quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Difícil falar com pingüins sobre Pingüins!
Hoje tive um dia mergulhado na douta ignorância daqueles que sabem muito de algo, e muito pouco de tudo. Foi mais uma das muitas experiências que tenho feito diariamente na minha empreitada de fazer sociologia da técnica, da ciência e do conhecimento tecnocientífico. Estive numa reunião com “professores doutores engenheiros” da mítica academia conimbrissense. Foi uma reunião difícil, pois falar de pingüins para pingüins é algo presumivelmente complicado, principalmente quando os pingüins não sabem exatamente o que é ser Pingüim, mas mesmo assim tem orgulho em o sê-lo e acreditam saber tudo sobre eles – os pingüins.
A primeira dificuldade, uma barreira quase intransponível, ou, um fosso abissal para parafrasear o meu guru, foi a de tentar demonstrar que o conhecimento do mundo é muito mais do que o conhecimento científico do mundo. Era como querer provar que água é vinho, ou que a terra é redonda (ou seria oval???). Antes mesmo do meio da reunião já não conseguia saber se estava imerso num universo eurocêntrico, ocidentalocêntrico, egocêntrico ou esquizofrênico. Mas resisti bravamente a toda sorte de ataques, tomava como uma prévia do que me espera na “Sala da Santa inquisição”, atualmente designada de “Sala dos Capelos” (antes fosse a “Sala dos Caramelos”, como denomina uma menina moçambicana que conheço). Aqui, gastei dois terços da reunião, que inicialmente, e por iniciativa “deles”, seria dividida em 3 partes de igual tempo e conteúdo. E eu que pensei que seria eu o interveniente principal da reunião, que seria eu a fazer perguntas e receber respostas... oh, doce ilusão que nos criam nas aulas de metodologia!!!!
A segunda dificuldade, e conseqüentemente herdeira desta primeira mais geral, foi a de tentar demonstrar que eu, um não pingüim, podia estudar os pingüins. Ai que foram elas... mais um terço da reunião a tentar convencê-los que o que eu faço não é produção literária, nem jornalística, nem alquimia. Sim, foi inclusivamente nomeado “alquimista” por um deles. Mas não pensem que fiquei ofendido, ao contrário, fiquei foi orgulhoso, pois convencer aquelas cabeças doutas era quase tão impossível quanto transformar pedra em ouro. Embora eu acredite que isso seja possível, portanto, não desisti, mais uma vez.Como a reunião fora programada para três atos, e as questões acima tomaram todo o tempo de palco, fiquei eu, mais uma vez, com todas as minhas questões por responder e a minha pesquisa por fazer. Quem sabe na próxima reunião de três partes, todas iguais em tempo (mas não em conteúdo), consiga salvar uma terça parte para falar deles, os pingüins, e consiga colher alguma coisa para o meu trabalho alquímico-jornalístico-literário. Infelizmente, não foi desta vez!
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1 comentário:
Cuidado que os teus pinguins fogem todos de ti. É mesmo assim, a incursão no terreno é sempre difícil. Tens de não esmorecer. Começa assim, fica pior depois.
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