sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Sopa de letrinhas e "Open Document Format Alliance"

No início da revolução informática, mais precisamente na década de 1960, alguns estudiosos mais otimistas apostavam na substituição gradual do uso de papel (matéria física) pelo conteúdo digital (matéria virtual). Esta profecia, que parece bastante racional, acabou por não se concretizar na prática, pois os meios de impressão foram facilitados e a falta de confiança nos meios virtuais não permitia que a substituição fosse completa. Neste segundo caso, além dos arquivos digitais, é regra, ainda nos dias de hoje, manter um arquivo físico (de papel) como segurança.
É sobre esta questão da segurança que quero falar hoje. Uma das razões para as empresas e órgãos do governo (principalmente eles) ter medo de manter apenas arquivos digitais é a vulnerabilidade dos sistemas em que os documentos são produzidos e pela inacessibilidade da maioria deles em poder adaptar tais sistemas consoantes seus interesses e necessidades. Isso porque a maioria utiliza software proprietário, com código-fonte fechado, sem a possibilidade de adaptar os sistemas sem a autorização expressa da empresa fornecedora, mesmo que em alguns casos existam cláusulas contratuais que garantam que a empresa detentora do código tenha de efetuar este procedimento. Entretanto, neste último caso, se não for necessário um embate judicial para garantir o cumprimento desta cláusula, no mínimo o interessado teria de pagar para a empresa realizar o serviço, pagando o que ela pedir e sem ter a liberdade de optar escolher uma concorrente com melhor oferta.
Todo tem assistido anualmente uma atualização freqüente dos sistemas operativos e dos pacotes de aplicativos que nele funcionam. Muitos já se debateram com a inoportuna tarefa de tentar abrir um documento que foi feito num sistema anterior e ter a formatação toda baralhada, ou abrir um documento produzido num sistema operacional “X” num outro sistema operacional, e abrir uma imensidão de números e caracteres desconexos e sem formatação nenhuma. Foi por este motivo que se criou a Open Document Format Alliance, uma organização plural, internacional, que luta, segundo seus objetivos para “(...) educar os elaboradores de políticas, administradores de TI e o público em geral sobre os benefícios e oportunidades do Open Document Format, visando garantir que as informações, registros e documentos governamentais sejam acessíveis através de diversas plataformas e aplicativos, mesmo quando a tecnologia se altera hoje e no futuro”. (Fonte: http://www.br.odfalliance.org/). E seguem com a seguinte explicação: “Conforme os documentos e serviços têm, de forma crescente, se transformado de papel para um formato eletrônico, surge o problema de que os governos e seus constituintes podem não ser capazes de acessar, recuperar e utilizar registros críticos, informações e documentos no futuro. Para permitir ao setor público um maior controle e o gerenciamento direto de seus próprios registros, informações e documentos, a ODF Alliance busca promover e expandir a utilização do Open Document Format (ODF)” (Fonte: Idem).
A Alliance foi lançada em 3 de Março de 2006 com mais de 36 membros de diversos países (veja a lista de membros por regiões). A filiação é aberta a todas as organizações que estiverem comprometidas com os objetivos da Alliance. Atualmente este número aumentou muito e já se contam nas centenas de membros espalhados nos cinco continentes. O Brasil já tem 29 empresas privadas e instituições públicas e não-governamentais como membros do projeto e a trabalhar na produção e discussão e promoção do ODF. Portugal tem 16.
Esta é uma iniciativa que me parece legítima, que deve ser apoiada, divulgada e promovida, principalmente nas esferas governamentais, públicas, universidades, etc., onde os conteúdos e conhecimentos devem estar disponíveis hoje e amanhã, e não podem estar à mercê da boa vontade (se é que existe) de mega corporações que só visam interesses econômicos.

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