são essenciais, e onde a leitura é fundamental para ter acesso a esses conhecimentos e informações, ler faz-se imprescindível.
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Diz o ditado popular que um homem só se realiza plenamente quando faz três coisas: planta uma árvore, faz um filho (ou filha) e escreve um livro. Pensando assim, temos uma população de homens incompletos, pois pelos dados que temos, a média de leitura dos brasileiros alfabetizados é de 3 livros inteiros durante toda a vida. Ficou chocado? Pois, pasme, se contarmos toda a população e incluirmos ai todos os analfabetos, esse número cairá drasticamente.
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Lembro-me, também, de uma clássica frase de um importante escritor brasileiro que dizia que: “um país se faz com homens e livros”. Onde estão os livros do nosso país? Das duas uma, ou o Brasil não está se fazendo livros, ou não está se fazendo enquanto país. É triste, é lamentável essa constatação ao ver que este país é tão rico em cultura, em criatividade, em talentos. O imaginário social deste país é tão cheio de enredos, de personagens, de cenários... tudo isso poderia ser melhor explorado, valorizado, escrito e registrado para ser consumido aqui dentro, e lá fora.

O sentido da vida: onde está? quem o perdeu?


Ultimamente, devido ao meu trabalho de investigação, tenho andado muito entre jovens da classe média. Neste pequeno texto, quero me referir a um perfil de jovem, criado pelo imaginário social, identificando como tal os rapazes e moças de certa idade que varia entre os 18 e os 28 anos, com gostos e imaginários próprios e bem característicos de música, de vestimenta, de modos de agir, interagir, divertir-se e trabalhar.
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Estranhou-me, no Brasil, um país com tantas discrepâncias sociais, ver que uma chaga característica dos países ricos, também se encontra cada vez mais visível nessas terras. O uso de drogas entre jovens (e não tão jovens) não é nenhuma novidade por aqui, entretanto, assusta-me o uso de drogas não consideradas “drogas”. O Ecstasy, por exemplo, as famosas balinhas da doidera dos boyzinhos, já é bastante popular nas festinhas dos jovens da classe média. O maior perigo destas “balinhas” é justamente o fato de se disfarçar a sua natureza de lobo em pele de cordeiro.
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Segundo uma matéria publica na FolhaTeen de 18/02/2008, uma pesquisa realizada entre jovens usuários de Ecstasy demonstrou que os usuários não percebem os vendedores ou repassadores da droga como traficantes, mas sim, como amigos. De fato, os novos traficantes são os colegas de faculdade, da academia, da praia, da balada. O próprio termo “balada” foi reconceitualizado por esses jovens. Antigo sinônimo de noitada, balada agora significa literalmente alguns momentos sob o efeito alucinante da droga.
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Quando comecei a freqüentar algumas casas noturnas na Europa, fiquei assustado com o preço das bebidas nos bares. Numa danceteria, um destilado de 12 anos custa o equivalente a uma garrafa de água mineral. Não é o destilado que está barato, é a água que está inflacionada. É uma medida para reduzir o consumo de drogas como o Ecstasy que, geralmente é consumida com grande quantidade de água, dispensando o consumo de outras bebidas para dar o “barato” da noite.
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Uma pena... certamente, uma pena ver que jovens da classe média, estudantes de bons colégios, moradores de zonas nobres, proprietários de carros e de um padrão de vida que lhes permite quase tudo, afogar suas angustias e necessidades numa ilusão efêmera que a droga lhes proporciona por algum momento. Onde estão os sentidos que poderiam substituir essas falsas soluções? Onde se perderam? Quem os perdeu?

segunda-feira, 10 de março de 2008

Pensei que fosse o céu!

[Praia de Calhetas, PE]



Vander Lee e sua incomparável poesia... diz tudo!


Basta adicionar a imagem de um lugar real, que os sentimentos são expressos nos versos do poema deste magnífico mineiro.
Bem, o fato e o cenário eu vivi... faltavam-me as palavras. Eles emprestoume-as.


Veja se não é verdade!

