sexta-feira, 18 de abril de 2008

Prioridade para inclusão digital: os parlamentares brasileiros a apostar na Sociedade da Informação

[Inclusão digital de crianças através dos Telecentros - Foto: Adalto Guesser]

Outro dia, ao ouvir noticias da Câmara dos Deputados, através da Rádiobras, pela Internet, ouvi que deste mês em diante, projectos que tratem da inclusão digital e da convergência tecnológica estarão entre as prioridades da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, do Congresso brasileiro, que desde 4 de Março tem novo presidente, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA). Para mim, que luto constantemente com relação a estas questões, foi uma notícia reconfortante, afinal, parece que nossas pressões estão a começar a surtir algum efeito.

A notícia adiantava que o novo presidente da Comissão C&T, Deputado pelo Partido dos Trabalhadores do Estado da Bahia, Sr. Walter Pinheiro, considera que é preciso levantar e discutir quais são as ferramentas de inclusão digital disponíveis no país e trabalhar pela democratização do acesso a esses recursos. Para levar adiante esses projectos, ele considera fundamental a liberação de recursos de fundos como o Funttel (Fundo Tecnológico das Telecomunicações), o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações e também o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), na expectativa de permitir a consolidação de serviços essenciais, como o e-gov (governo electrónico). Aliás, sempre é assim, uma vez que existem fundos, levantam-se sempre ardilosos arquitectos a planear formas de gastá-los. Vamos a ver se de forma justa e digna, de acordo com os princípios para os quais foram criados, ou para atender interesses particulares, como tem ocorrido com frequência.

De qualquer modo, toda essa movimentação já não era sem tempo. Parece que finalmente o Congresso brasileiro começa a acordar para uma urgência urgentíssima de nosso tempo actual. De facto, hoje quase todos os lares brasileiros têm televisão, mas não têm computador. Mas também não adianta ter computador se ele não tiver uma conexão à Internet. É a Internet que permite a conexão com o mundo cibernético, com os conteúdos digitais, com os serviços, com as informações, etc. O Brasil já é um dos países que mais acede à rede Internet no mundo, porém é um dos países com a menor malha de rede per capta e com uma largura de banda muito baixa, impondo dificuldades para a exploração de grande parte dos recursos disponíveis no ciberespaço. Portanto, disponibilizar os recursos dos fundos é uma medida importantíssima, desde que seja para, de facto, promover o acesso às tecnologias e aos meios de mediação (computadores, infra-estruturas de redes, brateamento de custos, etc.).

A sociedade brasileira, através dos movimentos sociais e da articulação da sociedade civil organizada, deve ficar de olho, controlar e fiscalizar os recursos desses fundos e ver se a aplicação desse dinheiro público não está sendo canalizada para os interesses de grandes corporações e lobbies que utilizam as demandas sociais como fachada para arrecadar rendimentos garantidos. No passado, grande parte dos recursos do Fust foi desviado para actividades duvidosas, embora tivessem uma roupagem de desenvolvedoras de tecnologia. Enquanto o governo lançava editais dirigidos e queimava recursos, empresários ligados aos governistas se apropriavam de somas consideráveis para alavancar seus projectos empresariais, sem a mínima preocupação de
conjunto, sem ter por trás um grande projecto articulado e orientado para um fim determinado que pudesse ser controlado. O risco desse erro, não podemos mais correr.

Vamos acreditar que as intenções do Deputado Walter Pinheiro sejam, de facto, as melhores e que estejam a caminhar de encontro com as expectativa da sociedade brasileira e suas necessidades prementes de ingresso nessa era digital. Entretanto, vamos nós, cidadãos brasileiros, interessados e preocupados com essas questões fundamentais para a educação e para o desenvolvimento cultural de nosso país, marcar bem esse nome, acompanhar as decisões desta comissão parlamentar e estar atentos aos avanços desses projectos no futuro breve.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Transgénicos: Portugal na linha do terrorismo

[Milho transgénico: grãos uniformes, coloração uniforme, lucro uniforme, saúde (???)]

Tempos atrás, o sociólogo e, por acaso meu orientador de tese, Boaventura de Sousa Santos, ao escrever um artigo de opinião, tratou da questão do terrorismo, delineando que, sobre ele, existem dois discursos, um conservador, e um progressista. De certa forma, a ambiguidade dos termos e conceitos é uma característica típica das sociedades democráticas, onde a aceitação e o favoritismo de determinada questão é confrontada com a sua oposição e desprestígio. Isso, não é de todo uma coisa ruim, uma vez que vivemos em sociedades plurais e o onde é almejado o respeito pela diversidade intercultural, ideológica, política e religiosa como fundamentos limítrofes entre a democracia e as suas antíteses.
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A questão colonial mal resolvida do problema da pluralidade, ainda existente em nossas sociedades democráticas, é o peso opressor da versão dominante. Em geral, o pensamento hegemónico costuma-se impor de forma violenta, produzindo cosmologias justificadoras, não-existências(1), naturalizações e generalizações. No caso do terrorismo, como afirma Boaventura, o que é específico é “apenas o facto de o discurso conservador ser completamente dominante” (2).
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Acontece que, ao produzir uma cosmologia dominante e generalista, esta forma tipicamente colonial de produção de ideias nega o debate acerca dos temas de interesse colectivo, impondo perspectivas unilaterais, via de regra utilizadas como argumentos para justificar interesses específicos dos poderes dominantes. Isso acontece actualmente com a definição de terrorismo.
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Corre solto nos meios de comunicação hegemónicos a promoção de definições frouxas, pouco elaboradas de terrorismo, presentes nos discursos de líderes políticos, intelectuais, analistas políticos, etc. Nas palavras de Santos,

“Eis os traços principais deste discurso: “terroristas” são terroristas, ou seja, as definições oficiais de terrorismo são as definições “naturais”, óbvias; o terrorismo nunca teve êxito; os terroristas são nossos inimigos e como tal devem ser tratados: a sua violência deve ser enfrentada com a nossa violência; tentar compreender o terrorismo para além deste quadro é ser cúmplice com ele” (idem, 2).

Raramente acontecem análises bem fundamentadas, onde uma reflexão jurídico-política sobre a natureza do que é o terrorismo é avançada como critério primeiro para a posterior utilização da definição. Conforme estabeleceu o próprio Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o país que se especializou em definir este termo, o terrorismo é:

“um tipo muito específico de violência, apesar de o termo ser usado para definir outros tipos de violência considerados inaceitáveis. Acções terroristas típicas incluem assassinatos, sequestros, explosões de bombas, matanças indiscriminadas, raptos, linchamentos. É uma estratégia política e não militar, e é levado a cabo por grupos que não são fortes o suficiente para efectuar ataques abertos, sendo utilizada em época de paz, conflito e guerra. A intenção mais comum do terrorismo é causar um estado de medo na população ou em sectores específicos da população, com o objectivo de provocar num inimigo (ou seu governo) uma mudança de comportamento" (3).

