
Para o historiador e filósofo Enrique Dussel, Bento XVI “encabeça
uma corrente de restauração conservadora, e restaurar é voltar atrás”. Concordo plenamente!
Corro o risco, com esse comentário de ser auto (???) excomungado ao condenar uma decisão do Sumo Pontífice, que por tradição canônica, é sempre infalível e irrecusável. Se você acredita piamente na Santa doutrina Católica e teme o fogo do inferno e a condenação eterna, aconselho parar a leitura por aqui e procurar um padre para se confessar e pedir remissão da curiosidade que lhe assombra em não poder continuar a leitura do texto. Eu, de minha parte, como sou rebelde como Chico d’Assis (só na rebeldia que me assemelho, não na santidade, nem na loucura), vou escrever na mesma. Se ninguém ler a minha indignação, ao menos servirá para mim como desabafo daquilo que não posso mudar. De outra feita, se por ventura isso valer a minha condenação pela hierarquia humana, tenho certeza que não o será pela hierarquia divina. Por isso, faço na mesma!
Não são poucas as novas (ou velhas) decisões desse novo Papa que me tem assombrado, mas algumas em especial. Essa preocupação papal de reavivar uma antiga sombra da liturgia das missas permitindo rezá-las em latim com a Summorum Pontificum sobre o Motu Proprio, deixou-me um tanto perplexo. De fato, segundo o direito canônico, as missas em latim nunca foram proibidas, tanto que a mais famosa e midiática missa anual, a “do Galo”, retransmitida televisivamente para todo o mundo, ano após ano, segue-se no bom latim papal como um bonito espetáculo. Mas até aí, vá lá... o latim é a língua oficial do Estado católico, a celebração ocorre em solo vaticano e nada mais natural que seja pronunciada na sua língua oficial. De mais a mais, é sempre traduzida em simultâneo para os idiomas dos países de onde se retransmite, podendo o fiel inteirar-se das cantorias, leituras e orações. Mas dizer missa em latim no cotidiano dos países dispersos pelo mundo parece-me dar umas boas passadas para trás, um retrocesso dos grandes.
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Isso, eu sei, depende do ponto de vista. Para os reformadores e simpatizantes do Concílio Vaticano II tenho certeza que é um mergulho no passado despropositado e quase incompreensível. Afinal, foram anos de luta para fazer uma aproximação do povo à liturgia e à doutrina católica, todo um trabalho que estaria ameaçado pelo retorno de uma tradição descompassada. Não é difícil compreender que o grande salto qualitativo que o Vaticano II proporcionou foi a introdução dos fiéis comuns tanto na preparação e orientação espiritual (catequese), quanto das celebrações litúrgicas, coisa que antes era reservada a poucos iniciados, padres e prelados da Igreja.
Isso, eu sei, depende do ponto de vista. Para os reformadores e simpatizantes do Concílio Vaticano II tenho certeza que é um mergulho no passado despropositado e quase incompreensível. Afinal, foram anos de luta para fazer uma aproximação do povo à liturgia e à doutrina católica, todo um trabalho que estaria ameaçado pelo retorno de uma tradição descompassada. Não é difícil compreender que o grande salto qualitativo que o Vaticano II proporcionou foi a introdução dos fiéis comuns tanto na preparação e orientação espiritual (catequese), quanto das celebrações litúrgicas, coisa que antes era reservada a poucos iniciados, padres e prelados da Igreja.
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No Brasil, a orientação em preferir a língua local para as missas foi tão facilmente aceita que imediatamente após o término do Concílio os novos missais já começaram a ser impressos. A CNBB aprovou, com autorização eclesiástica maior, a feitura, anos mais tarde, de novas fórmulas eucarísticas, intensificando ainda mais a participação popular com responsos durante a oração eucarística, coisa insólita ainda no restante do mundo. Sem falar nos padres cantores e missas show, que atualmente parecem ter virado moda nesse país de sincretismos e do carnaval; facilmente os novos "cristian pop star" substituíram os hinos clássicos baseados no gregoriano por verdadeiros espetáculos de rock e sambas enredos, com direito a coreografias estilizadas e tudo mais. Vai ser um desastre conseguir motivar o povo brasileiro, que mal sabe falar e decifrar o português culto a compreender o “Dominum vobiscum” sonolento, principalmente se for numa tarde quente de verão. Uma pena, pois nunca a vida paroquial experimentou tanta movimentação com a possibilidade dos leigos atuarem nas mais diferentes frentes, das catequeses aos rituais, como ministros de sacramentos, pregadores, agentes de pastorais, etc.