(...) Estava ali, me confundi
Pensei que fosse o céu
O azul do mar me chamou
E eu pulei de roupa e de chapéu
A onda veio e me levou
Desse lugar e agora eu sou
Uma ilusão, a solidão é meu troféu
Aquela foto amarelou
O riso no meu camarim
Felicidade bate a porta e ainda ri de mim (...)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Urnas eletrônicas terão sistema operacional Linux nas eleições

O Plenário do Tribunal Superior Eleitoral decidiu, na sessão administrativa do último dia 13, autorizar a substituição do sistema operacional VirtuOS e Windows CE de todas as 430 mil urnas eletrônicas, pela versão de software livre Linux, a ser desenvolvida pela equipe técnica do próprio Tribunal. O objetivo é conferir mais transparência e confiabilidade à urna eletrônica e ao processo eleitoral. O novo sistema estará em vigor nas próximas eleições municipais, em 2008.

A Secretaria de Tecnologia da Informação (STI) sugeriu a adoção de um sistema operacional baseado em software livre, adaptado para a urna eletrônica e que seja de propriedade da Justiça Eleitoral. A intenção é facilitar a auditoria do sistema operacional por parte dos interessados em se certificar que todos os sistemas são confiáveis e seguros, diminuir os custos de aquisição de novas urnas eletrônicas em virtude da utilização de um sistema operacional gratuito e, ter um único sistema operacional para simplificar e diinuir o custo de desenvolvimento, testes e homologação dos sistemas das urnas eletrônicas.

A equipe técnica do TSE, desde 2002, vem realizando testes para viabilização de uma solução de código aberto. Foi escolhido o sistema operacional Linux, software código-aberto (Open Source) cujo núcleo vem sendo desenvolvido e aprimorado desde 1991, quando o seu criador disponibilizou o código na Internet. Várias empresas como IBM, HP, Intel, Dell, entre outras, têm investido em código aberto. Atualmente existem mais de 450 distribuições diferentes no mercado. Segundo a Secretaria, as vantagens da utilização do Linux na urna eletrônica são: padronização, pois é possível utilizar o sistema operacional Linux em todos os modelos de urna; transparência, por se tratar de um sistema operacional aberto, todo código-fonte está disponível ao público em geral e pode ser auditado livremente; independência, já que o desenvolvimento será realizado pela própria equipe técnica do TSE, não haverá dependência de fabricante ou fornecedor, muito menos haverá pressões mercadológicas para atualização de versão, nem dependência de políticas de licenciamento e suporte, como ocorre hoje.

Outros aspectos positivos são: a confiabilidade; o custo zero, pois não há pagamento de propriedade intelectual e de direitos autorais, pois não requer qualquer licença; e sua adaptação às necessidades da Justiça Eleitoral, uma vez que conterá somente o necessário para o funcionamento da urna. A manutenção ou qualquer alteração poderá ser feita internamente e com muita rapidez, sem a necessidade de intervenção do fabricante ou fornecedor.

Essa substituição, por fim, aumentará a credibilidade das eleições, pois a substituição dos atuais sistemas operacionais utilizados por Linux é um fator facilitador para apresentação do sistema na íntegra, incluindo o núcleo, sem as dificuldades impostas pela propriedade intelectual dos criadores.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Crise de emancipação: informação que produz formação (???)

A população brasileira está a passar por uma crise de independência que se estende desde a sua Independência formal de Portugal, no final do século XIX, culminando com o fato político de 7 de setembro de 1822, representado alegoricamente pelo famoso grito do Ipiranga. Entretanto, não é dessa emancipação política que quero me referir neste texto. É da capacidade de emancipação cognitiva e de escolha que sempre foi controlada neste país, pelos mais diferentes instrumentos, fossem eles diretos, como as ditaduras e seus aparelhos de censura e repressão, fossem os indiretos, como a televisão, a imprensa e as novelas, como criadoras de um padrão cultural geral para esta nação-continente.

Nem vou me referir da Educação formal, pois esta, coitada, na sua grande maioria sempre foi uma natimorta, está falida desde antes de ter nascido oficialmente. Observe o leitor que eu não sou um generalista, e nem um cego. Paulo Freire, uma das maiores personalidades mundiais dos últimos tempos, era brasileiro, e o desenvolvimento teórico e até prático no campo da pedagogia brasileira é vastíssimo e inovador. Pena que todo este acúmulo não chega aos projetos políticos pedagógicos das escolas e aos alunos. O ranço positivista dos militares ainda permeia a cosmologia do universo educacional do país, sobretudo nas escolas públicas. Enquanto isso, em pleno século XXI, percorro o conteúdo programático de alunos dos cursos de pedagogia de uma universidade federal e, com um assombro, vejo com tristeza que ele está fartamente preenchido com autores europeus e americanos de todos os naipes, renomados pensadores, sem tirar e nem por de seus méritos; entretanto, fica patente, também, a ausência de um “santo da casa”, Paulo Freire continua a ser um ilustre desconhecido (ou rejeitado) pela academia brasileira. Que pena! E disso dou testemunha porque vi e lastimei.