Outras definições clássicas avançam no mesmo sentido. Porém, uma linha atravessa todas essas versões: a ameaça à integridade da vida e da pessoa humana. Um acto terrorista é sempre uma violência contra a integridade e à vida das pessoas. Uma intimidação a partir de uma violência contra a pessoa humana.

No último no "Relatório sobre a Situação e Tendências do Terrorismo na União Europeia" (UE), publicado pelo Gabinete Europeu de Polícia (Europol), relativo a 2007, uma acção ambientalista contra a produção de alimentos geneticamente modificados (transgénicos), no Algarve português, em Fevereiro do ano passado, foi classificada como acção terrorista [ver notícia]. De facto, existe uma preocupação larga em difundir um conceito específico de terrorismo, o “terrorismo ecológico”, e isso não é novidade. Acontece que, segundo as definições acima apresentadas, a acção ecológica de Silves, em Portugal, não teve nada próximo a um acto terrorista, por não ter executado nenhum tipo de atentado e uso de violência física, e sim uma manifestação de carácter ideológico (ecológico) e político (contra monocultura agrícola monopolista). Ocorreu sim, a destruição de uma plantação agrícola e isso pode ser entendido como atentado violento contra a propriedade, não contra o proprietário ou grupo de pessoas. Foi, portanto, um acto civil que lesou uma propriedade civil e como tal, pode ser julgado. É, no mínimo ridícula a alegação de terrorista, descartada até mesmo pela avaliação do próprio agricultor afectado.

Enfim, independente dos contornos definitórios ainda em aberto, o termo terrorismo está cada vez mais sendo utilizado como meio de justificação de interesses hegemónicos, com o auxílio dos meios de comunicação comprometidos com tais interesses. Em geral, jamais é admitido a possibilidade de considerar como terrorismo o acto da manipulação biológica efectuado indiscriminadamente por grandes empresas de produção de sementes, os riscos e a ameaça para o ecossistema, nada disso é entendido como terrorismo, apesar de ser violência “imposta” a toda uma sociedade. Já a acção de resistência dos povos sim, que em qualquer teoria democrática legítima figura como um direito natural a ser respeitado, este sim, é transmutado numa violência inconcebível e inquestionável, pois viola o direito “naturalizado” da propriedade individual. Muitas críticas aqui poderiam ser feitas, mas apenas para terminar, ratifico minha opinião que, nas democracias ocidentais modernas, o povo tem o único direito reservado de “obedecer”, e quando isso não ocorre por meio da resistência, em seguida formula-se um meio de opressão. Na actualidade, o terrorismo justifica a opressão policial legítima. Dá o que pensar!


Notas:

(1) Entendo por “não-existência” todo processo que oculta realidades consideradas irrelevantes ou que são contrárias aos interesses hegemónicos. Na questão colonial, a produção de não-existências deu-se de forma deliberada e frequente, negando,ocultando e ignorando a existência do “outro”, do diferente, do subalterno como actores e factos dignos de serem considerados, reconhecidos e respeitados.
(2) SANTOS, Boaventura de Sousa. Terrorismo: dois discursos. Artigo de opinião publicado na Revista Visão, em 21/07/05, acedido em 13/04/2008, in: http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/135.php.
(3) Fonte: Wikipédia, acedido em 14/04/2008, in: http://pt.wikipedia.org/.

domingo, 13 de abril de 2008

O país que se considera o mais livre do mundo é o recordista em prisões (e prisões Negras)

É estarrecedor o dado de que a população de presidiários dos EUA chega a uma proporção de praticamente 1 a cada 100 habitantes. Segundo dados publicados pelo The New York Times, resultados de um estudo realizado pelo Pew Researcher Center, a população dentro das prisões cresceu em 25 mil no ano passado, criando um total de 1.6 milhão. Outras 723 mil pessoas estão em cadeias locais. O número de adultos americanos é de cerca de 230 milhões, ou seja, precisamente, um em cada 99,1 adultos está preso.

Os índices de prisão são ainda maiores para alguns grupos, reflectindo uma realidade que vai além da questão criminal, açambarcando um campo delicado para o "país das liberdades e da igualdade". Um em cada 36 hispânicos adultos (os imigrantes mais comuns nos EUA) está atrás das grades. Entre os homens, um em cada em cada nove negros entre 20 e 34 anos está preso.

O relatório, feito pelo Pew Center, também descobriu que apenas uma em cada 355 mulheres brancas entre 35 e 39 anos está presa, assim como uma em cada 100 negras também.

A metodologia do relatório se diferenciou do usado pelo departamento de Justiça, que calcula o índice de pessoas presas usando a população total ao invés da população adulta como denominador. Com a metodologia do departamento, cerca de um em cada 130 americanos está preso.

Esses números alarmantes são o resultado da guerra às drogas dos anos 80. Em 1988, uma pesquisa mostrou que dois terços dos americanos aceitavam abrir mão de parte de sua liberdade se fosse esse o preço da vitória contra o crime. De lá para cá a criminalidade caiu rapidamente. Em todo o país, os índices de criminalidade voltaram aos números dos anos 60. Mas, nem por isso a população carcerária tende a cair. Como o uso de drogas cresce entre os jovens, e com as penas de prisão obrigatórias para quem é pego com drogas, a a superlotação das cadeias está garantida.

Nos anos 80 acreditava-se que o Crack era uma epidemia que ameaçava o país. Entre 1985 e 1995, o número de negros presos por drogas cresceu 707% contra 306% entre os brancos. Segundo o departamento de Justiça, 8,3% dos jovens negros entre 25 e 29 anos estão na cadeia contra 0,8% de brancos da mesma faixa etária. O encarceramento dos jovens negros agrava o problema do desemprego crónico nos guetos. Dificilmente um jovem que passou alguns anos na cadeia consegue emprego.

Os negros são apenas 12% da população americana, mas representam 60% dos condenados por uso ou tráfico de drogas. O departamento de Justiça prevê que no ano que vem os negros presos serão 1,43 milhão, ou seja, 70% de toda a população carcerária. As penas de prisão para os negros são mais longas. Nos crimes de estupro, por exemplo, verificou-se que em média os presos negros cumprem penas de 70 meses contra 56 para os estupradores brancos. Por qual motivo objectivo? Por serem negros! Está na pele.

A guerra às drogas iniciada nos anos 80 multiplicou os presídios, mas não reduziu o uso das drogas. Da população acima de 12 anos, 33% já usou Cannabis, a droga mais popular. Entretanto, o consumo dessa droga nunca ultrapassou 0,5% da população. Agora os governantes reconhecem o fracasso dessa guerra e buscam novas alternativas. Mas o encarceramento maciço da população dos guetos continua e ameaça agravar os problemas sociais das grandes cidades americanas.

