domingo, 18 de novembro de 2007

Perplexidades!!!

No mundo que vivo atualmente, encerrado em uma redoma de um escritório, diante de um computador que me permite olhar o mundo inteiro (????) através de uma janela virtual, a fazer sociologia da técnica e da tecnologia, o direito e as teorias macro-sócio-econômicas me servem de baliza para não escorregar na fluidez da concretude do real. No meu mundo ultra-especializado, o virtual se confunde com o real, e eu, idem. Às vezes, fico tão imerso no meu recorte da realidade, absorto pelas metanarrativas explicativas em que me apoio, que me esqueço de abrir uma outra janela, aquela do meu escritório, e olhar para o lado de fora, ver o mundo de verdade, das pessoas, dos impulsos, dos gostos, dos desejos, dos sentidos, das raivas, das ações e reações.
Causou-me tanta incomodação ler a notícia do bárbaro assassinato de um garoto de 12 anos, em Santa Maria, município de GO, a 26 km do DF, que calhou-me por acaso através de um e-mail que recebi de um amigo de além-mar, que por dias não consegui deixar de pensar que é para este mundo que vou voltar dentro de alguns dias. Segundo relato desta grande fonte jornalística, uma das mais confiáveis que conheço, o caso tem mais ou menos essa narrativa (que não é meta, é particular). O autor do crime é o próprio meio-irmão da vítima, de 17 anos, que simulou o seqüestro do menino e pretendia extorquir R$ 45 mil do pai para fugir da família com a meia-irmã, de 13 anos, com quem mantinha um caso amoroso, há quase um ano. O rapaz, caçula da família, que sonhava ser jogador de futebol, foi estrangulado pelo meio-irmão com um fio de náilon, em um matagal. Tão simples quanto isso. Enredo típico de todos os finais de noite no seriado CSI. Já deveria estar acostumado. Mas não estou!
Poderíamos nos perguntar o que teria motivado um “homem” chegar a tal ponto de tirar a vida de outro, por tão pouco. Mas as perguntas não são bem essas. As perguntas, obviamente, são porque uma “criança” de 12 anos foi morta, por outra de 17, por uma ninharia de dinheiro, envolvendo outra criança de 13 anos (a tal meia-irmã)? Que confusão de sentimentos se entrelaçam nesses mundos privados de nossas sociedades, que fazem esses “meio-irmãos” se quererem e valerem tão pouco? Por qual motivo adolescentes reproduzem práticas hediondas como estas com a maior naturalidade? Por que sonhos de uns são interrompidos para realizar sonhos de outros tomando como moeda a vida? Vale a pena viver numa sociedade onde nem os valores mais elementares dos laços familiares, onde a célula básica de convivência é assim tratada, como se fosse um campo de guerra de todos contra todos? O que fazemos nós, juristas, sociólogos, economistas com uma sociedade como esta? Falta o que? (Deus seria a resposta?????). Se arrisco dar esse palpite, me expulsam da academia. É tanta complexidade que como sociolólogo deveria estar mais ou menos acostumado e ter meia dúzia de hipóteses explicativas. Porém, só uma arriscaria, aquela que me expulsaria da sacro-sancta ciência. Respostas não existem no comércio, nem nas prateleiras ilustradas das bibliotecas universitárias, precisam ser fabricadas nos escritórios e gabinetes iguais aos meus (Oh, my God!). Pra já, não acredito que alguém as tenha de pronto. Perplexidades sobram.

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