Ontem, enquanto navegava na Internet em busca de alguma informação, mantinha a TV ligada na Rede Globo de Televisão, uma das maiores emissoras de TV e rede de comunicações do mundo. Estava a passar o fenômeno global BBB VIII (Big Brother Brasil VIII). Fiquei impressionado em ver a maneira nada discreta de manipular a opinião pública deste programa. Qualquer indivíduo mais ou menos culto pode notar isso, apesar desta ser uma opinião quase unânime de todos os telespectadores. Através da seleção de cenas e da edição das imagens e textos acompanhados de uma música, não era difícil perceber quem deveria cair nas graças do público e quem deveria ser rechaçado, ou “emparedado”. Isso tudo, escamoteado pela suposta vontade popular, pois segundo seu apresentador principal, o BBB é a mais pura expressão da democracia aberta: nele é “você” quem decide. Este fenômeno não se restringe ao programa BBB, está presente no jornalismo informativo (eu diria, formativo), e na principal difusora de cultura e imaginários, as novelas. Esta ultima, penso eu, juntamente com as Igrejas, com a família e com a Educação formal constituem o principal quadro de produção cosmológica deste país.

Também ontem perdi uma boa meia hora a ver um bocado de novela. Na mesma medida que é informativa e educadora, pode ser difusora de falsa consciência (parafraseando o velho Marx) e condicionadora. Num capítulo vi uma brilhante cena de um enredo que valorizava a reprovação do preconceito racial. Excelente contribuição! Noutra, uma apologia à justiça humana feita pelas próprias mãos, a banalização da desonestidade, da corrupção, da violência, bem como as suas naturalizações, como se fosse premissas in nature da essência brasileira. Cenas de violência em uma favela, comandada por um líder autoritário que é seguido pelo seu feudo como se fosse um herói paternal. O retrato cruel da permanência do paternalismo, do clientelismo e do coronelialismo na vida política desta fração de terra americana. Nada de mentira, nada de ficção, a mais pura realidade, entretanto, naturalizada demais como se fosse imutável, e até, de certo modo, aceitável. A personagem do Sr. Juvenal Antena, o líder comunitário da favela da Portelinha, uma ocupação irregular de terras capitaneadas por ele próprio, está transmutado, na novela, na figura de um benfeitor, uma espécie de Hobin Wood urbano, escamoteando a sua verdadeira identidade de “Chefe do Morro”, do tráfico, do poder paralelo, da dominação, da submissão às suas vontades e seus interesses.