Esta não é uma questão que pode ser lida apenas pelo vies da criminalidade. Este factor serve apenas para justificar interesses escusos que nunca são claramente apresentados. A crescente privatização do sistema prisional americano faz com que interesses lobistas de empresários do sector não permitam que os Senadores Congressistas americanos aprovem leis mais brandas e políticas alternativas para o combate ao uso de drogas e a criminalização no país. Para estes, o inchamento dos presídios é sinal de lucro garantido, uma vez que o custo é pago pela população, através do governo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Mimo Pernambucano: A prova!


Outro dia postei neste blog um comentário intitulado “Mimo pernambucano” [ver post]. Falava de um tal “Bolo de rolo”, uma iguaria de doçura incomparável, simplesmente divino, tipicamente daquela região deste Brasil enorme e cheio de especificidades.

Falei do povo que não se cansa de oferecer mimos, que é receptivo, carinhoso, amável, zeloso... e, passado alguns dias, recebi hoje, pelo correio, a prova de que não estou a apenas falar por falar. Recebi uma caixa pelo correio, vinda directamente do Recife, cheia deste bolo de rolo. Um presente significativo e sem igual. A originalidade da surpresa diz mais do que o conteúdo, que por si só, dispensa qualquer comentário adicional.

Foi tão bom ver, no meio de tantas correspondências de trabalho, contas a pagar, extratos de banco, etc, um carinho tão especial como este, tornou-me o dia mais gostoso, mais doce. De facto, o amor transforma as coisas e o mundo. Na minha experiência de vida quotidiana, tenho sentido a transformação operada por estes pequenos e significativos "atos de amor".

Eu, de minha parte, como sou dengoso e adoro receber mimos, vou continuar a postar a minha série gastronómica e esperar ver se recebo também os acarajés da Bahia, os pasteizinhos de angu, de Minas Gerais, o strudel de Santa Catarina, etc...

É preciso prova maior que esta????

Obrigado pernambucanos maravilhosos, é desta cultura da partilha e do cuidado que o mundo necessita para superar esta decadente e desumana ordem capitalista.

Beijo no coração de todos vocês, em especial do Nilton e da Dona Luci.


terça-feira, 8 de abril de 2008

Malicious Software: hoje foi o dia do caçador!

[Há que se inventar um preservativo eficaz]

Hoje, passei o dia quase inteiro em função de dar manutenção ao meu computador. Apesar de todos os cuidados e dos conhecimentos que tenho, pois frequentemente estou a dar cursos para difundir a “Cartilha de Segurança para a Internet”, produzida por nós no Comité Gestor da Internet do Brasil, fui pego de sobressalto com a infecção do meu portátil com um malware.

Código malicioso, em português, ou malware (malicious software), em inglês, é um termo genérico que abrange todos os tipos de programas especificamente desenvolvidos para executar ações maliciosas em um computador. Alguns exemplos de malware são os vírus, os worms (vermes) e bots, os backdoors, os cavalos de tróia (trojans), os keyloggers e spywares, e, os rootkits.

No meu caso particular, o malware que infectou a máquina é conhecido por muitos nomes. O nome do ficheiro principal é wintems.exe e tem os "auxiliares" hidr.exe e srosa.sys (possivelmente outros mais). Ele também é chamado de Bagle, ou Beagle.

Este simples código, que entrou em meu computador por alguma vulnerabilidade de segurança que ainda não consegui identificar, pode roubar senhas e informações pessoais, desabilita quase todos os antivírus e anti-spywares e impede que o sistema reinicie em Modo Seguro. Ele infecta a máquina com 4 ou mais arquivos e causa uma dor de cabeça sem tamanho. Deixa a máquina super lenta, desconfigura a função wireless e uma série de outros estragos que vão se acumulando, até o ponto de não ser mais possível recuperar os ficheiros e sermos obrigados a reinstalar o sistema. Não, sem antes ter causado danos, inclusivamente, ao hardware, danificando clusters do HD. Não é à toa que é chamado no ciberespaço de “praga”.

Bom, como é um problema muitas vezes silencioso, e como a maioria dos usuários comuns não consegue detectar este tipo de problemas no início, resolvi partilhar a solução, uma vez que, como disse anteriormente, perdi quase um dia inteiro na tarefa complexa e morosa de tentar reparar a máquina, e quase ficava sem sucesso. Graças a cultura da partilha, da Internet, encontrei a solução num fórum em inglês, onde um colega espanhol apresenta um programa bastante leve, capaz de remover o malware sem a necessidade de maiores danos para a máquina.

Descrevo abaixo os passo a serem seguidos:

  1. Baixe o programa (em espanhol) chamado EliBagle (possui apenas 45 KB)
  2. Instale-o no HD (hard disc – disco rígido). Demora pouquíssimos segundos.
  3. Rode o programa e verifique os HD´s de sua máquina em busca de spywares. Pode ser que ele peça para reiniciar o sistema, dependendo do caso. Reinicie e deixe o programa escanear o HD.
  4. Reinstale os sistemas de segurança que foram avariados, o anti-vírus, o anti-spyware, o firewal. Você pode testar e verá que o sistema Windows voltará a funcionar em Modo Seguro.

Falando, falando, e tentando ser compreendido: continuando o diálogo

Abaixo, transcrevo a resposta que formulei ao amigo Nilton ao seu comentário do post "Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!"


Caro (professor) Nilton:

Concordo consigo em considerar um texto um evento comunicativo. Meu interesse pelo “texto” é o de utilizá-lo como dado para análises sociais de factos concretos. Procuro compreendê-lo dentro deste universo de produção, transmissão e registro de comunicações, com a finalidade de obter, no conjunto de um discurso (conteúdos e continentes) extremamentes diversificados, não só os significados, mas, sobretudo, os significantes de uma comunicação. Neste sentido, o meu interesse pelos textos é conseguir retirar as mensagens nesta conjunção de significados e significantes, procurando inseri-las num contexto social, como produto/produtora de acções (ou factos) sociais.

Para tanto, não me prendo essencialmente às preocupações específicas da lingüística enquanto interesse científico determinado. Utilizo a lingüística de modo transversal. Poderia dizer, utilizando a sua preferência epistemológica, que parto de uma abordagem de cunho transdisciplinar. Digo isso, porque muito mais do que realizar uma colaboração interdisciplinar de áreas de conhecimentos distintos, acabo por realizar uma coisa nova, uma nova disciplina, se bem desejarmos denominá-la. Se assim for, denominá-la-ia de “análise de conteúdo”, uma área de produção de estudos com certo acúmulo de produção e que hoje serve como ferramental metodológico para diferentes ciências que estudam campos sociais e suas interacções sociais baseadas na comunicação. Posso destacar, desde as ciências sociais, as ciências da comunicação, as ciências políticas, bem como determinadas áreas das ciências médicas, tais como a saúde colectiva, saúde pública, administração pública de saúde, etc., áreas da psicologia clínica e principalmente social, e, acredito que também o seu campo específico particular, o da Terapia Ocupacional, dentre muitas outras.

