Esta tela é a minha preferida. Não tenho muitas, mas essa me toca em especial.
Hoje repousa sobre uma parede de um quarto da velha Coimbra, longe das galerias dos artistas, encerrada num quarto comum, de um cidadão comum. Talvez porque a verdadeira arte realiza-se assim, naturalmente e individualmente. Lembro-me de alguns textos que li dos autores da Escola de Frankfurt sobre a instrumentalização da arte, da técnica, etc. Não gosto da idéia de uma arte instrumentalizada por isso prefiro a idéia de deixá-la repousar sossegada e incólume longe dos holofotes mercadorizantes. A pessoa que adormece todos os dias a olhar para ela não sabe quase nada sobre ela, nem quem a pintou, nem tampouco que o seu título é "Olhares". A assinatura do autor é completamente desconhecida do círculo crítico de arte local e o proprietário não sabe nada de arte plástica, apens gostou do colorido da tela. O nome nasceu assim, como nascem quase todas as minhas inspirações artísticas. Ocorrem sempre depois de alguma coisa que me marcou profundamente. Neste caso, deu-se depois da aula inaugural do programa de doutoramento que hoje curso, onde se falou muito em olhares, olhar do colonizador, do colonizado, dos enganos produzidos entre um e outro etc. e das confusões que se criaram por causa desses enganos... isso ficou-me na cabeça, tanto que batizei esse momento de inspiração com esse nome no plural.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Olhares!
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