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Mas, nem todo mundo pensa assim, e a principal e mais forte hierarquia do mundo, a Igreja Católica Apostólica Romana, uma das poucas que assume publicamente sem temor de represálias e interdições, não ser democrática, gosta mesmo é de lidar com a fé ignorante. Eu diria que é por ser mais fácil de manipular a massa, outros apelariam para o discurso da simplicidade de coração (para mim, baboseira que rima com pecado original). Fato é que, até posso apostar, muitos irão se levantar na campanha do “latim, já!”. De fato, só no México já existem duas catedrais diocesanas com missas diárias em latim. Na Europa, acredito eu, elas nunca desapareceram por completo, mas eram espécies de raridades culturais presentes em um mosteiro aqui, um santuário acolá. Quiçá agora voltem a se proliferar, afinal a acústica da maioria dos templos foi projetada para ressoar o timbre oscilante do gregoriano.
Mas, nem todo mundo pensa assim, e a principal e mais forte hierarquia do mundo, a Igreja Católica Apostólica Romana, uma das poucas que assume publicamente sem temor de represálias e interdições, não ser democrática, gosta mesmo é de lidar com a fé ignorante. Eu diria que é por ser mais fácil de manipular a massa, outros apelariam para o discurso da simplicidade de coração (para mim, baboseira que rima com pecado original). Fato é que, até posso apostar, muitos irão se levantar na campanha do “latim, já!”. De fato, só no México já existem duas catedrais diocesanas com missas diárias em latim. Na Europa, acredito eu, elas nunca desapareceram por completo, mas eram espécies de raridades culturais presentes em um mosteiro aqui, um santuário acolá. Quiçá agora voltem a se proliferar, afinal a acústica da maioria dos templos foi projetada para ressoar o timbre oscilante do gregoriano.
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Aqui no Brasil, durante minhas visitas, cada vez mais curtas, tenho assistido principalmente pela televisão, que um grupo nostálgico de radicais têm conseguido um espaço perdido durante anos. Na terra brasilis, onde crescem diariamente as ordes de seguidores dos padres Haroldo Joseph Rahm e Eduardo Dougherty, da RCC (Renovação carismática Católica), de outros da sua versão mais moderna, impelidos pelo Padre Jonas Abib, da Canção Nova, dos discípulos legionários de Plinio Corrêa de Oliveira, da TFP (Tradição, Família e Propriedade), dos radicais seguidores de Jose Maria Escrivá, da Opus Dei e tantos outros saudosistas do período pré-Concílio Vaticano II, vai ser fácil propagar a disseminação dos cultos clássicos em latim. Parece que as atitudes retrógradas do novo Papa têm sido imitadas e propagandeadas. Outro dia li um comentário de defesa a uma crítica que sofreu Bento XVI pelo fato de rezar algumas de suas missas diárias, na Capela Sistina, utilizando a posição Ad Orietem, ou seja, não olhando para a assembléia e sim para a cruz na parede de fundo do altar Mor (de costas para a o povo). Inicialmente criticado por uma agência de notícia, como sendo uma atitude insólita do pontífice, imediatamente uma enxurrada de artigos abundaram a Internet com defesas calorosas, muito bem fundamentadas por juristas entendidos do Direito Canônico, que provaram por A mais B que não existe nenhuma proibição de se rezar a missa Ad Orietem, apenas existe uma recomendação doutrinária que pode, ou não, ser seguida. Até ai, tudo bem, se é permitido, não é proibido. Ninguém pode condenar o Papa pelo fato, aliás, jamais alguém poderia, ele é infalível em seus atos. Recentemente, também, li um artigo intitulado "L'esercito oscuro delle tenebre" (o exército escuro das trevas), publicado no Site Petrus, sobre a importância de se ter em cada diocese um grupo de exorcistas. Há quem defenda a existência de pelo menos uma dezenas desses prelados especializados em mandar o Dêmo para as profundezas do inferno, onde é o seu lugar.
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Eu que pensei que o catolicismo já tinha revisto determinados temas e que já os tinha superado como pertencentes a uma época e a uma cosmologia. Essas coisas ainda combinam numa época pós-moderna? Qual o propósito dessas restaurações conservadoras? A onde quer chegar a Igreja com tais "revives" retrós? Que prepotência ocidentalocêntrica ainda mantém essa instituição? Será que a próxima surpresa será o ressurgimento das Cruzadas? Ou da Inquisição? Estas são perguntas para a qual não tenho resposta. Resta-me apenas a perplexidade (novamente). Entretanto, condivido da opinião de Dussel, como descrevi na epígrafe, e tudo isso cheira-me a retrocesso!
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