Tais disciplinas relacionadas com a linguagem, que me citas no teu texto, encontram-se presentes em meu trabalho, em determinados momentos, pois o conteúdo envolve, indirectamente, uma análise do discurso. Entretanto, não é a linguística em si, nem a lexicologia, nem a semântica, nem a análise do discurso que me interessam separadamente. Todos esses campos são importantes e estão presentes de alguma forma, utilizados como meios de atingir uma análise mais ampla, a que chamo de análise de conteúdo.

Neste sentido, quero apenas ratificar a distinção fundamental proposta pelo pai da linguística, F. Saussure, entre língua e fala, pois vejo que marca a diferença e torna minha explicação compreensível. Para este autor, o objecto da lingüística é a língua, ou seja, o aspecto colectivo e virtual da linguagem, enquanto que o da análise de conteúdo é a fala, isto é, o aspecto individual e actual (em acto) da linguagem. A linguística é um estudo da língua, a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades através das mensagens.

Trocando em miúdos e utilizando uma metáfora do próprio
Saussure, a do jogo de Xadrez, segundo ele, a linguística não procura saber o que significa uma parte, ao contrário, tenta descrever quais as regras que tornam possíveis qualquer parte. Nesse sentido, podemos dizer que, enquanto a linguística estabelece o manual do jogo da língua, a análise do conteúdo tem o objectivo de compreender os jogadores ou o ambiente do jogo num momento determinado, com o contributo das partes observáveis.

Ufaaaaa! Nossa, não contei as palavras das minhas frases. Será que ultrapassei demais as 15? Será que falei, falei, e não disse nada? Bom, isso é só um treino. "Quem não começa perdendo, não termina vencendo".

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Falam, falam e não se percebe nada... Palmo, neles!

A capacidade de memorização de um sujeito médio, é, aproximadamente de 15 palavras por frase, num escrito" (*1)

Hoje descobri o “palmo” (empan). É uma medida que determina a capacidade de um sujeito médio memorizar palavras lidas. Segundo os expertos no assunto, um sujeito médio (não especificam o que é esse sujeito médio) consegue memorizar, aproximadamente, 15 palavras por frase. Mais que isso, as ideias começam a ficar baralhadas e a concentração exigida é muito maior.

Por isso, os textos jornalísticos são laboriosamente cuidados para serem escritos de forma a não cansar o leitor, visando à objectividade da mensagem a ser transmitida. As mensagens publicitárias, também. Quanto mais curtos forem os períodos, melhores.

Parece ser uma coisa amplamente difundida no senso comum, um conhecimento que sabem todos. Só não sabem disso os intelectuais. Tenho tido de ler cada texto cansativo, prolixo, confuso. Quando comecei a ler Pierre Bourdieu, detestava-o, pois não o compreendia, perdia-me completamente na leitura. Quando terminava a frase, já não sabia o que a tinha iniciado. Por isso, criei certa resistência a este autor. Passado algum tempo, forçado a lê-lo por conta do curso, comecei a percebê-lo e a “gostar”. Então, passei a culpar a tradutora dos livros do francês para o português. Ao chegar a Portugal, e na ausência de livros traduzidos, tive de recorrer aos originais em francês. Então, percebi a dupla dificuldade. Não era nada por conta de tradução mal feita, era sim pela escrita mal urdida.

Oxalá, eu aprenda a escrever de forma clara e objectiva e que possa ser compreendido pelos meus leitores, sem vir a incorrer no erro da herança intelectual sociológica. Por isso, faço uso desse blogue, para poder treinar a escrita e receber as críticas dos leitores. Não são muitos os críticos, mas, de vez em quando aparecem.

(*1) In BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, p. 79.

domingo, 6 de abril de 2008

Construindo um hipertexto sobre Ciência e Modernidade

[Praia de Vigo, Espanha - Pôr do Sol 25/09/2004 - Foto by: Adalto Guesser]

Nos últimos dias tenho procurado refletir sobre um tema cada vez mais presente em minha vida. A Ciência, a Modernidade, e suas relações com o mundo das coisas e dos seres. Depois de ter aceitado voluntariamente e conscientemente que o mundo é constituído por seres humanos e não-humanos, cabe refletir sobre algumas questões. Não consigo formular, ainda (nem sei se um dia conseguirei), uma teoria capaz de dar sentido geral para tantas incertezas. Do que estou a ler e reler, proponho o hipertexto que se segue, feito pela junção de pensamentos racionais de homens de realidades e ocupações diferentes, cujo final, ..., ah, sim, o final... esse, fica em aberto, pois como digo frequentemente, quando não consigo explicações racionais para o mundo em que vivo, fujo para as artes, para a literatura, a música, os poemas, as cores, os sons.

Sciencia

Considerar a sciencia como valendo em si alguma cousa é fazer metaphysica.
A sciencia só vale humanamente, só como útil para a vida humana. Em si (por razões já expostas) não vale nada porque o conhecimento scientífico é puramente relativo[.]
(Fernando Pessoa [*1])

Ciência moderna

Os pressupostos metafísicos, os sistemas de crenças, os juízos de valor ão estão antes nem depois da explicação científicada natureza ou da sociedade. São partes integrantes dessa mesma explicação. A ciência moderna não é a únicaexplicação possível da realidade e não sequer qualquer razão científica para a considerar melhor que que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte ou da poesia. A razão por que privilegiamos hoje a forma de conhecimento assente na previsão e no controle dos fenômenos nada tem de científico. É um juízo de valor. A explicação científica dos fenômenos é a auto-justificação da ciência enquanto fenômeno central da nossa contemporaneidade. A ciência é, assim, autobiográfica. (Boaventura de Sousa Santos [*2])

Ruptura moderna

A ciência moderna nasceu de uma ruptura brutal em relação à antiga visão de mundo. Ela está fundamentada numa idéia, surpreendente e revolucionária para a época, de uma separação total entre o indivíduo conhecedor e a Realidade, tida como completamente independente do indivíduo que a observa. (Basarab Nicolescu [*3])

Universalidade da modernidade

A modernidade pertence a essa pequena família de teorias que simultaneamente se declara e se deseja de aplicabilidade universal. O que tem de novo a modernidade (ou a ideia de que a sua novidade é um novo tipo de novidade) decorre desta dualidade. para além de tudo o que criou, o projecto iluminista aspirou a criar pessoas que, post festum, viessem a querer ser modernas. Essa ideia que em si próprias se consuma e se justifica provocou muitas críticas e muita resistência, tanto na teoria, como na vida quotidiana. (Arjun Appadurai [*4])

Jamais fomos modernos

Posso agora escolher: ou acredito na Constituição moderna, ou então estudo quanto o que ela permite quanto o que proíbe, o que ela revela e o que esconde. Ou defendo o trabalho de purificação - e me torno também um purificador e um vigilante da Constituição - , ou então estudo tanto o trabalho de mediação quanto o de purificação, mas então, deixo de ser realmente moderno. (Bruno Latour [*5]).