Se isso acontecesse apenas no mundo virtual da TV, até que não seria desalentador, pior que como dizem meus mentores teóricos, o virtual é o espelho recriado do real, e por isso, acontece evidentemente no plano do concreto, fora das telas das novelas, jornais e BBBs. Fiquei pasmo ao ler o comentário da Eliane Cantanhede, na Folha de São Paulo. Esta jornalista, que atualmente é colunista deste jornal, foi atacada da pior maneira possível, com palavriados de baixíssimo teor moral, apenas por tentar, com sua experiência, alertar a população para um risco eminente de epidemia, muito provável e possível. Os detalhes, que não reproduzo aqui, o leitor pode encontrar lendo na íntegra a sua crônica “Seis casos, cinco mortes”, publicada pela Folha, em 16/01/2008. Segundo a autora, que já cobriu um caso semelhante durante o governo de Governo Ernesto Geisel, durante o regime militar, ahora não é de dúvidas, é de se vacinar. Naquela época, apesar das declarações contrárias do Ministro da saúde de então, o país estava ingressando numa preocupante epidemia de meningite que levou a óbito muitas pessoas, principalmente crianças. A autora teve, inclusive, uma entrevista captada pela censura do regime e proibida de ser publicada na Revista Veja, pois, segundo o governo de então, declarar a verdade poderia causar caos na população em busca de tratamento adequado. Hoje, os casos de mortes por febre amarela ainda são poucos, apesar de que os 5 casos confirmados não possam ser banalizados (quem gostaria de ser o próximo?). Tudo isso pode ser evitado com vontade política e respeito à população. Existe tratamento preventivo, as vacinas! Mas a população precisa ir tomá-las e o governo tem de fornecê-las. Apesar de o Brasil ser o maior produtor desta vacina no mundo, o estoque não é suficiente para atender a demanda de toda a população. Com o medo de que ocorra uma corrida desenfreada aos postos de saúde em busca das mesmas, o governo tem optado por uma política seletiva, delineando áreas de risco intenso, áreas de risco moderado e áreas de risco baixo. Não existe no país nenhuma área de risco zero, apesar das informações contrárias propagadas pela TV, pelos responsáveis de saúde, etc. No plano ideal, a atitude mais correta seria imunizar a maior parte da população possível, em massa e logo. Mas isso representa custo e articulações políticas. Enquanto morrem apenas esparsos agricultores e moradores de regiões de matas, não existe prioridade. A prioridade vai começar a ser uma questão quando começar a matar artistas da Rede Globo, filhos de deputados e algum representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Como está a acontecer com a Dengue, que, aliás, é transmitida pelo mesmo mosquito, o famoso Aedes Egypt. É fato que nem todo mosquito está contaminado e faz mal, mas se hoje temos o Aedes em praticamente todo o território nacional, e antes estava delimitado a áreas circunscritas, o que nos garante que a doença não se espalhe também? Por que é o governo que decide quem deve, ou não, procurar os postos e tomar a vacina? Não deveria ser cad cidadão, com sua autonomia própria a decidir? Não é um direito ter acesso à vacina? Não é obrigação do governo produzí-la e fornecê-la?

Eu tomei minha vacina ontem. E no posto onde fui, ela tinha recém chegado e já estava novamente por terminar. E você? Vai ficar acreditando na “informação/formação” do governo transmitida pela Rede Globo?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Summorum Pontificum: restauração conservadora


Para o historiador e filósofo Enrique Dussel, Bento XVI “encabeça
uma corrente de restauração conservadora, e restaurar é voltar atrás”. Concordo plenamente!


Corro o risco, com esse comentário de ser auto (???) excomungado ao condenar uma decisão do Sumo Pontífice, que por tradição canônica, é sempre infalível e irrecusável. Se você acredita piamente na Santa doutrina Católica e teme o fogo do inferno e a condenação eterna, aconselho parar a leitura por aqui e procurar um padre para se confessar e pedir remissão da curiosidade que lhe assombra em não poder continuar a leitura do texto. Eu, de minha parte, como sou rebelde como Chico d’Assis (só na rebeldia que me assemelho, não na santidade, nem na loucura), vou escrever na mesma. Se ninguém ler a minha indignação, ao menos servirá para mim como desabafo daquilo que não posso mudar. De outra feita, se por ventura isso valer a minha condenação pela hierarquia humana, tenho certeza que não o será pela hierarquia divina. Por isso, faço na mesma!

