domingo, 20 de janeiro de 2008

Como nasce um poema? Quem escreve poemas?

Estou a ler um livro que, como toda obra literária, não contém apenas histórias de ficção, mas também, uma boa soma de realidade recriada. O enredo da trama, de fato, está baseado em uma ampla investigação séria sobre a vida e o contexto em que viveu uma das personalidades mais conhecidas do Ocidente: São Francisco, o poverello d´Assis! A obra, “A conspiração franciscana”, publicada pela editora Sextante (2007), da pena de John Sack, um literato americano de Ohio, formado em língua inglesa pela Universidade de Yale.

Quando da seleção do livro para compra, chamou-me a atenção e despertou-me o interesse o fato de já ter conhecimento do autor por outras veredas literárias. Ele, como eu, percorre caminhos não uniformes do Conhecimento, separados pela academia tradicional em áreas específicas que não se comunicam. Ele, como eu, procura juntar, conciliar estas áreas dissociadas do Saber, tornando menor a distancia que as desconecta. Ele, um literato que escreve livros técnicos de informática; eu, um sociólogo da técnica e da tecnologia, e pretenso poeta.

Entretanto, não foi a biografia múltipla do autor que me motivou a escrever este post, e sim uma das tantas passagens de um de seus livros que me saltou aos olhos; talvez por dividir com ele a mesma relação com a poesia e com a literatura. Trata-se de um diálogo simples, mas como tudo que é simples na vida, repleto de verdades e sabedorias. Para não me alongar no hipertexto, transcrevo ipsis litteris a parte, que fala por si. De bônus, segue na continuação um poema meu... um pouco de exemplo concreto do tema em questão. Absorva a essência do diálogo e veja se isso não é um belo tratado de literatura informal. Uma aula que raras vezes conseguimos nos bancos universitários.

“ – Não Enrico – garantiu –, um poema não exprime apenas sentimentos; fala de experiência. Para criar uma única linha, o poeta precisa visitar cidades, conversar com muitas pessoas. Deve reproduzir as vozes dos animais, pairar nas alturas com os pássaros e acompanhar os menores movimentos de um botão se abrindo em flor. Tem de viajar de volta no tempo rumo a caminhos estrangeiros e encontros inesperados para sofrer as doenças da infância (...)” (pg. 96)

(...)

“ O poeta deve sentar-se ao lado do moribundo, perto da janela aberta, para ouvir o choro dos que estão lá fora e a respiração agonizante dentro do quarto. E, por último, deve permitir que essas recordações se desvaneçam e depois esperar com grande paciência que elas retornem.

– É dessas recordações que nascem os versos? – pergunta Enrico.

– Não, filho. Ainda não. Não até que se transforme, através do próprio sangue e da carne do poeta, em pensamentos sem nome, que ele é incapaz de distinguir dentro de si mesmo. Então, no mais puro e raro dos momentos, o poeta consegue destilar deles a palavra de abertura de um verso. (...)” (pg. 97)


Bônus de hoje:

Queria
(Adalto Guesser)

Queria sentir-te, amor.
Sentir o teu cheiro
Teu beijo, calor.
Queria sentir-te, amor.

Não só num momento
Num sonho a perder
Mas sim face-a-face
Com olhos-nos-olhos
Bem junto de mim.

E tocar,
E sentir,
E viver,
E calar...

Queria sentir-me, amor.
Sentir-me maduro, seguro
Sem medo ou receio,
queria ser teu.

E tocar,
E sentir,
E viver,
E calar...

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