E agora José, Maria, Boaventura, Latour, Adalto, ...

Et quid nunc, Ioseph?
Festum est finitum,
lumen est exstinctum,
cuncta evanuit turba,
nox est frigefacta,
et quid nunc, Ioseph?
et quid nunc, et tu?
Qui nomen non habes,
qui alios derides,
qui versus componis,
qui amas, reclamas?
et quid nunc, Ioseph?
(Carlos Drummond de Andrade [*6])

[*1] In LOPES, Teresa Rita. Pessoa Inédito. Lisboa: Livros Horizonte, 1993, p. 409.
[*2] In SANTOS, Boaventura de Sousa Santos. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1987, p. 52.
[*3] In NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdiciplicaridade. São Paulo: Triom, 2001, p. 17.
[*4] In APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da Globalização. Lisboa: Teorema, 1996, p. 11.
[*5] In LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2000, p. 50.
[+6] In BÉLKIOR, Silvia. Ioseph. Tradução para o latin de "José", poema de Carlos Drummond de Andrade, disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/drumml07.html, acedido em 06/04/08).

terça-feira, 25 de março de 2008

É mais fácil transformar uma lanhouse em escola do que transformar uma escola em escola


A frase da semana, que está dando o maior debate, foi destacada pelo amigo Sérgio Amadeu, proferida pelo Claudio Prado: "É mais fácil transformar uma lanhouse em escola do que transformar uma escola em escola".

O burburinho de corredor já se formou. De fato, não é uma realidade facilmente aceita por todos, basta lembrarmos de que muitos importantes nomes mundiais da atualidade ainda são bastante temerosos da Internet [veja comentário deste blog, publicado em 27/11/2007].

Eu, particularmente, sempre defendi o potencial emancipatório das redes, e, dentre todas elas, a rede das redes, a Internet. O ciberespaço possui todos os elementos para ser e para fazer-se escola. Não poderia ser diferente, se o virtual é o espelho recriado da sociedade real, torna-se imprescindível torná-lo conhecido, estudado e explorado. Para isso precisamos de infra-estrutura de redes, de tráfego de alta velocidade, de equipamentos modernos e de softwares com filosofias inclusivas, precisamos, em outras palavras, de “inclusão digital”.

É fácil? Não, é! É uma tarefa complexa e cara. Porém, como a primeira, esta segunda frase é simples, dura e plena de significado: “Se você acha a educação cara, experimente a ignorância” (Dereck Bok). Isso apenas para lembrar que, se desejamos justiça cognitiva e justiça social, temos de começar a nos mexer urgentemente no sentido de acelerar o processo de inclusão digital em nosso país. As ações do atual governo estão sendo inovadoras e audases, mas se não houver participação cidadã, poderão ser barradas nas burocracias legislativas, nas corrupções coorporativas, nas preguiças adminsitrativas de nossas escolas de modelo ultrapassado.
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Cada um de nós têm um pouco a fazer. Se alguém ainda não sabe por onde começar, mande-me um e-mail que não tardo em repassar um lista de iniciativas para se começar “ontem”.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Três caminhos, Moisés, Jesus e o Coelho. Existirá um próximo?


[P.S.: Sim, esta estrada existe... está em Portugal. Achou que poderia estar em outro lugar?]


Na América ocidentalizada, europeizada pela modernidade cristã católica, nos acostumamos a celebrar a Páscoa. Embora, hoje em dia a grande maioria das pessoas nem saiba exatamente o significado primeiro desta data milenar. Conhecem apenas o significado último, aquele empregado pelo capitalismo, pela sociedade de consumo e pelos enredos de Walt Disney, do Coelho e dos Ovos de Chocolate. Aliás, quanto mais ovos e chocolates, mais Páscoa. Nem sempre foi assim, e nem para todos é assim. Existe dois grandes agrupamentos civilizatórios que, por caminhos diferentes, celebram a Páscoa num sentido histórico-religioso. Um terceiro agrupamento, hoje globalizado e transnacional, comemora... sem sentido, mesmo. Os dois primeiros, de mesma estirpe, a tradição judaica, o terceiro, não tem estirpe nenhuma, tem apenas conta bancária. De fato, antes da ascensão da Páscoa como Comércio, apenas os Judeus e os Cristãos comemoravam esta data, marco simbólico de sustentação de toda a tradição que compreendem suas cosmologias.

A primeira tradição remonta a milhares de anos, narrada por um povo chamado Judeu. Para estes, a Páscoa simboliza a passagem da escravidão, para a terra prometida, para a libertação. É a história do povo hebreu, que andava torturado e explorado pelos egípcios, e saiu errante pelo deserto sob o comando de Moisés, em busca da terra prometida por seu Deus Único, Jahvé. É, sobretudo, uma história de convulsão social, de revolta, de um grande líder, Moisés. É a história da chegada na terra da liberdade e dos gozos ofertados pela divindade, depois de passadas as agruras do Mar-Vermelho, da fome e da sede no deserto, das provações nas montanhas. Passagem, portanto, de uma vida antiga, para uma vida nova.

A outra tradição é uma versão mais recente, tem apenas pouco menos de 2000 anos e é narrada pelos seguidores de Cristo. Para os Cristãos, a Páscoa também simboliza uma passagem. Reconceitualizado, o enredo agora não fala mais de uma passagem entre mundos neste plano, mas trata da relação deste, com o reino de Deus. Para os Cristãos, não mais de um Deus Único, mas de um Deus mistério, único, mas trino, composto de três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Páscoa marca a passagem da morte, para a vida, da ressurreição deste Deus, feito homem, na pessoa do Filho. É, também, a lembrança do fato histórico da morte do revolucionário homem, Jesus Cristo, um subversivo, agitador social, líder comunitário inconformado, agente político da oposição.

Mistérios, tradições, lembranças, marcos históricos. Seus rituais memorativos são repletos de sinais e símbolos. Tanto numa tradição, como na outra, o caminho para se chegar à Páscoa não é um caminho fácil. Uma fala de escravidão, de cordeiro imolado (pesah), de pães ázimos (matsah), de ervas amargas (maror), do deserto e do longo caminho para ser percorrido até a libertação. A outra, fala de prisões, de açoites, de traições, de cruz, de calvário, de abandonos e da morte, necessária para a ressurreição. A Páscoa, no ocidente ainda deveria ser sinal da passagem de uma realidade desgraçada, para uma plena da graça de Deus.