Não são poucas as novas (ou velhas) decisões desse novo Papa que me tem assombrado, mas algumas em especial. Essa preocupação papal de reavivar uma antiga sombra da liturgia das missas permitindo rezá-las em latim com a Summorum Pontificum sobre o Motu Proprio, deixou-me um tanto perplexo. De fato, segundo o direito canônico, as missas em latim nunca foram proibidas, tanto que a mais famosa e midiática missa anual, a “do Galo”, retransmitida televisivamente para todo o mundo, ano após ano, segue-se no bom latim papal como um bonito espetáculo. Mas até aí, vá lá... o latim é a língua oficial do Estado católico, a celebração ocorre em solo vaticano e nada mais natural que seja pronunciada na sua língua oficial. De mais a mais, é sempre traduzida em simultâneo para os idiomas dos países de onde se retransmite, podendo o fiel inteirar-se das cantorias, leituras e orações. Mas dizer missa em latim no cotidiano dos países dispersos pelo mundo parece-me dar umas boas passadas para trás, um retrocesso dos grandes.
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Isso, eu sei, depende do ponto de vista. Para os reformadores e simpatizantes do Concílio Vaticano II tenho certeza que é um mergulho no passado despropositado e quase incompreensível. Afinal, foram anos de luta para fazer uma aproximação do povo à liturgia e à doutrina católica, todo um trabalho que estaria ameaçado pelo retorno de uma tradição descompassada. Não é difícil compreender que o grande salto qualitativo que o Vaticano II proporcionou foi a introdução dos fiéis comuns tanto na preparação e orientação espiritual (catequese), quanto das celebrações litúrgicas, coisa que antes era reservada a poucos iniciados, padres e prelados da Igreja.
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No Brasil, a orientação em preferir a língua local para as missas foi tão facilmente aceita que imediatamente após o término do Concílio os novos missais já começaram a ser impressos. A CNBB aprovou, com autorização eclesiástica maior, a feitura, anos mais tarde, de novas fórmulas eucarísticas, intensificando ainda mais a participação popular com responsos durante a oração eucarística, coisa insólita ainda no restante do mundo. Sem falar nos padres cantores e missas show, que atualmente parecem ter virado moda nesse país de sincretismos e do carnaval; facilmente os novos "cristian pop star" substituíram os hinos clássicos baseados no gregoriano por verdadeiros espetáculos de rock e sambas enredos, com direito a coreografias estilizadas e tudo mais. Vai ser um desastre conseguir motivar o povo brasileiro, que mal sabe falar e decifrar o português culto a compreender o “Dominum vobiscum” sonolento, principalmente se for numa tarde quente de verão. Uma pena, pois nunca a vida paroquial experimentou tanta movimentação com a possibilidade dos leigos atuarem nas mais diferentes frentes, das catequeses aos rituais, como ministros de sacramentos, pregadores, agentes de pastorais, etc.
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Mas, nem todo mundo pensa assim, e a principal e mais forte hierarquia do mundo, a Igreja Católica Apostólica Romana, uma das poucas que assume publicamente sem temor de represálias e interdições, não ser democrática, gosta mesmo é de lidar com a fé ignorante. Eu diria que é por ser mais fácil de manipular a massa, outros apelariam para o discurso da simplicidade de coração (para mim, baboseira que rima com pecado original). Fato é que, até posso apostar, muitos irão se levantar na campanha do “latim, já!”. De fato, só no México já existem duas catedrais diocesanas com missas diárias em latim. Na Europa, acredito eu, elas nunca desapareceram por completo, mas eram espécies de raridades culturais presentes em um mosteiro aqui, um santuário acolá. Quiçá agora voltem a se proliferar, afinal a acústica da maioria dos templos foi projetada para ressoar o timbre oscilante do gregoriano.
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Aqui no Brasil, durante minhas visitas, cada vez mais curtas, tenho assistido principalmente pela televisão, que um grupo nostálgico de radicais têm conseguido um espaço perdido durante anos. Na terra brasilis, onde crescem diariamente as ordes de seguidores dos padres Haroldo Joseph Rahm e Eduardo Dougherty, da RCC (Renovação carismática Católica), de outros da sua versão mais moderna, impelidos pelo Padre Jonas Abib, da Canção Nova, dos discípulos legionários de Plinio Corrêa de Oliveira, da TFP (Tradição, Família e Propriedade), dos radicais seguidores de Jose Maria Escrivá, da Opus Dei e tantos outros saudosistas do período pré-Concílio Vaticano II, vai ser fácil propagar a disseminação dos cultos clássicos em latim. Parece que as atitudes retrógradas do novo Papa têm sido imitadas e propagandeadas. Outro dia li um comentário de defesa a uma crítica que sofreu Bento XVI pelo fato de rezar algumas de suas missas diárias, na Capela Sistina, utilizando a posição Ad Orietem, ou seja, não olhando para a assembléia e sim para a cruz na parede de fundo do altar Mor (de costas para a o povo). Inicialmente criticado por uma agência de notícia, como sendo uma atitude insólita do pontífice, imediatamente uma enxurrada de artigos abundaram a Internet com defesas calorosas, muito bem fundamentadas por juristas entendidos do Direito Canônico, que provaram por A mais B que não existe nenhuma proibição de se rezar a missa Ad Orietem, apenas existe uma recomendação doutrinária que pode, ou não, ser seguida. Até ai, tudo bem, se é permitido, não é proibido. Ninguém pode condenar o Papa pelo fato, aliás, jamais alguém poderia, ele é infalível em seus atos. Recentemente, também, li um artigo intitulado "L'esercito oscuro delle tenebre" (o exército escuro das trevas), publicado no Site Petrus, sobre a importância de se ter em cada diocese um grupo de exorcistas. Há quem defenda a existência de pelo menos uma dezenas desses prelados especializados em mandar o Dêmo para as profundezas do inferno, onde é o seu lugar.
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Eu que pensei que o catolicismo já tinha revisto determinados temas e que já os tinha superado como pertencentes a uma época e a uma cosmologia. Essas coisas ainda combinam numa época pós-moderna? Qual o propósito dessas restaurações conservadoras? A onde quer chegar a Igreja com tais "revives" retrós? Que prepotência ocidentalocêntrica ainda mantém essa instituição? Será que a próxima surpresa será o ressurgimento das Cruzadas? Ou da Inquisição? Estas são perguntas para a qual não tenho resposta. Resta-me apenas a perplexidade (novamente). Entretanto, condivido da opinião de Dussel, como descrevi na epígrafe, e tudo isso cheira-me a retrocesso!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Recriando o antigo: o Cartão Postal de ontem e de hoje