Mas, existe uma terceira narrativa, muito mais nova, doce e rentável. É uma tradição de pouco menos de 500 anos, surgiu depois da descoberta da América pelos europeus, do encontro com o cacau e da invenção do chocolate. É a narrativa do Coelho que esconde cestas de chocolates. Aqui, a Páscoa é bem mais agradável, compreende um esforço de suportar maratonas, às vezes tortuosas nos supermercados, na busca dos melhores produtos e preços, na ansiedade de vencer a espera da manhã do dia de domingo, de poder consumar a Páscoa. A recompensa é doce, gostosa, reconfortante. Nada de jejuns, ázimos, cruzes ou desertos, aqui temos Coelhos felpudos que falam e cantam, temos ovos de chocolate de todo tamanho, bacalhau e vinho importado, as amêndoas açucaradas, os caramelos de todos os formatos, os bombons com todos os recheios. E lucros! Claro, temos a passagem da baixa de vendas do natal, para o superávit da Páscoa. Esta é a Páscoa da tradição Capitalista contemporânea.

Em todas as três narrativas, tivemos a presença de uma figura de liderança carismática, Moisés, Jesus e o Coelho. Fico a pensar na velocidade de transformação da nossa imaginação social, na capacidade que temos hoje de criar enredos coletivos, de incitarmos massas para fazerem passagens, e fico curioso por saber quem será o novo líder da nova narrativa da Páscoa. Que rituais, reais, ou virtuais, eles nos apresentará para a sua memória? Que tipo de passagem deveremos fazer? Não sei, mas não me animo a pensar. Deixo para que o tempo escreva a sua história. Será que ainda farei parte dela?

quinta-feira, 20 de março de 2008

Mimo pernambucano


Não tem nada mais gosto que receber um mimo, e os pernambucanos têm uma coleção deles.

Um dos mais especiais é uma iguaria chamada "Bolo de Rolo", hummmm, tão bom!

Nada mais gostoso que tomar um café quentinho, bem forte, com uma fatia de bolo de rolo com recheio de goiabada. Super!!!!


Quando estive em Pernambuco, fartei-me de comer dessa delícia, não foi à toa que sai de lá com alguns quilinhos a mais. Acontece que tudo que é bom, é calórico, e esse, então...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Se um país se faz com homens e livros, o Brasil é feito de quê?

[Biblioteca Joanina, Universidade de Coimbra, Portugal]



Outro dia, ao ver uma reportagem sobre a comemoração dos 200 anos da vinda da família Real Portuguesa para o Brasil, com D. João VI, fiquei surpreso ao tomar conhecimento de alguns dados estatísiticos. Foi D. João quem trouxe a primeira biblioteca para este país e deixou-nos um grande legado cultural, mesmo depois de sua partida. A Biblioteca Nacional conta com um precioso acervo Real, que foi deixado em terra brasileiras como parte do acordo estabelecido entre Brasil e Portugal, na época da Independência. Isso, por si só, já bastaria para transferir ao Brasil uma vocação de povo leitor, com gosto pela leitura... mas, não é bem assim.
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Li uma reportagem publicada na “Tam nas Nuvens” (Revista de bordo da TAM), que dizia que no Brasil existem atualmente apenas 2008 livrarias, para uma população de 186 milhões de habitantes. Isso equivaleria dizer que cada livraria deve atender uma média de 90 mil brasileiros. Isso é um caos, se compararmos Paris, que sozinha tem 2000 livrarias, para uma população de pouco mais de 3 milhões. Ou do país vizinho, igualmente pobre, a Argentina. Só a Argentina, bem menor em território e em população (cinco vezes menos), tem metade das livrarias existentes no Brasil. Essa reportagem ainda cita dados da Câmara Brasileira do Livro que diz que no raio X do Amapá, segundo pesquisas recentes, aparecem apenas duas livrarias, e no Tocantins inteiro, apenas uma está registrada na capital, para servir (???) ao Estado inteiro.
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Decididamente, como cientista, professor, educador, formador, não consigo imaginar desenvolvimento pleno sem leitura, sem escrita, sem livros. O meio não é mais importante, pode ser meio físico, pode ser digital, é preciso escrever, e para escrever, é preciso ler... e ler muito. Outro dia escutei uma desculpa super furada de um preguiçoso a dizer que não tinha o hábito de ler livros, pois nasceu na era digital. Nascer, ele até pode ter nascido, mas será que de fato está incluído nesta era? Uma era onde o conhecimento é o elemento principal, onde as informações são essenciais, e onde a leitura é fundamental para ter acesso a esses conhecimentos e informações, ler faz-se imprescindível.
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Diz o ditado popular que um homem só se realiza plenamente quando faz três coisas: planta uma árvore, faz um filho (ou filha) e escreve um livro. Pensando assim, temos uma população de homens incompletos, pois pelos dados que temos, a média de leitura dos brasileiros alfabetizados é de 3 livros inteiros durante toda a vida. Ficou chocado? Pois, pasme, se contarmos toda a população e incluirmos ai todos os analfabetos, esse número cairá drasticamente.
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Lembro-me, também, de uma clássica frase de um importante escritor brasileiro que dizia que: “um país se faz com homens e livros”. Onde estão os livros do nosso país? Das duas uma, ou o Brasil não está se fazendo livros, ou não está se fazendo enquanto país. É triste, é lamentável essa constatação ao ver que este país é tão rico em cultura, em criatividade, em talentos. O imaginário social deste país é tão cheio de enredos, de personagens, de cenários... tudo isso poderia ser melhor explorado, valorizado, escrito e registrado para ser consumido aqui dentro, e lá fora.

O sentido da vida: onde está? quem o perdeu?


Ultimamente, devido ao meu trabalho de investigação, tenho andado muito entre jovens da classe média. Neste pequeno texto, quero me referir a um perfil de jovem, criado pelo imaginário social, identificando como tal os rapazes e moças de certa idade que varia entre os 18 e os 28 anos, com gostos e imaginários próprios e bem característicos de música, de vestimenta, de modos de agir, interagir, divertir-se e trabalhar.
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Estranhou-me, no Brasil, um país com tantas discrepâncias sociais, ver que uma chaga característica dos países ricos, também se encontra cada vez mais visível nessas terras. O uso de drogas entre jovens (e não tão jovens) não é nenhuma novidade por aqui, entretanto, assusta-me o uso de drogas não consideradas “drogas”. O Ecstasy, por exemplo, as famosas balinhas da doidera dos boyzinhos, já é bastante popular nas festinhas dos jovens da classe média. O maior perigo destas “balinhas” é justamente o fato de se disfarçar a sua natureza de lobo em pele de cordeiro.
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Segundo uma matéria publica na FolhaTeen de 18/02/2008, uma pesquisa realizada entre jovens usuários de Ecstasy demonstrou que os usuários não percebem os vendedores ou repassadores da droga como traficantes, mas sim, como amigos. De fato, os novos traficantes são os colegas de faculdade, da academia, da praia, da balada. O próprio termo “balada” foi reconceitualizado por esses jovens. Antigo sinônimo de noitada, balada agora significa literalmente alguns momentos sob o efeito alucinante da droga.
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Quando comecei a freqüentar algumas casas noturnas na Europa, fiquei assustado com o preço das bebidas nos bares. Numa danceteria, um destilado de 12 anos custa o equivalente a uma garrafa de água mineral. Não é o destilado que está barato, é a água que está inflacionada. É uma medida para reduzir o consumo de drogas como o Ecstasy que, geralmente é consumida com grande quantidade de água, dispensando o consumo de outras bebidas para dar o “barato” da noite.
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Uma pena... certamente, uma pena ver que jovens da classe média, estudantes de bons colégios, moradores de zonas nobres, proprietários de carros e de um padrão de vida que lhes permite quase tudo, afogar suas angustias e necessidades numa ilusão efêmera que a droga lhes proporciona por algum momento. Onde estão os sentidos que poderiam substituir essas falsas soluções? Onde se perderam? Quem os perdeu?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Série gastronômica.... Minas é bom, também!


Para não ser injusto com os mineiros, que me receberam tão bem e que também tem uma culinária exepcional. Não dá pra deixar de lembrar o Frango com Quiabo, o Pastelzinho de Angú com Queijo, o Tutu à Mineira, a Galinha ao Molho Pardo (Cabidela)... tudo isso regado com aquela cachacinha de cana pra abrir o apetite, nosaaaa.
aiiiii, e o pãozinho de queijo, quentiiiiinhoooooo!
É bom demais, sô!

E o ACARAJÉ!!! Hummmmmmm


Oxê, menino! Achas que eu não ia comer, não?

Fiz questão de fartar-me de comer acarajé. Fui experimentar os melhores acarajés da Bahia. O da Cira, e o da Dinha, ambos no Rio Vermelho.

Não tem nem comparação! É bom, demais...

Ai que saudades eu tenho da Bahia...

Bahia de todos os Santos, axê, sagrado e profano, o baiano é... CARNAVAL.

mas a Bahia não é só carnaval. É um misto de cores, de raças, de criatividade, de sucesso, de beleza, de trabalho, de vida.
É impressionante passar pelas ruas de Salvador e ver essa mistura gostosa, sincrética. O povo aqui tem a cor do sol! Tem a vitalidade do sol, a força, o calor...
Gostei muito de ter conhecido Salvador, a São Salvador do Axê e do Acarajé. E do Software Livre, também. Por que, não?! Aqui a luta pelo Software Livre é grande. Grandes nomes do movimento são baianos, a começar pelo Gil, o Ministro Gilberto Gil, um dos mais fortes promotores do Software Livre no Brasil. Viva Gil!
Seguem algumas fotos que me fazem repetir o poeta: "Ai que saudades eu tenho da Bahia..."




segunda-feira, 10 de março de 2008

Pensei que fosse o céu!

[Praia de Calhetas, PE]



Vander Lee e sua incomparável poesia... diz tudo!


Basta adicionar a imagem de um lugar real, que os sentimentos são expressos nos versos do poema deste magnífico mineiro.
Bem, o fato e o cenário eu vivi... faltavam-me as palavras. Eles emprestoume-as.


Veja se não é verdade!

(...) Estava ali, me confundi
Pensei que fosse o céu
O azul do mar me chamou
E eu pulei de roupa e de chapéu
A onda veio e me levou
Desse lugar e agora eu sou
Uma ilusão, a solidão é meu troféu
Aquela foto amarelou
O riso no meu camarim
Felicidade bate a porta e ainda ri de mim (...)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Coimbra made in Brazil

Coimbra????? Não! Ouro Preto, Minas Gerais.

Um pedacinho esculpido e talhado de Portugal.


Passeando por essas ruas estreitas, por estes sobes e desce de ladeiras intermináveis, por esta arquitetura lusitana, por este povo tão familiar, as vezes sentimos que estamos a caminhar na "alta de Coimbra", nas vielas da Sé Velha, embatendo-se a cada esquina com uma nova igreja.

Foi possível matar um pouquinho da saudade de Portugal... que já é muita. Completamente, só daqui a um mês. Até lá, vou redescobrindo Portugal pela herança deixada um pouco por todo lado na terra brasilis.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Notícias das terras de Cabral: Nascem as Escolas Livres


Depois de muito tempo a postar notícias em informações do Brasil, fiquei envergonhado de não dar nenhuma boa-nova de Portugal, onde tenho tantos leitores. Ai segue uma maravilhosa.


Nasceu, neste mês de fevereiro (11), o Projeto Escolas Livres, com o apoio da ANSOL (Associação Nacional para o Software Livre, em Portugal), a Associação Diogo Azambuja, sediada em Montemor-o-Velho (região Centro) que coincide com a sede social do projeto; e a Associação Cultural Audiência Zero que ajudou no processo de constituição.


Com um comunicado à imprensa, nasceu a Associação Ensino Livre, cujas finalidades é promover a utilização de software livre e a produção de conteúdos livres nos processos de aprendizagem, nomeadamente ao nível do sistema de ensino.


São iniciativas a serem desenvolvidas pelo projeto:


1) a divulgação de software livre e conteúdos livres junto dos agentes de ensino;
ações pedagógicas junto de professores e alunos;


2) o aconselhamento sobre software livre e conteúdos livres junto dos agentes de ensino;


3) 0 desenvolvimento e suporte a software livre, especialmente de vocação educacional;


4) a manutenção e promoção de pontos de reunião da comunidade de software livre;


5) a organização de conferências nacionais e internacionais sobre a temática do software e conteúdos livres, nomeadamente de vertente educativa;

This is São Paulo: the chaos creative!

Esta é, talvez, a imagem que mais traduz São Paulo. O trânsito sempre intenso na camplexa malha viária é espelho da agitação desta cidade que não para, 24x24 horas.

Sem comentários... é uma cidade em rede, conectada por todo o lado com o mundo, seja fisica, seja virtualmente.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Jon Maddog Hall - Um cão poderoso, mas nem tal mal assim!


Hoje, o Campus Party, recebeu a visita e palestra de um dos principais personagens mundiais da tecnologia da informação, importante disseminador do código aberto que, junto com Linus Torvalds, comanda a Linux International. É uma das figuras mais respeitadas nas comunidades de desenvolvedores, tendo uma relação de admiração mútua com a comunidade do Software Livre do Brasil. Maddog já visitou o Brasil inúmeras vezes em diversas oportunidades e é considerado um dos papas do Software Livre, aclamado pelos seus milhares de seguidores como uma respeitosíssima personalidade. Dono de uma simplicidade incrível, uma aparencia de "papai-noel", desfilou pelos corredores do Campus, conversando com os campuseiros e tirando fotos com todos que desejaram.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Modding: Dando personalidade à máquina

O modding é uma área de modelagem de equipamentos, parecidas com os famosos tunning de carro. O procedimento de dar forma ao equipamento inserindo a ele formas e detalhes que podem personaliza-lo, torná-lo mais funcional, adaptável, prático, ou simplesmente, mais bonito.

No Campus Party existe uma galera inteira a trabalhar na "turbinação" de suas máquinas. É um ritual de montagem e desmontagem de equipamentos e de composição de outros. Assim também nascem os robozinhos. De uma infinidade de parafusos, fios, conectores, luzinhas, chips, resistores, etc.