Em minha viagem por este país continental, ao passar por tantas cidades maravilhosas, cheias de belezas naturais e construídas, não raras são as vezes que me deparo com um cenário típico de dizer: “é uma imagem de Cartão Postal”. Consta que Bill Gates, o gênio da Microsoft, recebe diariamente cerca de 4 milhões de e-mails. Mas nenhum cartão Postal. E você, há quanto tempo não manda ou recebe um desses cartões?

Com o desenvolvimento tecnológico das redes de computadores, as comunicações de todos os tipos passaram a sofrer constantes reformulações. Da simples carta missiva, que era portada em mãos de um emissário a um destinatário situado num ponto qualquer do mundo, podendo levar até anos para ser entregue, até um simples telefonema, tudo está a ser recriado pelo uso de computadores e suas maravilhosas interações e possibilidade de troca de dados. Mas gostaria de chamar a atenção para um pequeno porém, nem tudo que temos hoje a ser operado pela velocidade “em tempo real” da Internet é uma idéia completamente nova.

Como já dizia o físico-químico, “no mundo nada se cria, tudo se transforma”, também o Cartão Postal se transformou. Veículo interpessoal que teve seu auge no Brasil entre 1920 e 1930, o Cartão Postal foi, a seu tempo, uma mistura de e-mail, blog, fotolog, telefone celular e televisão. Num pequeno pedaço retangular de cartolina, trocavam-se mensagens breves, acrescidas de uma imagem – cenários urbanos, eventos diversos, tipos populares ou personalidades. Feitas por fotógrafos profissionais. Colhidas com esmero e cuidado, as imagens eram enviadas pelos Correios, encurtavam distâncias, de país em país, de cidade em cidade, de casa em casa, levando impressões de viagens, notícias familiares, felicitações, declarações de amor e até imagens jornalísticas que mais tarde eram aproveitadas pela imprensa internacional. É preciso lembrar que no auge da época dos Cartões Postais, isto corresponde a falar em antes da Revolução de 1930, não havia TV e o sistema telefônico brasileiro era precaríssimo.

Refeitas as contas, o tempo decorrido, hoje o que corre de casa em casa, de escritório a escritório, de computador a computador, são os e-mail e hipertextos trocados entre endereços eletrônicos. Sejam simples textos ou complexos multimídias, com imagens, movimentos, som, textos, não é de se estranhar se amanhã, ou depois, contenham, quiçá, odores e temperaturas. Você já pensou em receber em pleno inverno europeu um cartão virtual da praia Môle, em Florianópolis, e poder sentir o cheiro da maresia do mar, a brisa fresca que chega junto com as ondas para refrescar o calor escaldante dos 35 graus que o sol estufa nestes dias de verão? É, não duvide muito, ao passo que caminha o desenvolvimento tecnológico, isso não só é possível como já existe, apenas não está a ser largamente utilizado.

Bom... esta sensação ainda não posso reproduzi-la no todo neste meio e com os recursos tecnológicos que tenho no momento, mas posso mandar, junto a este texto, uma imagem, um Cartão Postal deste “pedacinho de terra, perdido no mar”: Florianópolis (Ilha da Magia).

Saudades de todas e todos que ficaram a trabalhar além-mar e no interior desse Brasilzão imenso, onde o mar não toca a terra. Também estou a trabalhar por aqui... quer dizer, tentando... entre um cartão postal, e outro.