Dentro da programação do evento, está rolando alguns concursos para premiar os aparelhos mais criativos. Também existem cursos para os interessados em aprender a arte do bricolage tecnológico. Um deles é o curso para criar um LCD próprio.

Abaixo, algumas fotos da turma da reciclagem.

A Campus Party cheira a pipoca!

Fato curioso: o maior evento de internet e tecnologia da América Latina, tem um cheiro bastante característico, um forte odor de "pipoca de microondas". A organização do evento ofereceu para cada "campuseiro" (3.000 inscritos) um pacote de pipocas juntamente com o material de publicidade e brindes entregues em uma mochila verde-limão.


Existe um espaço com uma dezena de fornos de microondas à disposição dos participantes, ao lado de uma confortável sala com almofadas e telões com desenho animado para que os cansados possam relaxar. E na falta de um pacotinho, existe um ponto de compra para as próximas boquinhas.


Resultado: Um forte cheiro de entrada de cinema que permeia toda a área do campus.

Nada aqui segue padrões convencionais, tudo está adaptado ao universo do campuseiros, cores, formas de preparo, músicas, etc.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Quer dançar com o Quasi: Let's go, move it!

Inclusão Digital brasileira: laptops a $ 100


O governo federal está promovendo a produção dos laptops de $100 (cem dólares). Para quem nunca viu e está morrendo de curisosidades para ver como seria uma pecinha dessas, seguem duas fotos dos últimos protótipos em estudo.

Eu testei e aprovei! Além de funcionais, são bonitos, pequenos e leves. As crianças poderão transportar facilmente de um lado para outro, sem os pais se preocuparem com peso e tamanho do equipamento. Apesar de pequenos, possuem tudo que é basicamente necessário num laptop comum.

Quem dera que toda criança na escola receba um computador como esse. E o melhor, vem com os programas do sistema operacional, suite de escritório (editor, planilha e apresentação) e navegador de internet e leitor de e-mail, tudo com software livre. A intenção do governo é, também, oferecer conexão de internet para que as crianças possam estar conectadas ao ciberespaço. Dá-le Brasil!

Hora da bóia: campuseiro também precisa comer


Uma nota de referência precisa ser feita: a organização do Campus Party está de parabéns com relação aos serviços prestados à comunidade campuseira. Tanto nas questões mais simples, como a limpeza, parte técnica, alojamentos, quanto na parte fundamental de alimentação. O self-service, apesar de simples, é muito bem preparado e apresentado. Nada de filas, nada de racionamento. Comida à vontade e sem problemas.

Robótica: Humano & Não-Humano (ou 1/2 humano)

Um dos setores mais concorridos do Campus Party Brasil 2008 é o da robótica.

A sensação do evento é o humanóide Quasi, esse robozinho da foto abaixo. Ele conversa com os participantes, aperta a mão, dança, agita a galera. Na opinião dos mais entendidos em robótica, ele é super poderoso; na opinião dos mais leigos e das crianças, em geral a expressão é quase sempre a mesma, encantamento, como o do depoimento técnico de uma amiga da alta tecnologia: Ai, que fofo!




Aqui pode-se experimentar de tudo. Falar com humanóides, assistir campeonatos de futebol de robôs, fazer curso de montagem e programação em robótica, participar de concursos e ganhar prêmios, etc.


É uma visão do futuro que já não está tão distante. Dentro em pouco, estaremos vivenciando realidades profetizadas no clássico filme Blade Runner. Um mundo misto, permeado de humanóides, máquinas, robôs, realidades virtuais, e também, de HUMANOS.

Inclusão Digital: Para que todos possam estar conectados!


Uma das inovações do Campus Party Brasil 2008 é a questão da preocupação com a inclusão digital.

Num país com tantas discrepâncias, onde pode-se encontrar o maior número relativo de pessoas conectadas à Internet, e ao mesmo tempo, uma população completamente excluída desse universo, o evento vem permeado de atividades, estudos, trocas de experiências e propostas para efetivar uma maior inclusão digital. O Principal evento é o Seminário Nacional de Inclusão Digital, realizado simultâneamente na programação do evento.

Jogos: realidade e virtualidade

Para os amantes de jogos, o Campus Party oferece um espaço inigualável. Aqui pode-se encontrar o que há de mais avançado em tecnologia nesta área. Além da vantagem que você pode testar, experimentar, copiar, comprar, trocar, jogar, etc.

Este é um jogo interativo, onde o jogador utiliza o próprio corpo para lutar com seres virtuais. Basta estar numa arena repleta de sensores de movimento que faz um escaneamento completo do seu corpo. Cada movimento é captado e transferido para o mundo virtual. A imagem do jogador aparece num telão, misturada com a dos seres virtuais mais variados. É um espetáculo para quem joga e quem assite. Simplesmente, mega-ultra-power!


Este é um simulador de vôo, utilizado pela aeronáutica para treinamento dos pilotos. Serve também como um gostoso jogo, onde pode-se experimentar a emoção de um combate aéreo, sendo o protagonista de comando da aeronave. Inluindo óculos tridimensionais, a experiência é a de estar, de fato, dentro de um jato de guerra, sobrevoando vales, montanhas e cidades. O mais empolgante é estar em rede com outros jogadores e poder formar as esquadras de defesa que lutarão contra inimigos virtuais. Show de bola!


Este é para os aficcionados por velocidade, um carro de corrida bastate realistico, cheio de controladores, com acelerador, direção, câmbio de marcha, etc. O "para-brisa" é um monitor gigante que transporta o jogador para uma realidade virtual/real. O carro faz movimentos de curvas e tem um sistema de ar que simula o vento no rosto do jogador. Só não tem a parte ruim da história. A sensação dos trágicos acidentes, o que pode levar a alguns adeptos deste jogo confundirem a virtualidade com a realidade e acelerarem mais que o permitido com seus simples carros no dia-a-dia.



Estes são os mais comuns e que permeiam grande parte do pavilhão. os jogos em rede. Aproveitando a alta-velocidade e a gratuidade da Internet no Campus Party, centenas de jogadores estão conectados em jogos partilhados, second life, etc. É um mundo místico cheio de cores, de velocidade e de iamginação. Aqui tudo pode acontecer.

Tecnologia, paixão e criatividade


Para os aficcionados por tecnologia, as máquinas fazem parte do cotidiano, compreendendo um universo comum que dá forma ao misto de realidade e virtualidade. O mundo de um apaixonado por informática, ou da tecnociência, é composto de elementos humanos e não-humanos, como teorizado por Bruno Latour.



Conforme expressão desse universo múltiplo, os equipamentos tomam formas variadas, extrapolando os tradicionais formatos quadrados e funcionais, adquirindo formas ousadas, personalizadas consoante a personalidade e os gostos particulares de cada um.


Como diria o meu sobrinho mais novo: É cada máquina irada, brother!